Inventor torturou jornalista antes de a matar

Acusação contra Peter Madsen reforça tese de premeditação na morte de Kim Wall. O julgamento começa em Março.

Foto
O suspeito Peter Madsen, em Agosto de 2017, quando foi socorrido e detido pelas autoridades dinamarquesas Scanpix Denmark/REUTERS

A justiça dinamarquesa divulgou na terça-feira o teor da acusação contra Peter Madsen, o inventor de 47 anos que vai a julgamento em Março pela morte da jornalista sueca Kim Wall, em Agosto de 2017. O homem que construiu sozinho um submarino, sabe-se agora, é também acusado de ter torturado a vítima antes de a matar, desmembrar e atirar os restos mortais para o mar.

A causa exacta da morte de Wall, de 30 anos, ainda não é certa, mas a investigação crê que a vítima tenha sido estrangulada ou degolada.

A jornalista foi dada como desaparecida a 10 de Agosto de 2017, horas depois de ter embarcado no submarino de UC3 Nautilus, de Madsen, para fazer uma reportagem sobre o inventor, e de não ter voltado a estabelecer contacto com o namorado. O submarino acabaria por ser afundado de forma deliberada pelo seu criador.

Segundo a acusação agora revelada, e ao contrário do que o suspeito foi dizendo às autoridades em sucessivas e divergentes versões sobre o desaparecimento da jornalista, Madsen terá planeado o homicídio, tendo levado consigo para o submarino uma serra eléctrica, um berbequim e outros objectos cortantes que terá utilizado para torturar a vítima antes de a matar. De acordo com os documentos judiciais, a jornalista foi amarrada pelas pernas, braços e cabeça, e a autópsia detectou 14 cortes na zona genital.

O inventor apenas admite ter atirado ao mar o corpo de Wall, mas sempre negou tê-la matado, alegando que a jornalista sueca morreu na sequência de um acidente no submarino, depois de ter sido atingida por uma peça pesada de metal pertencente à embarcação. Mas o relato caiu por terra com a descoberta da cabeça da vítima, em Outubro de 2017, sem quaisquer sinais de fracturas no crânio.

Foto
A jornalista Kim Wall, de 30 anos REUTERS/TT NEWS AGENCY

Essa versão já era substancialmente diferente da primeira — Madsen disse inicialmente às autoridades que teria deixado Wall em terra, sã e salva, perto de um restaurante em Copenhaga, algo que foi desmentido por imagens de câmaras de videovigilância.

Os restantes restos mortais da jornalista freelancer — que publicou artigos em jornais como o Guardian e o New York Times — foram encontrados ao longo de vários meses. Estavam colocados em sacos — juntamente com peças de metal, para fazer peso — que foram atirados ao mar ao largo de Koge, a cerca de 40 quilómetros a sul da capital dinamarquesa.

A acusação não aponta um motivo concreto para o homicídio, apesar de os investigadores terem avançado inicialmente a tese de um crime sexual, após a descoberta de vídeos de tortura, violação e morte de mulheres (cuja veracidade se desconhece) num computador de Madsen.

O inventor, engenheiro aeroespacial de profissão, está ainda acusado de ter colocado um número indeterminado de vidas em perigo ao ter dirigido o seu submarino por rotas reservadas a cargueiros e cruzeiros.

Sugerir correcção
Comentar