Presidente de empresa que vai comprar seguros do Montepio investigado por crime económico

Empresa chinesa CEFC tem em cima da mesa investimentos relacionados com Portugal. Com a Gulbenkian negoceia a compra da Partex.

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Reuters/Aizhu Chen

O presidente do conglomerado chinês CEFC Energy Company Limited, Ye Jianming, que negoceia a entrada do grupo no capital da holding Montepio Seguros e a compra da posição da Fundação Gulbenkian na petrolífera Partex, está a ser investigado por suspeitas da prática de crimes económicos, avança a agência Reuters a partir de Pequim.

Ye Jianming terá sido chamado pelas autoridades para ser inquirido, contou à Reuters uma fonte anónima, sem no entanto explicitar quais são as autoridades envolvidas. Segundo o Financial Times, a informação de que o fundador da empresa foi detido poderá tornar mais difícil a conclusão de um negócio em que a CEFC se prepara para assumir uma posição de 14,6% na petrolífera russa Rosneft por 9100 milhões de dólares.

Em reacção à investigação, o porta-voz da empresa de petróleo e gás, Mikhail Leontyev, disse à Reuters que o grupo nada tem a ver com a investigação, considerando que “seria estúpido comentar a informação” com a qual foi confrontado pela agência de notícias. Na bolsa de Shenzhen, as acções da subsidiária CEFC Anhui International Holding apresentaram uma queda significativa na sessão desta quinta-feira, recuando 4,5%.

O gigante chinês sediado em Xangai foi fundado por Ye Jianming em 2002. Começou na área da energia e teve um crescimento rápido, assumindo posições em áreas de negócio que hoje vão da produção de gás e petróleo ao sector financeiro, passando pela logística. Com a trajectória ascendente de investimentos, atingiu 43,7 mil milhões de dólares de receitas em 2016. No perfil que traçava do CEFC, o jornal South China Morning Post, de Hong Kong, referia como a estratégia de crescimento tem seguido o caminho de aposta chinesa na Rota da Seda, avançando com negócios na Ásia Central, no Médio Oriente e na Europa.

O nome do CEFC aparece envolvido num alegado caso de corrupção no Uganda e no Chade. A ligação acontece através de Patrick Ho Chi-ping, ex-secretário dos Assuntos Internos de Hong Kong, que depois de deixar o executivo da região especial administrativa foi para o universo da CEFC. Ho viria a ser acusado nos Estados Unidos por corrupção e lavagem de dinheiro, por suspeitas de ter subornado um funcionário do Chade e do Uganda em troca de contratos a favor de uma empresa chinesa.

Apostas em Portugal

O grupo tem neste momento investimentos em cima da mesa relacionados com Portugal que passam precisamente por algumas das actividades que tem vindo a desenvolver. No caso do negócio com o universo Montepio, a CEFC já celebrou a 27 de Novembro de 2017 o contrato para ficar com uma participação de 60% na holding seguradora através de uma entrada no capital por injecção de fundos. Com o interesse na holding que engloba a Lusitânia Seguros, a Lusitânia Vida e a N Seguros, prevê passar para Portugal a sede dos seus negócios financeiros.

É este mesmo grupo que tem negociado a compra da petrolífera Partex, passo que para a Gulbenkian representa a sua mudança de estratégia. A empresa, com um valor contabilístico na ordem dos 520 milhões, tem posições históricas de exploração de petróleo e gás no Médio Oriente. 

Numa entrevista recente ao PÚBLICO, o presidente da Partex, António Costa Silva, mostrava-se confiante no desfecho do negócio com os chineses, que em meados de Fevereiro ainda decorria. Nessa altura, contava, discutiam-se os termos do acordo. “Acho que há uma grande probabilidade de [o negócio] se concretizar. Depois, após o acordo, tem de haver a notificação a todas as companhias operadoras onde estamos, e há algumas concessões em que é necessário consultar também os parceiros por causa dos direitos de preferência”.

Além da aposta na Partex e nos seguros do Montepio, o conglomerado fundado por Ye tem demonstrado interesse em expandir os investimentos para os países africanos de língua portuguesa e para o Brasil.

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