Nações Unidas aprovam novas sanções à Coreia do Norte
Com o apoio da Rússia e a da China, Estados Unidos impõem veto às exportações de carvão, ferro e marisco norte-coreanos, assim como a acordos e negócios com empresas do regime.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou no sábado, por unanimidade, novas sanções à Coreia do Norte. A Rússia e a China declararam o seu apoio à resposta da comunidade internacional aos dois testes de mísseis balísticos intercontinentais realizados recentemente pelo regime de Kim Jong-un.
O novo pacote de sanções proposto pelos Estados Unidos inclui a proibição de importações de carvão, ferro, minério de ferro, chumbo, minério de chumbo e marisco, descreve a Reuters. No total, a medida poderá cortar para um terço o valor das exportações anuais da Coreia do Norte, que ronda os três mil milhões de dólares anuais (cerca de 2500 milhões de euros), e que é garantido em larga medida pela China (é o destino de cerca de 70% das exportações norte-coreanas).
Além disso, os países também ficam proibidos de contratar mais trabalhadores norte-coreanos, de estabelecer novos acordos e parcerias com a Coreia do Norte e de realizar novos investimentos em acordos já existentes. Mas tudo isso não deverá ser suficiente, frisam os Estados Unidos. “Não nos enganemos ao pensar que resolvemos o problema. Nem de perto. A ameaça norte-coreana não desapareceu – está a tornar-se cada vez mais perigosa”, afirmou a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Nikki Haley, ao Conselho de Segurança, citada pela Reuters.
É preciso fazer mais, defendeu Haley, frisando que os Estados Unidos continuarão a tomar “medidas defensivas prudentes, para se defenderem a si e aos seus aliados”, incluindo manter os exercícios militares conjuntos com a Coreia do Sul. Uma das acusações da Coreia do Norte tem sido precisamente a de que os Estados Unidos e a Coreia do Sul estão a contribuir para a escalada da tensão na região com a realização destes exercícios.
No Twitter, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sublinhou a unanimidade na decisão desta noite: “O Conselho de Segurança da ONU votou por 15-0 sanções à Coreia do Norte. A China e a Rússia votaram connosco. Grande impacto financeiro!”
Apesar das divisões no Conselho de Segurança relativamente a outras crises internacionais, como a Síria, os 15 membros têm-se mantido em relativa sintonia quanto à forma de lidar com a Coreia do Norte (desde 2006 que o país enfrenta sanções devido ao programa nuclear). Os Estados Unidos estiveram a negociar com a China o novo pacote de medidas e na sexta-feira alargaram as discussões a todo o Conselho.
Aos jornalistas, a embaixadora norte-americana explicou que as negociações com a China “foram duras”, mas que Pequim “soube responder” e “cooperar” com Washington. Na mesa estava a possibilidade de os Estados Unidos também imporem sanções às empresas chinesas que têm negócios com Pyongyang.
Quando questionado sobre a pressão negocial dos Estados Unidos, o embaixador chinês na ONU, Liu Jieyi, frisou que Pequim tem sido consistente com o objectivo de alcançar a desnuclearização, a paz e a estabilidade na Península Coreana e em tentar “relançar as negociações para atingir este fim”. Liu Jieyi afirmou aos jornalistas que a China, tradicional aliada de Pyongyang, se opõe “a qualquer forma de sanções unilaterais aplicadas fora do acordo alcançado no Conselho de Segurança”.
Depois da votação do Conselho, os chineses voltaram a apelar ao diálogo entre o Governo norte-coreano e Washington. As sanções “foram a resposta adequada” aos testes nucleares de Pyongyang, mas “não são a solução”, frisou o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, que esteve reunido este domingo com o seu homólogo norte-coreano Ri Yong Ho (ambos vão participar numa reunião de 27 Estados para discutir questões regionais de segurança, que se realiza na segunda-feira em Manila, capital das Filipinas).
Garantindo que “a conversa foi cordial”, Wang Yi, explicou aos jornalistas que “a China apelou à Coreia do Norte para reagir com ponderação” às sanções das Nações Unidas e “a não fazer nada prejudicial face à comunidade internacional, como um teste nuclear”, mas recusou comentar qual foi a resposta de Ri Yong Ho.
Quanto a Moscovo, até agora havia dúvidas sobre qual seria a sua actuação no dossiê norte-coreano, tendo em conta o momento particularmente tenso que se vive nas relações entre os Estados Unidos e a Rússia devido às investigações à interferência do Kremlin nas presidenciais norte-americanas. “Não somos reféns das nossas relações quando temos de trabalhar juntos em assuntos que são de longe mais importantes”, disse o embaixador da Rússia na ONU, Vassily Nebenzia, à Reuters.
Nebenzia também disse esperar que “fossem sinceras” as afirmações recentes do secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson a propósito da abertura para diálogo dos Estados Unidos com o regime de Kim Jong-un.
“Não queremos uma mudança de regime, não queremos o colapso do regime, não procuramos uma reunificação acelerada da península [coreana], nem uma desculpa para enviar as nossas forças militares” para a fronteira entre as duas Coreias, afirmou recentemente Rex Tillerson aos jornalistas, em Washington.
A nova resolução, que junta novas entidades (particulares e colectivas) à lista negra das Nações Unidas, também vai impedir que mais cidadãos norte-coreanos possam trabalhar no estrangeiro e enviar dinheiro para o país. Segundo um relatório realizado em 2015 por um investigador dos direitos humanos das Nações Unidas, havia mais de 50 mil emigrantes norte-coreanos, principalmente na Rússia e na China, que todos os anos enviavam entre 1200 e 2300 milhões de dólares para o Governo de Kim Jong-un.