Congo corta Internet e SMS antes de manifestações contra o Governo
O Congo enfrenta uma situação de instabilidade política desde que o Presidente recusou abandonar o cargo em Dezembro do ano passado.
O Governo da República Democrática do Congo ordenou neste sábado às empresas de telecomunicações que cortassem a Internet e as mensagens de texto por todo o país antes das manifestações agendadas para este domingo. “É por razões de segurança do Estado”, disse o ministro das telecomunicações do país, Emery Okundji, à Reuters. “Em resposta à violência que está a ser preparada... o Governo tem o dever de tomar todas as medidas para proteger as vidas dos congoleses".
Alguns activistas católicos anunciaram manifestações para algumas das maiores cidades do país neste domingo, exigindo ao Presidente, Joseph Kabila, que não altere a Constituição (alteração que lhe permitirá candidatar-se a um terceiro mandato) e que liberte os presos políticos.
Ainda que a situação tenha acalmado nos últimos meses, a República Democrática do Congo está a ser assolada por uma onda de violência desde a crise política de Dezembro, quando Joseph Kabila recusou abandonar o poder no final do mandato – e foi adiando novas eleições (que agora estão marcadas para Dezembro de 2018) apesar de o seu segundo mandato (que deveria ser também o último, segundo a Constituição) já ter expirado em Dezembro passado.
No ano passado, as autoridades do Congo mataram dezenas de manifestantes durante protestos contra o Presidente Kabila e muitos cidadãos temem que o país se volte a afundar num novo conflito civil — os conflitos internos no Congo já levaram à morte de milhões de pessoas desde o início do século.
O ministro Okundji escreveu uma carta aos fornecedores de telecomunicações, exigindo que todos os serviços de Internet e mensagens fossem suspensos às 18h deste sábado (menos uma hora em Lisboa), ainda que alguns utilizadores continuassem a ter acesso duas horas depois. O corte mantém-se até novas ordens do Governo.
As autoridades congolesas proíbiram as manifestações de domingo, que são apoiadas por grande parte dos líderes da oposição ao actual Governo, e alertaram ainda que os grupos com mais de cinco pessoas serão dispersados.
Algumas manifestações marcadas por líderes da oposição têm sido abafadas pelas autoridades no Congo, mas o apoio dos activistas católicos – que gozam de grande credibilidade no país, já que 40% da população é católica – uniu as forças da oposição. Ainda assim, os líderes católicos não formalizaram qualquer apoio às manifestações deste domingo.
O Governo do Congo já tinha cortado os serviços de Internet e SMS numa manifestação contra o Governo em Janeiro de 2015. E limitou também o acesso a algumas redes sociais, tal como fizeram outros países africanos nos últimos dois anos.