Os neurónios não se formam ao longo de toda a vida

Resultados de amostras cerebrais contrariam a ideia de que os neurónios vão sempre surgindo nos seres humanos.

Foto
Um neurónio Sara Parker/UA

Uma equipa de cientistas sugere num novo estudo divulgado esta quinta-feira na revista Nature que o processo de formação de novos neurónios no cérebro (neurogénese) diminui durante a infância e é indetectável em adultos, contrariando a tese de que ocorre ao longo de toda a vida.

No estudo, a equipa científica analisou 59 amostras de tecido cerebral de uma região específica, o hipocampo, considerado essencial para a aprendizagem e a memória e no qual os especialistas têm procurado indícios de que novos neurónios (células cerebrais) continuam a nascer ao longo da vida.

Segundo a investigação, o nascimento de novos neurónios no hipocampo humano cai na infância e a neurogénese em adultos, observada em aves e roedores, aparentemente não ocorre em pessoas, assinala em comunicado a Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, que lidera o trabalho.

“Se a neurogénese é tão rara que não podemos detectá-la [nos adultos], poderá estar realmente a desempenhar um papel importante na plasticidade ou na aprendizagem e memória no hipocampo?”, pergunta um dos co-autores do artigo científico, Shawn Sorrels, citado pela universidade.

No estudo, que levanta novas questões sobre o funcionamento do cérebro humano, foram analisadas 37 amostras de tecido do hipocampo de cadáveres e 22 amostras de tecido da mesma região cerebral removidas cirurgicamente de doentes com epilepsia. As amostras de tecido são de recém-nascidos, crianças, jovens e adultos.

Os investigadores estudaram alterações no número de neurónios “recém-nascidos” e de células estaminais neuronais (que dão origem a neurónios), desde antes do nascimento até à fase adulta, usando uma variedade de anticorpos para identificar células de diferentes tipos e estados de maturidade. Foi também analisada a forma e a estrutura das células.

A equipa constatou que a neurogénese abundava no desenvolvimento pré-natal do cérebro e em recém-nascidos, ao observar uma média de 1618 neurónios “jovens” por milímetro quadrado de tecido cerebral no momento do nascimento. Contudo, o número de células recém-nascidas cai significativamente nas amostras de tecido cerebral obtidas durante os primeiros anos de vida: o número de novos neurónios numa criança de dois anos era cinco vezes menor do que o verificado em recém-nascidos.

Os cientistas sustentam que o declínio do processo de formação de novos neurónios no cérebro continua na infância, com o número de novas células a diminuir 23 vezes entre um e os sete anos de idade e mais 15 vezes aos 13 anos, idade em que os neurónios parecem ser mais maduros do que os observados nas amostras de cérebros ainda mais jovens.

Os autores do estudo constataram também que havia apenas 2,4 novos neurónios por milímetro quadrado de tecido do hipocampo no começo da adolescência, não tendo encontrado vestígios de neurónios recém-formados em nenhuma das amostras de tecido cerebral de cadáveres de jovens de 17 anos ou das amostras de tecido extraídas cirurgicamente de 12 doentes adultos com epilepsia.

Ao centrarem-se nas células estaminais neuronais, descobriram que são abundantes durante o desenvolvimento cerebral pré-natal, mas já extremamente raras no início da infância.