Maioria das receitas da petrolífera da Gulbenkian está no Médio Oriente
Baixo preço do petróleo tem penalizado contas da Partex, que lucrou 30 milhões em 2016.
Afectada pela baixa do preço do petróleo, a Partex está longe dos seus melhores resultados financeiros mas, mesmo assim, conseguiu não só voltar aos lucros em 2016 como este foi o melhor exercício dos últimos quatro anos. De acordo com os dados da petrolífera, o resultado líquido em 2016 foi de 30 milhões de dólares (cerca de 24 milhões de euros), com as vendas am situarem-se nos 252,5 milhões de dólares. Ao nível do resultado líquido, o valor representa uma melhoria expressiva face a 2015, ano em que a Partex registou um prejuízo histórico de 146 milhões, provocado por imparidades.
O baixo preço do valor do barril do petróleo afectou os activos da petrolífera, que actua no segmento da pesquisa e exploração, obrigando à constituição de imparidades avaliadas em 212 milhões de dólares. Com a subida do preço do barril de petróleo, que permitiu reverter as imparidades registadas e o plano de corte de custos efectuado para reagir à crise (e que inclui um travão nos investimentos), a empresa recuperou terreno, visível nos lucros de 2016. Aliás, o resultado positivo tem por base um valor de vendas que foi 42% inferior às de 2014, ano em que o lucro foi de 3,3 milhões.
Apesar do esforço de diversificação geográfica, que levou a Partex para mercados como o Brasil e Angola (neste caso ainda não chegou à fase de produção), bem como Portugal (sem sucesso), a principal fonte de receitas vem do Médio Oriente, génese da empresa. Em 2016, Omã valia 77% do total das receitas, seguindo-se os Emirados Árabes Unidos, com 12,1%. Já o Cazaquistão e o Brasil pesaram apenas 11%, com destaque para o primeiro. Assim, será nestas geografias que o novo proprietário da empresa se irá posicionar.
O Brasil, aliás, tem sido um mercado de difícil rentabilização. Em entrevista ao PÚBLICO em 2015, o presidente executivo da Partex, António Costa Silva, afirmava que “o investimento no Brasil é o que tem dado menos retorno”. “Quando cheguei à Partex em 2003 todos estes investimentos do Brasil já estavam decididos mas infelizmente não preencheram as expectativas que a companhia tinha”, acrescentou o gestor.
Embora a empresa seja associada à extracção de petróleo, parte das operações estão ligadas à exploração de gás natural, que em 2015 assumiu um peso de 12% no total da Partex. Em termos de activos da petrolífera, estes estavam avaliados em 720,4 milhões de dólares no final de 2016.
Olhando para as contas do seu único accionista, a Fundação Calouste Gulbenkian, em 2016 esta teve um resultado positivo de 84,4 milhões de euros, alavancado no mercado de capitais e na Partex. De acordo com o relatório e contas da Gulbenkian, os resultados de activos e passivos financeiros correntes, onde se destacam as acções de empresas detidas pela fundação, geraram 144,8 milhões de euros (contra 15,2 milhões de 2015) na sequência de um ano em que as bolsas deram sinais de recuperação. Depois, houve mais 29,6 milhões que chegaram através da Partex, na conjuntura de baixa do preço do petróleo.
Ao todo, e contando com rubricas como os activos financeiros não correntes (como o imobiliário), o retorno financeiro foi de 180 milhões de euros. Daqui saiu o dinheiro para pagar os projectos da Gulbenkian, ligados ao desenvolvimento das artes, educação e ciência, com um custo total líquido de 97,6 milhões. Os 84,4 milhões que restaram foram usados para reforçar o fundo de capital da fundação, que corresponde ao património líquido da Gulbenkian (e que estava contabilizado em 2532,6 milhões de euros no final de 2016).