Entre a colher de consommé e o garfo de ostras e mariscos, um faqueiro tradicional pode chegar a abranger várias dezenas de peças. No primeiro lançamento de um faqueiro completo dos últimos dez anos, a Topázio decidiu deitar estas regras de etiqueta fora e criar um conjunto de apenas 11 peças: não há faca de peixe, nem de carne, apenas talheres grandes e pequenos, conjuntos de salada, de trinchar e colheres de café.
Na verdade, quem assim entender, pode (tecnicamente) chegar aos 44, multiplicando as peças pelos quatro cabos com diferentes designs que a Topázio desenvolveu. Como Luis Onofre já fez com os saltos dos sapatos e a Apple com as braceletes de relógio, a marca dá ao cliente a opção de trocar os designs dos diferentes utensílios, como bem entender. Pode usar num dia um serviço e no dia seguinte outro ou então fazer combinações de diferentes designs na mesma mesa.
Os cabos estão ligados ao respectivo utensílio através de ímanes – suficientemente fortes para não saltarem durante o estufado da avó Lucinda e construídos de forma a sair com relativa facilidade. Primeiro roda-se o cabo e depois puxa-se para fora.
Para já, a Topázio lança quatro modelos, criados pelo designer Toni Grilo e inspirados em “diferentes estilos e idades”: o mais ornamentado, Coimbra, reúne elementos do estilo manuelino; Évora distingue-se pelo dourado com um acabamento martelado; o Porto representa o modelo mais popular da Topázio, o Caninhas; e Lisboa é a opção mais “contemporânea”. No futuro deverão ser lançados outros designs.
Todas as peças são feitas em aço com banho de prata. Os talheres e utensílios podem ser adquiridos em diferentes conjuntos, sendo que as 16 peças do faqueiro (incluindo uma de cada tipo e seis colheres de café) têm o valor de 980 euros e estarão disponíveis nos pontos de venda Topázio e no site da marca a partir desta quarta-feira, dia 1 de Novembro. Também os diferentes cabos podem ser adquiridos à parte.
O nome Genesis, explica o designer Toni Grilo, é um regresso “à origem para criar algo novo”. Regresso, no sentido em que dá continuidade às técnicas de artesanato da marca, fundada em 1874, e ao design elaborado, ao mesmo tempo dando um “pontapé na tradição”, explica, meio a brincar. Grilo quer “modernizar o acto de comer”, com um faqueiro que pretende servir para o dia-a-dia e não apenas para celebrações.
Vender a colecção com uma chave de fendas
Não é por coincidência que o lançamento de um novo faqueiro não aparece a cada translação. É que o investimento em pesquisa e desenvolvimento das ferramentas e peças pode atingir várias dezenas de milhares de euros – neste caso 100 mil euros, garante Carla Louro, responsável por toda a produção. Isto antes de chegarem a ser produzidas as peças para venda, esclarece.
“Temos de ter um cortante – uma ferramenta que corta as extremidades e dentes [de um garfo] – e só para um garfo de mesa temos três ferramentas”, exemplifica.
Toni Grilo – que nasceu em França e há mais de uma década mudou-se para Portugal – trabalha com a marca há alguns anos, tendo desenvolvido já peças para as linhas de decoração de mesa. Para este desafio recebeu carta branca: “Faz uma colecção inovadora”, ouviu. “Quando entrei, disse 'os vossos clientes estão a morrer. Ou se renovam ou a Topázio vai morrer'”, conta, por sua vez.
Durante o ano e meio de produção, estiveram em cima da mesa diferentes ideias, inclusive a de um faqueiro que viesse acompanhado por uma chave de fendas, para que as pessoas pudessem desaparafusar os cabos e trocá-los mediante a sua vontade. Acabaram por considerar a opção inviável. “Os parafusos não são feitos para a área alimentar, era demasiado complicado”, justifica o designer.
Tipicamente os faqueiros banhados a prata da Topázio são feitos de alpaca – uma liga metálica –, com uma lâmina de aço. Seria impossível criar um mecanismo de troca de cabos, dado que este material não atrai íman. Assim, a marca decidiu desenvolver peças inteiramente em aço, o que apresentou uma outra dificuldade porque “a prata não reage com os componentes aço inox”, clarifica Carla Louro. Por isso, optaram por acrescentar às peças uma “camada suave de níquel para preparar a superfície” – um processo com o nome de Nickel Strike – e só depois banhá-las em prata.