Conselho de Segurança analisa extrema violência em Gaza
Exército israelita fez pelo menos 16 mortos na resposta ao início da Marcha do Retorno, que deveria durar seis semanas, e colidir com abertura da embaixada dos EUA em Jerusalém. O Conselho de Segurança da ONU reúne-se de urgência esta sexta-feira à noite.
O exército israelita matou pelo menos 16 palestinianos e deixou 1400 feridos ao reprimir protestos na Faixa de Gaza. Uma dos mortos tinha 16 anos. Tudo começou quando tanques israelitas mataram um agricultor, que estaria a colher salsa, horas antes do início de um protesto de seis semanas organizado pelo Hamas junto à fronteira com Israel. O Conselho de Segurança da ONU marcou uma reunião urgente para a noite desta sexta-feira. A reunião foi pedida pelo Kuwait e vai decorrer à porta fechada e está marcada para as 18h30 em Nova Iorque (23h30 em Lisboa).
Foi o dia mais sangrento em Gaza desde o conflito de 2014 do Hamas com Israel - em que ambas as partes foram acusadas de crimes de guerra. Tropas israelitas mobilizaram tanques e uma centena de atiradores furtivos para controlar a multidão de palestinianos que acorreu à fronteira com Israel para participar na Marcha do Retorno.
Com esta marcha, o Hamas, o movimento islamista que controla a Faixa de Gaza, pretendia iniciar um período de mobilização contra o bloqueio a que há mais de uma década Israel sujeita esta região palestiniana que duraria até 15 de Maio. Nesse dia, assinala-se a Naqba (o dia em que 750 mil palestinianos foram deslocados das suas terras, em 1948, durante o conflito que levou à criação do Estado de Israel).
Os descendentes de grande parte dos que foram obrigados a partir fazem parte dos milhões que vivem hoje em Gaza, uma zona costeira bloqueada por Israel, onde grassa o desemprego e a falta de perspectivas de futuro. Os esforços de reconciliação entre o Hamas, que controla Gaza, e a Fatah de Mahmoud Abbas, na Cisjordânia, falharam no início do mês - sinal disso foi o atentado contra a comitiva do primeiro-ministro da Autoridade Palestiniana.
"Quero dizer ao mundo que a causa dos nossos avós não está morta", disse à Associated Press Asmaa al-Katari, uma estudante de história que estava a participar nos protestos, descendente de refugiados palestinianos que viveram em tendas quando foram obrigados a fugir do que é hoje o sul do deserto de Negev, em Israel.
A 14 de Maio, Israel comemora os 70 anos da sua fundação e abre a embaixada dos EUA que Donald Trump prometeu para Jerusalém, depois de reconhecer esta cidade como a capital de Israel.
O Ministério da Saúde de Gaza e testemunhas dizem que o agricultor Omar Samour, de 27 anos, foi atingido por tiros de tanque enquanto apanhava salsa num campo, informa a BBC. O exército israelita confirmou o disparo, após o que foi considerado "actividade suspeita" perto de uma cerca de segurança.
O exército israelita declarou a zona junto à fronteira uma área militar fechada. De acordo com as forças armadas israelitas cerca de 30 mil palestinianos juntam-se em cinco locais diferentes ao longo dos 65 km de fronteira, diz o jornal hebraico Ha'aretz. O Jerusalem Post diz que 1416 pessoas ficaram feridas, a maioria por balas de borracha e gás lacrimogéneo. Algumas foram atingidas por munições reais.?
Cem snipers
O exército israelita (IDF) adoptou uma atitude agressiva face aos protestos, que deixaram de ser pacíficos, como tinha sido previamente anunciado pelo Hamas. "Milhares de palestinianos concentram-se em cinco núcleos ao longo da fronteira. Lançaram fogo a pneus e estão a atirar pedras contra a cerca e às tropas israelitas. As forças estão a responder com medidas de dispersão de motins e a disparar contra os 'líderes do protesto'", diz um comunicado do exército, divulgado no Twitter.
Os militares avisam os habitantes de Gaza que estarão em perigo se se aproximarem da cerca de segurança na fronteira. Acusam o Hamas de estar a "brincar" com a vida dos cidadãos palestinianos que vivem naquela zona.
Na mesma linha, e no Twitter, na conta oficial do exército, o general Eyal Zamir avisou o Hamas: "Estamos a identificar tentativas de levar a cabo ataques terroristas sob o disfarce de motins. Apelamos aos habitantes de Gaza para que se mantenham afastados e lançamos um aviso à organização terrorista Hamas". Exemplos desses ataques incluem colocar cargas explosivas na cerca de segurança, explica o site do jornal Yedioth Ahronoth.
Explosivos na cerca
O exército divulgou um vídeo de uma das várias tentativas de incursão que diz estarem a ocorrer. Os militares responderam com tiros de tanque contra os "terroristas".
A organização de defesa dos direitos humanos B’Tselem denunciava, já na quinta-feira, esta atitude ofensiva israelita: "Antes dos protestos israelitas que começam sexta-feira, responsáveis israelitas ameaçaram repetidamente responder com força letal". As manifestações, dizia a B’Tselem, foram apresentadas como "um risco de segurança, os manifestantes enquadrados como terroristas e Gaza designada como 'zona de combate'".
Vários grupos árabes-israelitas de direitos humanos, como o Adalah e o Meretz, questionaram ainda a legalidade do uso de munições reais contra os manifestantes palestinianos.
Vários líderes do Hamas estão presentes nos diferentes locais protestos, incentivando os manifestantes, relata o site Yedioth Ahronoth. O líder político do grupo islamista que controla Gaza, Ismail Haniyeh, que estava a Leste da Cidade de Gaza, salientou o objectivo da marcha que se inicia nesta sexta-feira: "É o princípio do regresso [do povo palestiniano] a toda a terra da Palestina".