Rio fez o corte com o PSD de Passos e foi geracional
A direcção do PSD tem hoje uma média de idades que ronda os 55,5 anos. Com Passos, andava na casa dos 49,5.
Às vezes perco-me com tarefas minuciosas que deixariam qualquer jornalista entediado. Somar valores de contratos ou ajustes directos, procurar nomeações no Diário da República, ir ler o que disseram os deputados em debates importantes dos anos 90, ver as suas faltas e os requerimentos que entregaram numa sessão legislativa ou comparar, um a um, os elementos das direcções dos partidos para ver se a equipa de Pedro Passos Coelho era mais ou menos jovem que a de Rui Rio. Esse foi um dos trabalhos que me ocupou recentemente.
Nome a nome, idade a idade, fiz as contas aos vogais, aos vice-presidentes e aos secretários-gerais de um e de outro líder para chegar a uma conclusão que me pareceu óbvia desde o primeiro momento, mas que não conseguiria quantificar se não tivesse sido minuciosa na contabilidade: a direcção do PSD tem hoje uma média de idades que ronda os 55,5 anos, enquanto a anterior andava pelos 49,5. Seis anos certos de diferença.
O corte feito por Rui Rio não foi só na liderança da bancada parlamentar (saiu Hugo Soares, poucos dias antes de completar os 35 anos, e entrou Fernando Negrão, com 62) ou no Conselho de Jurisdição (onde José Nunes Liberato, de 66, substituiu Calvão da Silva, apenas oito meses mais novo). Não, o corte foi geracional. As duas únicas pessoas da direcção escolhida por Passos que transitaram para a de Rio foram António Topa e Ofélia Ramos (o primeiro era o mais velho da equipa anterior e é um dos mais velhos da actual).
Ficaram fora do meu cálculo os secretários-gerais adjuntos, os membros de comissões como a de auditoria financeira ou o director do Povo Livre. Contei apenas o círculo mais restrito dos líderes e os próprios líderes: Passos com 53 anos e Rio com 60 (a diferença de sete anos entre eles é ligeiramente superior à das médias das idades do grupo).
O elemento mais jovem da equipa de Pedro Passos Coelho era uma mulher. Joana Barata Lopes, de 32 anos, era vogal da direcção e é deputada. Havia outra sub-40 na equipa: Francisca Almeida, 34 anos, ex-deputada, era também vogal.
Na direcção de Rio, o mais novo é André Coelho Lima, de 43 anos, que foi o candidato do partido à Câmara Municipal de Guimarães e é vogal. Segue-se Salvador Malheiro, vice-presidente e autarca em Ovar, com 45 Anos. Não há ninguém na casa dos 30. A ideia de Rio para renovar o PSD não tem relação nenhuma com a idade dos intervenientes.
Em 2011, Passos deu posse a um dos governos mais jovens de sempre. Só não era o mais jovem porque a média de idades dos seus ministros (47 anos) era a mesma da do primeiro governo de Cavaco Silva, em 1985.
Outra diferença entre as duas equipas mais restritas do líder é que Rui Rio tem cinco mulheres entre os nove vogais, os seis vice-presidentes, o secretário-geral e ele próprio (17 elementos) e Passos Coelho tinha oito mulheres numa equipa de 18 pessoas — só vice-presidentes eram quatro mulheres em seis.
Pedro Santana Lopes era, de facto, o herdeiro das pessoas de Pedro Passos Coelho. Isso ficou demonstrado na campanha e vê-se agora em pequenos detalhes como estes. Mas o facto de a maior parte dos passistas se terem convertido em santanistas não significa que Rui Rio não tenha herdado nada de Passos. Muito pelo contrário. Os temas que o novo líder atirou para a mesa dos entendimentos com o PS e o Governo e os que queria ter atirado, como a Segurança Social, são temas em que Passos vinha pedindo consensos (obras públicas, fundos estruturais, descentralização). Algumas conversas até já tinham acontecido, inclusivamente com troca de documentação.
A ideia de Rui Rio para renovar o PSD não tem nada a ver com a idade dos intervenientes, nem com os temas que colocou na agenda. Haverá, talvez, uma enorme excepção: a justiça. Quem diria que era por aí que o novo PSD ia assumir a sua identidade?