Gramax acusa trabalhadores de destruírem "possibilidade” de salvar antiga Triumph
Administração da Gramax Capital, sociedade de investimento que detinha a antiga Triumph, acusa os trabalhadores e o sindicato de terem “destruído qualquer possibilidade” de manter a fábrica em funcionamento. A comissão sindical refuta as acusações.
Ao quebrarem as “regras de confidencialidade” durante a preparação do plano de reestruturação da empresa, anunciado em Novembro pela administração, a comissão e o sindicato terão desencadeado “uma situação incontrolável” que “destruiu qualquer possibilidade de continuar as operações”.
A acusação é feita por Alexander Schwarz, sócio-fundador e um dos administradores da Gramax Capital, sociedade de investimento suíço-alemã que, em Setembro de 2016, adquiriu a antiga fábrica da Triumph através da filial portuguesa, a Têxtil Gramax Internacional. O processo de insolvência foi entregue pela empresa a 13 de Dezembro e a insolvência decretada pelo tribunal de Loures a 22 de Janeiro, prevendo um despedimento colectivo e assegurando os respectivos direitos.
Em resposta às questões enviadas pelo PÚBLICO, Alexander Schwarz afirma que o plano de reestruturação da empresa “já estava preparado e pronto a ser executado”. No entanto, durante o processo de elaboração do plano, “que inclui o envolvimento e a opinião da comissão de trabalhadores e do sindicato”, “as regras de confidencialidade foram quebradas e os rumores espalharam-se entre os funcionários” da empresa.
De acordo com o administrador, esse facto terá levado a “uma situação incontrolável”, em que “parte dos trabalhadores bloqueou a entrada de outras pessoas na propriedade e, como consequência, a produção parou”. “Eventualmente, estas acções, iniciadas e apoiadas pelo sindicato, destruíram qualquer possibilidade de continuar com as operações”, conclui Schwarz num comentário enviado ao PÚBLICO por e-mail.
A comissão sindical, contudo, refuta as acusações. “Não corresponde à verdade e estão a fugir às responsabilidades”, denuncia. “O que eles pretendiam era o despedimento de 150 [dos 463] trabalhadores, sem lhes pagar aquilo que seria de direito num despedimento.” Segundo a delegação sindical, os administradores da empresa “pretendiam do Governo autorização para o alargamento das quotas para rescisões por mútuo acordo” e, dessa forma, “rescindir os contratos” daqueles trabalhadores “passando-lhes apenas e só o documento para o subsídio de desemprego”. Terá sido ainda comunicado à comissão que caso “não obtivessem essa autorização, [a empresa] teria de apresentar-se imediatamente para insolvência”.
A 22 de Novembro, a Câmara Municipal de Loures aprovava uma moção “pela salvaguarda dos postos de trabalho na TGI – Gramax”, referindo que a empresa não tinha conseguido “criar uma carteira de clientes” que fizesse face ao fim do contrato com a Triumph Internacional, que tinha prometido manter as encomendas durante um ano após a venda da fábrica. Em declarações à agência Lusa, o autarca Bernardino Soares explicava que o executivo comunista tinha sido informado através do sindicato de que a empresa pretendia avançar com um plano de reestruturação que previa a redução de 150 postos de trabalho.
Três semanas depois, quatro deputados do PS divulgavam um comunicado a questionar o ministro da Economia sobre que medidas poderiam ser adoptadas para evitar o despedimento destes trabalhadores e “inverter” a realidade da fábrica. A empresa apresentava o pedido de insolvência no tribunal de Loures no dia seguinte.
Depois de terem impedido uma alegada tentativa de retirada de material da empresa por parte da administração, os trabalhadores iniciaram um piquete de vigilância nas instalações a 5 de Janeiro, que mantiveram até à declaração de insolvência por parte do tribunal.