O terraço da Casa dos Narcisos vai de Conímbriga até ao Oriente
Arquitecto paisagista galego abre programa de instalações no Jardim Botânico da Universidade de Coimbra.
As linhas desenhadas pelo arquitecto paisagista Jesús Moraime no chão do Jardim Botânico da Universidade Coimbra (JBUC) remetem para formas que podem ser encontradas não muito longe dali. A composição de vasos com cinco espécies de plantas instalada no terraço da Casa dos Narcisos procura mimetizar o efeito dos antigos jardins romanos de Conímbriga, apesar de lhe subtrair e substituir alguns dos elementos.
A instalação do arquitecto paisagista galego abre ao público esta quarta-feira, mas é apenas a primeira de três intervenções projectadas para aquele espaço ao longo do mês de Abril, no âmbito da Semana Cultural da Universidade de Coimbra.
Jesus Moraime explica ao PÚBLICO que a ideia inicial era jogar com o nome da casa e fazer a instalação com narcisos. Um plano frustrado pelo calendário. A apresentação da instalação acontece este mês e os narcisos florescem entre Janeiro e Fevereiro.
A opção acabou por recair num grupo de cinco espécies, cada uma ligada ao conceito definido por Moraime. De Conímbriga ao Oriente, o malmequer-africano, a diosma, o rosmaninho, a erva-caril e o amor-perfeito servem como referências aos romanos, ao mediterrâneo e à história marítima portuguesa.
Apesar de o traçado ser semelhante aos jardins da época romana, falta-lhe a água, um elemento aqui sinalizado pela diferença de cores do saibro no solo. A dimensão dos vasos também conta, criando “um ritmo, uma música no jardim”, descreve.
Sobre a Casa dos Narcisos, a história que nos chegou acrescenta pouco ao nome. “Não há muita informação sobre este espaço”, apesar de aparecer “sempre marcado nas cartas do jardim”, explica António Gouveia, director do Jardim Botânico. Não se sabe o propósito inicial nem a data de construção da pequena estrutura. Isto “apesar de ter ligações com outros espaços do jardim” e da cidade. Por exemplo, a semelhança arquitectónica com os torreões da entrada do Jardim da Sereia é perceptível.
A sua utilização tem sido variada. Mas o terraço era usado como “campo de culturas experimentais”, onde se testava o cruzamento de narcisos, “mas também estudos ao nível dos cromossomas”. Mais recentemente esteve coberto e deu abrigo a algumas plantas que saíram da Estufa Grande enquanto esta estava a ser recuperada.
António Gouveia sublinha a importância da "ideia de ter artistas a pensar o jardim e a fazer as intervenções”. A instalação de Moraime resultou do labor de cerca de 10 dias, o mesmo tempo que levará a residência da designer de moda e artista plástica Lara Torres, que irá desenvolver trabalho em “performance e/ou vídeo” sobre plantas e a sua relação com o vestuários. A apresentação pública é no próximo dia 12.
Segue-se a artista plástica Claire de Santa Coloma, que ligará a casa ao jardim através de esculturas com a madeira como base. A intervenção da artista a quem foi recentemente atribuído o Prémio Novos Artistas Fundação EDP é apresentada a 27 de Abril.
As instalações não têm data prevista para encerrar. Desta forma, abre-se mais um percurso no jardim. A Casa dos Narcisos não estava acessível ao público e a sua abertura permite também fazer a ligação entre o quadrado central e o percurso pedonal que liga da Alta à Baixa da cidade através da Mata do Botânico.