Turcos atacam bastião curdo de Afrin, apesar de avisos dos EUA
Aviação de Ancara bombardeia posições junto à fronteira turca e prepara incursão terrestre.
A Turquia iniciou este sábado uma operação militar em larga escala contra Afrin, uma cidade no Norte da Síria, controlada por milícias curdas apoiadas pelos Estados Unidos desde o início da guerra na Síria, em 2012.
É uma nova frente de combate nesta guerra, e abre a possibilidade de um conflito alargado entre a Turquia e os EUA, quando as relações entre estas duas nações da NATO já não atravessavam um bom momento.
O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, afirma que o raide aéreo será seguido de uma ofensiva terrestre sobre Afrin - a que a Turquia deu o nome operação Ramo de Oliveira, diz a Reuters.
Ancara considera o Partido da União Democrática (PYG), que governa esta região do Norte da Síria e as Unidades de Defesa do Povo (YPG), braço armado do partido, como organizações terroristas. Vê-os como uma extensão do ilegalizado Partido dos Trabalhadores do Curdistão (com o qual, de facto, têm laços).
O crescimento de um quase-Estado curdo no Norte da Síria durante os anos da guerra na Síria deixa a Turquia em pânico, a braços com uma revolta curda de mais de três décadas. Teme que os curdos da Turquia se juntem aos sírios (e, eventualmente, aos iraquianos, que têm uma região autónoma, com política e exército próprios) num sistema federal, para criar um Estado próprio.
Por outro lado, os Estados Unidos apoiaram, armaram e treinaram as YPG durante a guerra na Síria, considerando o grupo uma ferramenta eficaz no combate ao Daesh. Ao atacarem a milícia curda, os turcos estão a ir contra os desejos dos EUA.
Um representante do Departamento de Estado norte-americano avisou que a intervenção militar turca poria em causa a estabilidade regional e não ajudaria a proteger a sua fronteira. Mas Ancara afirma que Washington apenas usa um grupo terrorista para lutar contra outro na Síria.
Erdogan anunciou ainda que o próximo objectivo militar turco será Manbij, outra área síria libertada pelas e agora controlada pelos curdos.
No terreno, ainda em Afrin, que fica a 40 km de Alepo (e onde encontraram abrigo muitos dos curdos que ali viviam durante os anos em que a maior cidade da Síria foi palco de batalhas diárias e estava dividida ao meio, em que é já reportado o avanço dos rebeldes pró-turcos do Exército Livre da Síria (árabes sunitas, como a maioria da oposição armada a Bashar al-Assad, membro da minoria alauita, um ramo do xiismo, do país).
Segundo responsáveis curdos citados pela Reuters, os bombardeamentos da Turquia em Afrin atingiram áreas residenciais e levaram inúmeros civis a refugiarem-se em buracos e abrigos. De acordo com o Exército turco, já foram atingidos 108 alvos "que pertencem a militantes curdos".
A Rússia retirou os militares que tinha colocado na região de Afrin e anunciou que vai exigir no Conselho de Segurança das Nações Unidas que a Turquia ponha termo à sua intervenção militar.