O Galileu é o sistema de navegação por satélite da Europa, que, tal como o GPS norte-americano, permite saber com precisão a localização de uma pessoa ou de um objecto na Terra. Os primeiros satélites (do que será uma constelação em órbita do nosso planeta a mais de 20 mil quilómetros) foram lançados em 2011 e receberam o nome de Thijs e Natalia, em honra, na altura, de duas crianças da Bélgica e da Bulgária, respectivamente. À sua viagem para o espaço seguiu-se o lançamento de mais 16 satélites com nomes de crianças de outros países europeus, aos quais se juntam agora Nicole, Zofia, Irina e Alexandre. O último é o nome da criança portuguesa, agora adolescente, que venceu há seis anos um concurso europeu de desenhos da Comissão Europeia (CE) – prémio que lhe valeu a oportunidade de dar o seu nome a um satélite. E de o ver a ser lançado esta terça-feira no espaço, por um foguetão que descolou do centro espacial de Kourou, na Guiana Francesa.

O sistema Galileu (o “GPS europeu”), um projecto de dez mil milhões de euros da CE e da Agência Espacial Europeia (ESA), foi iniciado em 1999 e entrou em funcionamento em 2016. O sistema, que promete uma geolocalização dez vezes mais precisa do que as soluções já existentes (alimentadas pelo GPS norte-americano), só estará instalado em todos os novos modelos de automóveis vendidos na Europa em 2018 (não faltará muito). E só deverá atingir a sua plena capacidade operacional daqui a três anos – quando a tal constelação estiver composta por 30 satélites, 27 dos quais têm nomes de crianças oriundas dos 27 Estados-membros da União Europeia (18 já estão no espaço).

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Ora, há cerca de seis anos, entre o início de Setembro e meados de Novembro de 2011, crianças nascidas por toda a Europa (em 2000, 2001 e 2002) participaram num concurso de desenho sobre o “Espaço e a Aeronáutica”, organizado pela Comissão Europeia. O prémio? Um certificado, um troféu e a oportunidade única – já ouvimos o rufar de tambores – de dar nome a um satélite do sistema Galileu. E Alexandre Lourenço, na altura com dez anos, foi o vencedor de Portugal, escolhido pelo júri nacional, que incluía Fernando Carvalho Rodrigues, conhecido como o “pai” do primeiro satélite português (o PoSAT), e o astrónomo Rui Agostinho.

“É inesquecível. Fica para a vida”, disse esta terça-feira ao PÚBLICO Alexandre Lourenço, agora adolescente – e que nos conta que participou no concurso, tal como outros alunos da Escola Francisco Arruda em Lisboa, porque lhes foi pedido. “Não estava a pensar que ia ganhar um prémio. Fiz por fazer, porque a escola queria que fizéssemos. Mas empenhei-me porque era um projecto giro.”

Numa folha em branco, Alexandre Lourenço desenhou “o espaço”. Aos olhos de uma criança de dez anos, o espaço está pintalgado de azul, vermelho, verde e amarelo – como a bandeira de Portugal. Nesse espaço imaginado, há um satélite que lembra a guitarra portuguesa com duas abas articuladas, como os painéis dos verdadeiros satélites. E há a Terra, outros planetas e, quem sabe, também haja criaturas místicas a voar e extraterrestres verdes a acenar aos astronautas – Alexandre Lourenço não quer ser astronauta, mas está orgulhoso da sua imaginação precoce. “Não é toda a gente que tem um satélite com o seu nome”, frisa.

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O foguetão que transportou o satélite Alexandre e outros três (Nicole, Zofia e Irina, nomes das crianças vencedoras dos concursos na Áustria, Polónia e Roménia, respectivamente), foi o Ariane 5. E todos os satélites operacionais do Galileu estão equipados com um sistema operativo português, desenvolvido pela empresa Edisoft, que se encontra desde Novembro em fase de preparação da missão de acompanhamento do foguetão da ESA. E que acompanhou esta terça-feira o lançamento usando a estação de rastreio da ilha de Santa Maria (nos Açores), monitorizando o voo do Ariane 5.

E assim, cada um à sua maneira, Alexandre Lourenço com um desenho e a Edisoft com a sua tecnologia, foram para o espaço.

Texto editado por Teresa Firmino