Mais de 80% dos alunos do ensino básico derraparam nas provas de aferição
Face aos resultados, Ministério da Educação anuncia que vai reforçar formação contínua dos professores do 1.º, 2.º e 3.º ciclos de escolaridade.
Um susto. É esta a leitura que, em síntese, se pode fazer dos resultados das provas de aferição do ensino básico em disciplinas que até agora não tinham sido submetidas a avaliação externa. Ou seja, delas só se sabia quais as notas dadas nas escolas pelos professores.
História e Geografia de Portugal, no 2.º ciclo, e Ciências Naturais e Físico-Química, no 3.º ciclo, foram as novas áreas avaliadas. Mantiveram-se também as provas de Português e Matemática e a hecatombe, já explicita noutros anos, voltou a repetir-se.
As provas de aferição são elaboradas centralmente pelo Instituto de Avaliação Educativa (Iave) e são as mesmas para todos os alunos sujeitos a esta avaliação, cujos resultados ao contrário dos exames não contam para a nota final.
No 8.º ano de escolaridade, com alunos entre os 13 e os 14 anos de idade, 71% não conseguiram responder às questões relacionadas com a Terra no Espaço na prova, realizada em Junho, que juntou as disciplinas de Ciências Naturais e Físico-Química, mostram os dados agora divulgados pelo Iave.
Se a este grupo juntarmos o dos que responderam com dificuldade, esta percentagem sobe para 94,6%. Na prova pedia-se aos alunos, entre outras perguntas, que calculassem, em unidades astronómicas, a distância de Marte ao Sol ou também, entre outras perguntas, que estabelecessem a relação entre peso e massa ou que referissem duas condições que deveriam estar presentes em Marte para que a vida fosse ali possível.
"Ninguém pode ficar tranquilo"
Ainda no 8.º ano de escolaridade, na prova de Português, 66,5% dos alunos tiveram dificuldades em responder, ou de todo não conseguiram, a perguntas que visavam avaliar o seu domínio da escrita. O mesmo aconteceu, em relação à gramática, com 70,3% dos alunos.
“Ninguém pode ficar tranquilo quando se tem um conjunto tão alargado de alunos que não está a aprender com qualidade”, comentou o secretário de Estado da Educação, João Costa, na apresentação dos resultados à comunicação social, acrescentando que estes dados mostram que o ministério teve razão quando antecipou a realização das provas de aferição para anos mais precoces, de modo a permitir “que as intervenções se façam atempadamente”.
Com a actual turela da Educação, as provas de aferição passaram a realizar-se no 2.º, 5.º e 8.º ano de escolaridade. Antes a avaliação externa, também sob a forma de exames, que contam para a nota, realizava-se nos anos terminais de ciclo.
Da análise feita pelo Iave ressalta o seguinte. “Na prova de Ciência Naturais e Físico-Química (8.º ano), em todas as áreas avaliadas (com excepção da Análise e interpretação de situações experimentais), mais de 80% dos alunos revelaram dificuldades nas respostas ou não conseguiram dar uma resposta apropriada ou não responderam às questões”.
Passando para o 5.º ano de escolaridade (10/11 anos de idade), constata-se que “quer na prova de História e Geografia de Portugal, quer na de Matemática e Ciências Naturais, mais de 50% dos alunos revelam dificuldades na produção das suas respostas (ou não conseguem responder de acordo com o esperado ou não respondem) ”.
O problema da Matemática
A única excepção, no que respeita à prova de História e Geografia de Portugal, diz respeito às questões relacionadas com a localização e quadro natural da Península Ibérica, um domínio em que 54,4% dos alunos conseguiram responder. Mas também nesta prova quase 80% dos alunos responderam com dificuldade ou de todo não conseguiram quando as perguntas incidiram sobre o que se passou em Portugal entre o século XII e o século XVII.
Ainda no 5.º ano de escolaridade, e prosseguindo na análise do Iave, as percentagens de desempenho negativo “aproximaram-se ou ultrapassaram os 80% em todos os domínios/áreas de conteúdo da prova de Matemática e Ciências Naturais, com excepção nesta última das questões relacionadas com a diversidade dos seres vivos e suas interacções com o meio”, onde aquela percentagem desceu para 64%.
Na prova de Matemática, o conteúdo em que os alunos do 5.º ano tiveram mais dificuldade foi o dos números e operações (86,2% de desempenhos negativos), seguindo-se-lhe a álgebra (85,8%) e a organização e tratamento de dados (81,8%).
Para João Costa, fica assim provado que não é "por ter havido um aumento das horas de aulas a Matemática [determinado pelo ex-ministro Nuno Crato] que os resultados se alteram”. Face aos resultados agora conhecidos, o Ministério da Educação decidiu criar uma equipa de especialistas para acompanhar o currículo da Matemática, com vista à concepção de instrumentos de acompanhamento e produção de recomendações. Em todas as áreas, adiantou João Costa, vai ser reforçada a formação contínua de professores.
Diferenças entre escolas
O secretário de Estado adiantou ainda que os responsáveis do Plano Nacional de Promoção do Sucesso Escolar, lançado no ano lectivo passado, vão agora aprofundar as razões que estão na origem de várias escolas terem apresentado taxas de insucesso nestas provas “bastante superiores à média”. “Será um efeito da escola? Do professor?”, questionou.
O presidente do Iave, Helder de Sousa, frisou que estas provas vêm confirmar um “padrão já identificado anteriormente”, que mostra que à medida que os alunos progridem na escolaridade se regista uma “degradação” dos seus resultados. Por exemplo, na prova de Matemática que os alunos do 2.º ano (7/8 anos de idade) realizaram, o seu desempenho foi bastante superior aos seus colegas do 5.º ano.
Os alunos do 2.º ano tiveram também este ano, pela primeira vez, provas nas áreas das Expressões Artísticas e Físico-Motoras. Na primeira área revelaram maiores dificuldades da Educação Musical (38,3% de desempenhos negativos), na segunda o mesmo se passou quando se tratou de ver como lidavam com jogos infantis (33,8% de desempenhos negativos”. Nos outros domínios abordados nas provas de Expressões, mais de 80% dos alunos do 2.º ano conseguiram desempenhos dentro do esperado, frisa o Iave.