Guterres pede "investigação transparente" a protestos mortais em Gaza

Cerca de 1500 feridos, segundo o lado palestiniano, e pelo menos 16 mortos, no primeiro dia da Marcha do Retorno, um protesto que deverá durar até 15 de Maio.

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O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, manifestou-se “profundamente preocupado” com os confrontos na Faixa de Gaza e pede “uma investigação independente e transparente a estes incidentes.”

A posição de Guterres, divulgada na página oficial da ONU, solicita “a todos os envolvidos que se abstenham de qualquer acto que possa causar mais vítimas, em particular quaisquer medidas que possam colocar civis em risco.”

O líder da ONU acredita que “esta tragédia sublinha a necessidade de revitalizar o processo de paz, com o objectivo de criar condições para um regresso das negociações que vão permitir que palestinianos e israelitas vivam lado a lado em paz e segurança.”

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Na mesma nota, António Guterres volta a afirmar que “a ONU está pronta para ajudar nestes esforços.”

O Conselho de Segurança da ONU reuniu-se de emergência na sexta-feira para analisar o tema, a pedido do Kuwait. O secretário-geral assistente de Assuntos Políticos,Tayé-Brook Zerihoun, alertou na reunião que “a situação pode se deteriorar nos próximos dias”. Zerihoun defendeu ainda que “Israel deve cumprir as suas responsabilidades segundo a lei internacional humanitária e de direitos humanos” e que “a força letal deve apenas ser usada como último recurso.”

March 31, 2018/ The Secretary-General is deeply concerned about the clashes at the Gaza fence today between Palestinians participating in the “Great Return March” & Israeli Security Forces:https://t.co/W4L5Eb8wtN">https://t.co/W4L5Eb8wtN">

A luta entre milhares de palestinianos na fronteira e os soldados israelitas degenerou na sexta-feira em confrontos com consequências mortais, as mais gravosas dos últimos anos. Dezenas de milhares de palestinianos, incluindo mulheres e crianças, convergiram para a barreira que separa a Faixa de Gaza de Israel, num movimento baptizado como a Marcha do Retorno, organizada pelo Hamas, o movimento fundamentalista islâmico da Palestina. Acabaram por se envolver em confrontos com os soldados israelitas que se saldam em pelo menos 16 mortos – um dos quais tinha 16 anos. Foi o dia mais sangrento desde 2014, quando o Hamas e Israel se envolveram num conflito em que ambos os lados foram acusados de cometerem crimes de guerra.

O protesto deve durar seis semanas (47 dias) e destina-se a exigir o “direito de retorno” dos refugiados palestinianos e denunciar o estrito bloqueio de Gaza. O Hamas, que controla a Faixa de Gaza, pretendia iniciar um período de mobilização contra o bloqueio a que Israel impõe há mais de uma década àquela região palestiniana. A mobilização durará até 15 de Maio, dia em que se assinala a Naqba (o dia em que 750 mil palestinianos foram deslocados das suas terras, em 1948, durante o conflito que levou à criação do Estado de Israel). Um dia antes, a 14 de Maio, Israel irá comemorar, por seu lado, os 70 anos da sua fundação. Na mesma data, os EUA vão abrir a embaixada que Donald Trump prometeu para Jerusalém, depois de reconhecer esta cidade como a capital de Israel.

Na sexta-feira, os confrontos ao longo da vedação provocaram pelo menos 750 feridos, disse o Ministério da Saúde da Palestina, citado pela agência Associated Press. O número de feridos foi, depois, revisto em alta, para 1500.

Cerca de 17 mil pessoas, segundo algumas agências internacionais (30.000 segundo outras), concentraram-se junto de pontos da fronteira de Gaza com Israel. As forças israelitas, que também destacaram blindados para a zona fronteiriça, utilizaram munições reais contra os manifestantes que tentavam ultrapassar as barreiras de segurança.

O exército israelita afirmou que utilizou balas reais depois de os manifestantes palestinianos terem lançado pedras e bombas incendiárias em direcção aos soldados israelitas. O exército informou também que atacou três posições do Hamas, com tanques e aviões, na sequência dos ataques contra a fronteira, que incluíram disparos do lado palestiniano por parte de duas pessoas, que foram mortas.

Uma porta-voz do Exército israelita, citado pela agência Efe, disse que os suspeitos “se aproximaram da cerca de segurança e dispararam contra as tropas do Exército” e que, como resposta, os soldados dispararam “contra os terroristas” e também contra “três posições perto do Hamas”. Israel não reportou vítimas nem danos materiais.