Ok Google, apetecia-me tomar algo
Anualmente, Las Vegas acolhe a Consumer Electronic Show, ou CES, e transforma-se num enorme festival de novos aparelhos de electrónica de consumo. Da realidade virtual ao desporto, eis uma selecção do que surpreendeu, divertiu ou deu um vislumbre do que podem ser os próximos anos.
Se depender da vontade de multinacionais como o Google, a Amazon e a Apple, todos teremos um dia mordomos virtuais à disposição. Não vão, pelo menos em breve, preparar uma refeição, mas estão aptos a abrir a porta (se esta tiver uma fechadura inteligente), dar sugestões sobre roupa consoante o estado do tempo, recomendar restaurantes, e seleccionar música a gosto do utilizador e apropriada para a ocasião.
Um dos temas quentes da CES foi a tecnologia de inteligência artificial que se tem apresentado sob a forma de pequenas colunas inteligentes. É possível falar com estes aparelhos, usá-los para controlar electrodomésticos inteligentes (dos que ainda é muito raro ter em casa), pedir-lhes informações (como o estado do trânsito) ou ajuda nas tarefas quotidianas. O Google esteve em força no evento para mostrar todas as formas em que o seu Assistant (que também existe para telemóveis) pode ser usado. Basta dizer "Ok Google" e os aparelhos, sempre à escuta, ficam prontos a cumprir ordens e responder a perguntas.
Por entre telemóveis, computadores e televisões, também passaram pela CES vários robôs, entre os quais uma nova geração do cão Aibo, que a Sony criou no final do século passado. A febre das criptomoedas apanhou a falida Kodak, que desenvolveu um aparelho para gerar bitcoins, o Game Boy está de regresso, e a Intel pôs no ar um táxi voador.
Ecrãs inteligentes
O Google anunciou um projecto para levar a inteligência do seu Assistant a colunas inteligentes produzidas por empresas parceiras como a Lenovo, a LG e a Sony. Vêm com ecrã porque, por vezes, a voz de uma assistente virtual não basta. “Há momentos em que um ecrã tornaria o Assistant mais útil. Por exemplo, quando é preciso aprender como cortar um ananás e a forma mais fácil seria ver um vídeo,” justificou o vice-presidente de engenharia do Google, Scott Huffman. As novidades vão competir com dispositivos como os Echo, os aparelhos inteligentes da Amazon.
Virtual e sem fios
A Lenovo mostrou uns óculos de realidade virtual que não precisam de estar ligados a um computador ou telemóvel. São os Mirage Solo. Funcionam com a plataforma de realidade virtual Google Daydream (os utilizadores podem utilizar os jogos e aplicações disponíveis na plataforma), e incorporam a tecnologia Google WorldSense, que monitoriza alguns dos movimentos dos utilizadores sem precisar de outros sensores.
Carros falantes
A Bosch apresentou um assistente virtual para manter os olhos do condutor na estrada. A demonstração está a ser feita com as vozes artificiais de “Michael”, “Cassey” e “Linda”, mas o condutor pode definir o nome do seu próprio assistente que é capaz de falar 30 línguas diferentes. A maioria das vozes são de mulher: há 44 vozes femininas à escolha e só nove masculinas. O objectivo é aumentar a segurança. “Quanto mais complexa é a tecnologia nos veículos modernos, mais simples e intuitivos devem ser os sistemas de controlo”, disse o presidente da secção de multimédia da Bosch, Steffen Berns.
Telemóvel mutante
A Linda é o novo projecto da Razer, uma empresa de computadores e acessórios para videojogos. Trata-se da estrutura de um portátil que "ganha vida e energia" com o Razer Phone, o smartphone topo de gama da marca. Sem o telemóvel, a "caixa" Linda é um powerbank com teclado e um ecrã. Para “activar” a Linda, coloca-se o telemóvel no espaço onde normalmente fica o rato do portátil: ou seja, não só é o processador, como funciona como um touchpad que serve de segundo ecrã para visualizar pormenores específicos (por exemplo, a pontuação ou a informação dos rivais num jogo).
