Porque estão os turcos a atacar os curdos na Síria?
Erdogan diz estar a combater "o terror curdo" mas está a bombardear sírios que não atacam o seu país.
O que quer a Turquia com esta operação militar?
Segundo o Presidente Recep Tayyip Erdogan, a Turquia acaba de invadir a Síria para combater “o terror curdo”. Ora, os curdos sírios não atacam a Turquia e o que Ancara quer é impedir que as três regiões curdas do Norte da Síria estabeleçam continuidade territorial ao longo da fronteira (até às zonas curdas da Síria e do Iraque). A operação Ramo de Oliveira foi lançada a 20 de Janeiro, dias depois de Washington anunciar que esta a preparar uma força de fronteira constituída por aliados sírios – a maioria seriam combatentes curdos.
Porque está Afrin a ser bombardeada?
Um dos distritos da província síria de Alepo, Afrin é também uma das três regiões curdas (as outras são Jazira e Eufrates) que se declararam autónomas em 2014 (integram a Federação Democrática do Norte da Síria, mas os curdos chamam-lhe Rojava – Curdistão Ocidental). É uma espécie de capital deste território conquistado à indiferença de Bashar al-Assad. Quando a guerra síria for dada como terminada, Ancara teme que o estabelecimento desta região leve os curdos turcos a exigirem o mesmo – no mínimo uma autonomia alargada.
Afrin é mais importante que outras zonas?
O enclave de Afrin permite abrir caminho até Alepo (60 Km a Sul) e tem o valor simbólico de ter sido cenário de uma das últimas derrotas do Império Otomano. Em troca de Afrin, o primeiro alvo desta campanha, Erdogan está preparado para retirar os rebeldes sírios que apoia na província de Idlib, deixando-a às mãos do regime de Assad.
Qual é o objectivo final?
Erdogan diz querer conquistar território suficiente para criar a “zona-tampão” que sempre exigiu ao resto do mundo – a ideia é ter dimensão suficiente para os 3,5 milhões de sírios que fugiram de Assad e se refugiaram na Turquia.
Quem governa Afrin?
Desde 2012 que o PYG (Partido da União Democrática) controla Afrin. Levava vantagem sobre outros partidos curdos por ter um bem treinado e armado exército, a que outros chamam milícia, as YPG (Unidades de Defesa do Povo). Também tem polícia, escolas, tribunais e até uma Constituição provisória – Lei Básica da Justiça Social no Curdistão ocidental e sírio (entre muitas mudanças, trata as mulheres como iguais; aliás, aqui elas combatem tanto como os homens). A “experiência democrática” que o PYG diz estar a realizar incluiu comités de poder local mas não é exactamente plural, tendo pouca tolerância para a crítica (opositores podem ir facilmente parar à prisão). Ao mesmo tempo, e nisto os turcos têm razão, há laços entre as YPG e o PKK turco, e muitos jovens sírios pelo menos treinaram ao lado dos turcos na guerra civil com Ancara.
Quantas pessoas vivem nesta região?
A juntar à sua população inicial, de 300 mil, chegaram a Afrin nos últimos anos pelo menos o mesmo número de pessoas, em fuga de Assad (a maioria de Alepo e de etnia curda, mas muitas árabes também, de Alepo ou das vilas e aldeias atacadas pelo Daesh) na zona. Ou seja, só em Afrin, cidade de sete bairros e 265 aldeias, vivem mais de 600 mil pessoas. Na região curda síria, que a Turquia diz estar preparada para “varrer”, serão mais de 1,5 milhões.