O Coutinho é e não é um caso único
À semelhança de Viana, muitas outras cidades portuguesas não resistiram à tentação da construção em altura como reflexo de uma pretensa modernidade.
O Prédio Coutinho, em Viana do Castelo, não é caso único. À semelhança de Viana, muitas outras cidades portuguesas não resistiram à tentação da construção em altura como reflexo de uma pretensa modernidade. O problema nunca esteve na altura. Esteve sempre na mentalidade de pechisbeque com que muitas delas foram planeadas, com maior intervenção de empreiteiros do que de urbanistas, convencidos que os arranha-céus eram a mais recente manifestação do progresso. Paris, Londres ou Nova Iorque também têm os seus “mamarrachos”.
Mas, de certa forma, o Prédio Coutinho também é caso único, porque não há precedentes de demolição de um edifício destas dimensões por razões estéticas e urbanas. A demolição de uma torre no Bairro do Aleixo, no Porto, ou de várias na península de Tróia não se deveram à sua altura ou localização, mas sim a operações imobiliárias para rendibilizar os terrenos onde se situavam. Não é o caso. Na área desocupada pelo edifício nascerá um mercado e esta só hipocritamente poderá ser invocada como a principal motivação para demolir o gigante do centro histórico de Viana do Castelo.
A preocupação com o ambiente urbano das cidades e as consequentes políticas de reorganização do seu território é demasiado recente; data das últimas décadas. E é nesse contexto que surgem a Sociedade Polis e outros programas que impõem uma nova visão do urbanismo, ao estabelecerem como objectivos a reutilização de infra-estruturas já existentes ou a reconversão de espaços urbanos em vez de privilegiar novas construções. É essa nova perspectiva de urbanismo que não é compatível com a disformidade de um edifício como este na paisagem da cidade. Se o critério estético fosse escrupulosamente aplicado ao território nacional não faltariam edifícios a merecer demolição, fossem eles casas clandestinas, edifícios de um só piso ou de vários. É um logro associar construção vertical à ausência de qualidade urbanística e estética.
Em suma, quando o edifício for esvaziado dos seus moradores, já no final do mês, e depois demolido, uns poderão dizer: “Finalmente.” Outros perguntarão: “Valeu a pena arrastar este processo ao longo de 18 anos e pagar por ele qualquer coisa à volta dos 20 milhões de euros?”
O drama é que ambos poderão ter razão.