Empresa sabia do potencial efeito devastador do rompimento da barragem de Mariana

As responsabilidades continuam por atribuir passados mais de dois anos. O Guardian avança que a Samarco sabia das consequências de um desastre ecológico deste género, mas os responsáveis dizem que os procedimentos de segurança foram cumpridos.

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A aldeia de Bento Rodrigues, a mais afectada pelo rompimento da barragem do Fundão, que era composta por duas barragens: uma de detritos tóxicos e outra de água Ricardo Moraes
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Em Novembro de 2015, o rompimento de uma barragem no município brasileiro de Mariana, onde estavam armazenados resíduos tóxicos, provocou a morte a 19 pessoas e cobriu os terrenos de lama, naquele que é considerado o pior desastre ambiental do Brasil. Mais de dois anos depois, as responsabilidades continuam por atribuir.

Num trabalho do Guardian divulgado nesta quinta-feira, é dado a conhecer que a Samarco, empresa de exploração mineira responsável pelo funcionamento das barragens, sabia (pelo menos seis meses antes do desastre) do impacto que um acidente deste género poderia ter.

O Ministério Público do Brasil diz que a empresa – um consórcio entre a grande empresa de exploração mineira Vale e a multinacional petrolífera e mineira anglo-australiana BHP Billiton – falhou ao não adoptar medidas para evitar o desastre ambiental. “Deram prioridade aos lucros e deixaram a segurança em segundo lugar”, disse ao Guardian o coordenador do grupo de trabalho que está a analisar o caso, José Adércio Sampaio.

No início de Novembro de 2015, uma avalanche de lama castanha avermelhada – composta por resíduos de minério de ferro, areia, argila e água – percorreu centenas de quilómetros e inundou várias aldeias, devastando casas, plantações e animais à sua passagem. Tudo isto na sequência do rompimento de duas barragens – uma de água e outra de resíduos tóxicos – operadas pela empresa de exploração. Mais de dois anos depois, as responsabilidades pelo crime ainda não foram atribuídas; as 375 famílias afectadas continuam sem indemnizações e sem realojamento definitivo.

As barragens pertenciam ao estado brasileiro de Minas Gerais, que tem uma longa tradição mineira e uma forte dependência desta indústria, sobretudo em termos de emprego e de economia.

O desastre ecológico pôs em risco a biodiversidade da região e a lama de resíduos tóxicos viajou pelo rio Doce, acabando por chegar ao Atlântico, tingindo as águas com a cor da argila. A aldeia de Bento Rodrigues – é o nome da terra, não o jornalista – foi uma das mais afectadas pelo desastre. A aldeia foi arrasada pela lama e as cerca de 600 pessoas que lá moravam ficaram com as suas casas destruídas.

Quando a barragem rebentou, não houve nenhuma sirene de alarme e os moradores de Bento Rodrigues foram avisados ora por telefone, ora pelos vizinhos que gritavam na rua. Segundo esclarece a própria Samarco, a quantidade de resíduos afectou o abastecimento de água em nove cidades. 

A investigação do Guardian revela que há documentos internos da empresa, que não chegaram a ser divulgados, que mostram que a Samarco fez uma avaliação do pior cenário possível da barragem: era dado o alerta que um rompimento poderia causar até 20 mortes, causando também prejuízo à terra, aos recursos de água e à biodiversidade durante um período de 20 anos – e que poderia ter um custo de quase três mil milhões de euros.

Numa nota publicada em Novembro do ano passado no site do MPF, lê-se que foi retomada a acção penal que trata dos crimes causadores e decorrentes do rompimento da barragem, avaliando 21 pessoas por homicídio qualificado de 19 pessoas (alguns funcionários da instalação e cinco pessoas da aldeia de Bento Rodrigues). Entre os 21 denunciados, também acusados de crime ambiental, está o então presidente da Samarco, Ricardo Vescovi de Aragão, e outros representantes da Vale e da BHP Billiton.

Ao diário britânico, as três empresas negaram as acusações: disseram que a segurança sempre foi a prioridade e que a barragem cumpria a legislação brasileira.

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