Correr por 3000 euros
A Peloton quer voltar a pôr o ginásio na casa de todas as pessoas (ao estilo das cassetes da Jane Fonda), mas com equipamento profissional que custa 4000 dólares (cerca de 3350 euros) e põe os utilizadores a competir uns contra os outros. A nova passadeira eléctrica Tread vem com um ecrã HD de 32 polegadas e aulas virtuais dadas por instrutores profissionais. É a grande diferença da passadeira face a outras passadeiras no mercado. Em vez de filmes e séries, o objectivo da Tread é projectar aulas de ginásio que ensinem o utilizador a correr melhor e o motivem a cumprir os seus objectivos. Os utilizadores podem ver o esforço dos outros participantes no ecrã e competir pelo primeiro lugar.
Airbags para as ancas
À primeira vista, o Hip'Air parece estranho: é um cinto com bolsas coloridas que se enchem de ar quando percebem que o utilizador está prestes a cair. No entanto, o aparelho permite evitar lesões em idosos que se desequilibram. Foi criado pela francesa Helite, uma empresa com anos de experiência em desenvolver sistemas de airbag especializados para actividades desde a equitação a andar de mota. O Hip'Air pesa um quilo, funciona até 15 dias entre carregamentos e analisa até mil movimentos por segundos. A Helite escolheu proteger as ancas porque lesões nessas áreas são as que mais influenciam a autonomia dos idosos
O regresso do Game Boy
A fabricante de acessórios de videojogos Hyperkin desenvolveu uma versão em alumínio do Game Boy, mais de 28 anos depois de a Nintendo ter lançado a famosa consola portátil. Funciona com os antigos cartuchos do modelo original. O novo Ultra Game Boy vem com uma bateria que dura até seis horas entre carregamentos, uma entrada USB-C e um par de auriculares. Os fãs de música também podem utilizar o pequeno aparelho para criar "chiptunes": um género de música electrónica produzido com antigas consolas de jogos. Deve chegar ao mercado no próximo Verão, com um preço perto dos 100 euros.
Febre da bitcoin
A Kodak foi contagiada pela febre das criptomoedas, numa tentativa de se manter relevante. Funcionou. Depois de mostrar um aparelho para gerar bitcoins na CES e anunciar a sua própria moeda virtual, a kodakcoin, as acções da empresa subiram 120%. A nova moeda faz parte de iniciativa que utiliza a tecnologia de blockchain para ajudar os fotógrafos a proteger o direito às suas imagens. O aparelho para gerar bitcoins chama-se KashMiner. De acordo com a Kodak, a máquina deve conseguir produzir cerca de 375 dólares mensais ao preço actual da criptomoeda.
Carros com humor
Os tempos do telhado de abrir ou da capota removível do carro podem ter os dias contados. A Harman – um fornecedor da indústria automóvel – trouxe um ecrã para colocar no tecto do automóvel que pode projectar um dia de sol, uma noite estrelada ou chuva, consoante o humor de quem está no carro. O conceito chama-se MoodRoof e faz parte de um sistema de som que também se adapta às emoções de quem está no carro, o Moodscape.
Cão de guarda
O companheiro de quatro patas robótico da Sony está de volta. Lançado no final dos anos 1990, o Aibo volta com uma versão actualizada. Além de ser capaz de acompanhar o dono para todo o lado, responder a uma mão-cheia de instruções em inglês (por exemplo, “dá a pata”), funciona agora como uma câmara de videovigilância que monitoriza a casa quando o dono não está.
Táxi voador
A Intel apresentou um protótipo de um pequeno helicóptero capaz de voar sem piloto. Chama-se Volocopter e foi apresentado pelo presidente executivo da Intel. "Imaginem puxar do telemóvel, abrir uma aplicação de transporte e pedir uma viagem personalizada num táxi aéreo. Este futuro de ficção científica está na verdade muito mais perto do que julgam", afirmou Brian Krzanich. A Uber é outra das empresas a trabalhar nesta tecnologia.
Era uma vez um robô
A Luka é uma coruja robótica desenvolvida pela chinesa Ling Technology que está ligada a uma plataforma online onde estão mais de dez mil livros para serem lidos a crianças. A versão em inglês está prevista para meados deste ano, por cerca de 150 dólares (125 euros). Na China, já foram vendidas mais de 30 mil unidades. As vozes foram criadas com actores em estúdio. Todos os livros que o robô lê podem ser encontrados na aplicação móvel.