Conselho de Veteranos volta atrás. Queima não vai ter garraiada
90% dos participantes no Conselho de Veteranos votaram pela abolição do evento tauromáquico.
O processo de decisão deu mais voltas do que o inicialmente previsto, mas agora é oficial: não vai haver garraiada na Queima das Fitas de Coimbra. A deliberação foi confirmada na noite desta segunda-feira em Conselho de Veteranos, o mesmo órgão que a 21 de Março tinha decidido no sentido inverso ao voto dos estudantes da Universidade de Coimbra (UC) em referendo.
Pouco depois das 22h terminou o encontro de ponto único da estrutura que regula a tradição na academia de Coimbra. Nele, 90% dos 76 veteranos presentes decidiram acabar com a garraiada, depois de 70,7% dos 5638 dos estudantes da UC que votaram terem apontado nesse sentido no referendo de 13 de Março. A ida às urnas tinha carácter consultivo e precisaria ainda da luz verde do CV.
O dux veteranorum, João Luís Jesus, declarou ao PÚBLICO que a proposta levada ao CV desta noite “foi exactamente a mesma” que a que foi votada no CV de 21 de Março. Esse encontro teve a participação de 27 “veteranos”, sendo que a maioria decidiu manter a garraiada na festa académica. 14 estudantes votaram a favor da manutenção do evento tauromáquico que todos os anos se realizava na Figueira da Foz. 11 votaram contra e dois abstiveram-se.
No entanto, foi o próprio dux que declarou esse CV nulo. “Após esta reunião foi-me participado que pelo menos um dos elementos que participou na acesa discussão que ocorreu no passado dia 21 e que participou na votação não auferia de uma posição na Hierarquia Praxística que tal lhe permitisse”, justificou então.
A decisão desta segunda-feira produz efeito imediato. “Daqui para a frente, o evento garraiada desaparece da Queima das Fitas”, refere João Luís Jesus, que classifica a votação pela abolição como “esmagadora”.
Ana Cláudia Bordalo, do movimento Queima das Farpas, congratula-se com a decisão do CV: “É o culminar de todo o processo. Foi a confirmação da vontade expressa pelos estudantes no referendo”.
A activista do movimento que nasceu em 2015 com o propósito exclusivo de abolir a tauromaquia na queima de Coimbra refere que, com este acto, o objectivo do movimento está cumprido.
A reversão de decisão do referendo deu origem a reacções. A própria direcção-geral da AAC garantiu que iria defender a “vontade democrática dos estudantes” da UC “até às últimas consequências”. Isto já depois de um grupo de 118 ex-dirigentes associativos e de antigos corpos gerentes de faculdades da UC terem redigido um documento em que exigiam respeito pelo resultado do referendo.
A abolição das garraiadas nas festas académicas tem-se verificado de Norte a Sul do país. Depois do Porto em 2016, agora é a vez de Coimbra. Na próxima terça-feira, 2 de Abril, os estudantes da Universidade de Évora votam em Assembleia Magna se querem continuar com o evento tauromáquico na sua semana académica.