O espanhol Miguel Castillo tem 80 anos, é reformado e estuda Geografia e História na Universidade de Valência, em Espanha. Na segunda-feira, vai partir numa aventura que o levará a Itália: vai fazer Erasmus (o programa de mobilidade estudantil da União Europeia) na Universidade de Verona.
Tem três filhas e seis netos e diz que a idade “não é um entrave”. O ataque cardíaco que teve há alguns anos (razão pela qual tem um quádruplo bypass coronário) também não. Antes pelo contrário, dá-lhe mais motivação: “Talvez tenha sido a luz que iluminou a minha vida. Apercebi-me que tenho de fazer algo mais, que não posso ficar parado”, diz ao jornal La Vanguardia.
Miguel Castillo reformou-se aos 70 anos e, durante cinco, teve o que diz ser uma “vida típica de reformado”, que consistia em “passar tempo com os netos, passear, jogar golf e fazer exercício”, conta ao La Vanguardia. Mas isso não lhe chegava, e Castillo não se queria ficar pelas “sestas”. Foi nessa altura, depois de ter tido o enfarte, que decidiu voltar a estudar.
Agora, vai passar quatro meses em Verona, juntamente com a sua segunda mulher (voltou a casar após a morte da primeira), onde vão ficar a morar num apartamento. “Ir para uma festa de pijama num dormitório seria um bocadinho estranho com a nossa idade”, disse ao El País, em tom de brincadeira.
Foi um dos seus professores de História que o incentivou a ir de Erasmus. As suas filhas pensaram que ele estava “doido”, mas os netos apoiaram-no a 100% — e até já marcaram viagem para o ir visitar a Itália. Castillo aconselha-os sempre a que “não se fechem em casa, que se abram ao mundo, porque podem contribuir muito e também receber muito da sociedade”, afirma, citado pelo La Vanguardia.
Castillo nasceu na cidade valenciana de Llíria em 1937, no seio de uma família humilde de agricultores. Foi alternando os estudos com o trabalho no campo e acabou por ir para Barcelona, onde se formou Direito e jogou futebol em alguns clubes locais. Depois, tornou-se notário. Passou dois meses em Roma e em Bolonha, onde aprendeu um bocadinho de italiano, que lhe será útil nesta nova aventura.
Sem querer, Miguel Castillo tornou-se numa estrela na Universidade de Valência: os jornalistas e fotógrafos têm ido à faculdade pedir para falar com ele, os professores cumprimentam-no nos corredores e os seus colegas felicitam-no por ter conseguido uma bolsa para estudar fora, relata o El País. No corredor, um colega também reformado abordou-o, dizendo que também pensou concorrer a Erasmus. “Sabes porque não o fiz? Tive vergonha de ir à secretaria perguntar”.