Cidadãos dizem que há património em risco no Palácio do Marquês de Tancos
Forum Cidadania Lisboa escreveu ao vereador do Urbanismo e à Direcção-Geral do Património Cultural pedindo que intervenham no restauro “escandaloso” dos interiores do palácio.
Um grupo de cidadãos que pertencem ao Fórum Cidadania Lisboa pediu esta quarta-feira à autarquia a intervenção na obra de restauro que está a decorrer no Palácio do Marquês de Tancos, na zona da Costa do Castelo.
Numa carta dirigida à directora-geral do Património Cultural, Paula Silva, e ao vereador do Urbanismo da câmara de Lisboa, Manuel Salgado, o movimento considera “escandaloso” o restauro que está a ser feito nos interiores daquele “palácio emblemático” da cidade, que está classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1996. Em causa estará a preservação de um conjunto de painéis de azulejos, datados do século XVIII, que estão a ser “entalados” por placas cerâmicas mais recentes.
Agora, aquele grupo de cidadãos argumenta que a autarquia “justificou a aprovação do processo de alterações e ampliação apresentado pelo promotor (…) como contemplando a recuperação e o restauro que se impunham ao palácio”.
“Não se trata de matéria apenas de mau gosto, mas de atentado ao património ali existente, mormente ao seu património azulejar, escrevem os signatários na carta, recordando que essa é precisamente “a sua maior mais-valia patrimonial”.
O edifício, que era propriedade da câmara de Lisboa, foi vendido em hasta pública em Outubro de 2014, rendendo cerca de 5,5 milhões de euros (partindo de uma base de licitação de cinco milhões) à autarquia.
O edifício foi adquirido pelo grupo francês Repotel, através da 2 I Inter Investissements, que, na altura, comprou também o Palácio de Monte Real, onde funcionava um lar de idosos da Santa Casa da Misericórdia, por três milhões de euros.
De acordo com a informação que consta no site da câmara de Lisboa, as origens do Palácio do Marquês de Tancos remontam a 1539, para ser a residência da família Ataíde. Sobreviveu ao terramoto que assolou Lisboa em 1755. Foi passando de mãos em mãos durante cerca de século e meio, mas grande parte do recheio original do edifício, em particular as dezenas painéis de azulejos do final do século XVII a meados do século XVIII, que serão da autoria de Raimundo do Couto e lhe compõe o interior, foram sobrevivendo à passagem no tempo.
Por fora, o edifício, mesmo depois de recuperado, mantém a estrutura original: a fachada horizontal, de linhas sóbrias, rasgada por longas fileiras de janelas rectangulares e pelas varandas balaustradas em ferro e um último andar reservado a águas furtadas.
O imóvel acabou por ser comprado pela câmara de Lisboa em 1981, que o cederia à Companhia de Dança de Lisboa, que lá permaneceu até 2007, altura em que a autarquia ordenou o despejo de bailarinos e do espólio da companhia por existir “perigo iminente de uma catástrofe”, dado o mau estado das instalações. Depois disso, o edifício albergou também de sede da empresa municipal de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural (EGEAC).
No apelo, assinado por 24 cidadãos, o Fórum Cidadania pede à Direcção-Geral do Património Cultural e à câmara de Lisboa que intervenham na obra em curso e que, caso apurem que se trata de “um ‘restauro’ à margem do aprovado” por estas entidades, a empreitada seja mesmo embargada e o promotor sancionado. E recomendam ainda que, no futuro, a autarquia reveja “os critérios acerca da venda do seu património, mormente do seu património classificado”.
Questionada pelo PÚBLICO, a câmara de Lisboa referiu que, na sequência da do apelo feito pelo Fórum Cidadania, "os serviços de fiscalização da autarquia já foram alertados".