Futuros engenheiros “ressuscitam” brinquedos estragados para o Natal
Cerca de 350 carros, bonecas, motas, peluches, comboios e aviões ganharam nova vida ma Universidade de Aveiro. Parte deles, serão entregues, em mãos, a crianças de famílias afectadas pelos incêndios.
Nos últimos dias, o Departamento de Electrónica, Telecomunicações e Informática (DETI) da Universidade de Aveiro (UA) transformou-se numa autêntica oficina de reparação de brinquedos. Centenas de carros, bonecas, motas, peluches, comboios e aviões, doados por particulares e que, na grande maioria, tinham como destino mais do que certo o lixo - por se encontrarem danificados - ganharam, ali, uma nova vida, graças ao trabalho de dezenas de alunos daquela instituição de ensino superior e outros voluntários. Agora, irão animar os dias de crianças carenciadas, parte das quais pertencentes a famílias fortemente afectadas pelos incêndios deste ano.
Depois de uma primeira edição no Natal de 2016, o projecto Sharetoy voltou a mobilizar, este ano, dezenas de futuros engenheiros electrónicos e não só. “A ideia inicial passava, precisamente, por permitir que colocássemos os nossos conhecimentos de electrónica em prática, mas a quantidade de brinquedos doados que não tinham circuito electrónico levou-nos a alargar esse objectivo”, destacou Francisco Pinto, aluno do 4.º ano do curso de electrónica e telecomunicações. Desta forma, a equipa de voluntários acabou por se alargar a alunos da comunidade académica em geral, pois além de reparações electrónicas, foi preciso limpar, cozer e embrulhar.
O desafio foi lançado a todos os que soubessem usar uma agulha e uma linha, pentear uma boneca, dar uso à chave de fendas ou, simplesmente, fazer um embrulho, e não faltaram interessados em participar nas quatro oficinas de reparação realizadas nas últimas semanas. Foi o caso de Margarida Nunes, Sara Araújo e Júlia Ramos, alunas do 12.º ano da Escola Secundária Homem Cristo, de Aveiro, que não hesitaram em doar uma tarde do seu tempo livre para ajudar a melhorar o Natal de centenas de crianças. “A minha irmã estuda neste departamento e quando me falou das oficinas decidi vir dar um contributo com as minhas amigas. Ajudamos como conseguimos, nomeadamente a fazer embrulhos”, testemunhou Júlia Ramos.
A primeira fase do projecto Sharetoy passou pela recolha de brinquedos usados junto de particulares e empresas, que puderam efectuar as entregas das suas doações no DETI, na Fábrica Centro Ciência Viva de Aveiro e no Quartel do Comando Territorial de Aveiro da Guarda Nacional Republicana. “Foram entregues cerca de 350 brinquedos, mais do que na primeira edição [300]”, destacou Dilan Nunes, outro dos alunos envolvidos na organização. “Tivemos de tudo um pouco: brinquedos avariados, como se pretendia, mas também alguns novos, e para crianças dos zero aos 15 anos”, avança, por seu turno, o seu colega Francisco Pinto.
Entre aqueles que careciam de reparações, houve “alguns que se revelaram verdadeiros bicos de obra” e que obrigaram os alunos a “pedir ajuda aos professores do departamento”, confessou Dilan Nunes. Essa tem sido, de resto, a tónica do projecto: todo o trabalho é coordenado e efectuado pelos estudantes; os docentes só dão uma ajuda. “O mérito é todo dos alunos”, destacou Paulo Ferreira, director do DETI, ao mesmo tempo que realçava que a missão de uma universidade não passa apenas “por formar técnicos, mas também formar para a cidadania”.
Na edição do ano passado, o Sharetoy entregou os brinquedos recuperados na Pediatria do Hospital Infante D. Pedro e na Cáritas Diocesana de Aveiro - instituições que fizeram chegar os presentes às famílias que, de outra forma, não teriam possibilidade de preencher os sapatinhos. Este ano, os estudantes da UA vão abranger, também, instituições de solidariedade social dos distritos de Viseu e da Guarda, com vista a fazer chegar dezenas de brinquedos a crianças cujas famílias foram severamente afectadas pelos incêndios - as entregas nestas duas regiões irão ser feitas em mão, no próximo dia 21. “Foi uma tragédia que nos tocou a todos e uma vez que temos neste grupo alunos oriundos dessas duas regiões decidimos abranger, também, esses distritos”, explica Francisco Pinto, ele próprio oriundo de Viseu.
Outra das novidades desta segunda edição reside no facto de os alunos do DETI terem sido desafiados a adaptar alguns dos brinquedos recolhidos na campanha a crianças com necessidades educativas especiais. “Soubemos do projecto pela comunicação social e decidimos desafiá-los a fazerem algumas adaptações nos brinquedos e eles aceitaram”, confessaram Ana Maia e Catarina Iglésias, do Centro de Recursos TIC para a Educação Especial de Aveiro. “Estamos a falar de coisas como criar manípulos e botões grandes, que podem ser mais facilmente accionados, por exemplo, por crianças com problemas motores”, enunciaram. “Está a ser um grande desafio, porque implica desmontar os brinquedos e fazer novas ligações”, confessou, por seu turno, Rui Soares, o aluno de engenharia Electrónica e Telecomunicações (5.º ano), que esteve a trabalhar nesta adaptação.