Lama tóxica do rio Doce continua a desaguar no Atlântico
Desastre ecológico põe em causa a biodiversidade da região afectada e representa graves consequências para a população local.
A lama de resíduos tóxicos que resultou da ruptura de uma barragem de retenção de minério em Mariana, no estado brasileiro de Minas Gerais, a 5 de Novembro, já percorreu todo o caudal do rio Doce e começou a chegar ao mar durante o fim-de-semana.
De acordo com o Ministério do Ambiente brasileiro, a lama terá percorrido 650 quilómetros do caudal do rio Doce ao longo de 16 dias, e chegou no sábado ao litoral de Regência, estado de Espírito Santo, tendo invadido o mar numa mancha barrenta que, segundo a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, poderá chegar aos nove quilómetros de extensão.
A abertura da foz foi decretada pela procuradoria de Linhares, depois de técnicos do Instituto Estadual do Meio Ambiente (IEMA) terem concluído que reter a lama traria prejuízos agravados, provocando inundações na região. As bóias de contenção que a Samarco, empresa responsabilizada pelo desastre ecológico, tinha erguido, foram retiradas e as praias encerradas.
Num comunicado oficial, a Samarco afirmou estar a agir de acordo com as directivas do Ministério Público e do IEMA, bem como dos institutos Chico Mendes e Tamar, na construção de um banco de areia para impedir que a lama atinja a parte sul da foz do rio.
De acordo com a empresa, nove mil metros de barreiras continuam a ser instaladas no sentido longitudinal das margens do rio, “com o objectivo de isolar a fauna e a flora que vivem nesse entorno”.
A ruptura e vazamento da barragem, que Izabella Teixeira classificou como “a pior catástrofe ambiental na história do país” deixaram soterrada a vila de Bento Rodrigues, provocando a morte de 12 pessoas (e outras 11 estão ainda desaparecidas). Mais de 280 mil pessoas estão sem água desde o acidente.
Da nascente à foz, a lama deixou ainda plantas, insectos, peixes, árvores e todo um ecossistema em risco. A corrente de detritos de minério da barragem vai afectar as condições dos habitats naturais de espécies marinhas no estuário e prejudicar a população local, que vive da pesca e do turismo, alertam especialistas.
A Samarco, dirigida em sociedade pela brasileira Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, enfrenta agora multas que ascendem aos 164 milhões de euros. A empresa já disse que vai dispensar o equivalente a 244 milhões de euros para reparar os danos ambientais.
Texto editado por Rita Siza