Keeping up with the economia
Se a economia fica dependente de empresas como o Snapchat, e se o Snapchat fica dependente de pessoas com a Kylie, então vamos ter de keep up with desempregos a um ritmo ainda mais alucinante.
Kylie Jenner twittou que está farta do Snapchat e a empresa perdeu 1,3 mil milhões de dólares na bolsa. Parece que os criadores da app de fotografias e vídeos em que os utilizadores podem pôr um unicórnio na testa fizeram para lá umas alterações, tipo no design ou lá o que é, e a socialite tem dificuldades em encontrar os botões, ou assim.
Ah, a Kylie Jenner é irmã da Kendall Jenner, que é meia-irmã da Khloé Kardashian, que é irmã da Kourtney Kardashian, que é irmã – preparem-se – da Kim Kardashian. (Tenham paciência, já sabem que é difícil keeping up with the Kardashians.) E o Snapchat é uma daquelas aplicações que servem para fingirmos que a nossa vida é mais interessante do que na realidade é, e que – obviamente, nem precisavas de o dizer – vai salvar o jornalismo porque não percebes o potencial daquilo e mais não sei quê. (“Afinal, é lá que os jovens estão.”)
Não é a primeira vez que uma pessoa mais conhecida do que a minha mãe faz ou diz alguma coisa e arrasta com ela as acções de uma empresa montanha da parvoíce abaixo, mas é preciso que alguém diga isto: já não bastava viver num mundo em que tantas pessoas usam mal, as vírgulas, agora também temos de viver numa economia em que a robustez das empresas depende do humor com que uma pessoa acorda?
O problema não é a Kylie, coitada, também eu prefiro o Instagram ao Snapchat. A Kylie tem o direito a acordar mal-disposta, e a Kylie tem o direito a não ter mais nada com que se preocupar do que com os botões do Snapchat. E até de se queixar no Twitter EM CAPS LOCK E COM TRÊS PONTOS DE EXCLAMAÇÃO E TUDO!!!
E não me interpretem mal: o Snapchat deve ser criticado quando comete essa verdadeira violação dos direitos humanos que é fazer umas alterações mal-amanhadas lá no design ou lá o que é.
O problema é que se a economia fica dependente de empresas como o Snapchat, e se o Snapchat fica dependente de pessoas com a Kylie, então vamos ter de keep up with desempregos a um ritmo ainda mais alucinante. Temo pelo dia em que o Justin Timberlake acorde mal disposto e não consiga encontrar o botão de enviar no WhatsApp. (Beyoncé, nem penses em experimentar o Beach Buggy Racing para iPhone, que eu parto-te a boca toda.)
Já sei que eu não li bem as notícias, e que as mudanças no Snapchat são muito mais complicadas do que isso, e que não posso tratar este assunto de uma forma tão básica, ou lá o que é. Só que posso. E trato. Porque estamos a falar do Snapchat. E da Kylie Jenner. Nada que envolva um Snapchat e uma Kylie Jenner deve poder acabar numa perda de 1,3 mil milhões de dólares na bolsa.
Isto já não é aquela coisa da teoria do caos, em que uma borboleta bate as asas em Coimbra e os habitantes de uma pequena cidade no Midwest americano começam logo a reforçar janelas e portas. Isto – volto a lembrar – é o Snapchat e a Kylie.
No meio disto tudo, há uma nota positiva. Numa prova de que o mundo das empresas tecnológicas e das bolsas de valores ainda não perdeu totalmente o bom senso, as acções do Snapchat recuperaram depois de Kylie Jenner ter escrito no Twitter “Still love you tho snap”.