Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa demitiu-se

O acordo entre a administração da fábrica de Palmela e a Comissão de Trabalhadores foi chumbado pela maioria do funcionários da Autoeuropa, que mantiveram a greve marcada para 30 de Agosto. Como consequência, a CT apresentou a sua demissão nesta terça-feira.

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DANIEL ROCHA

Segundo um comunicado citado pelo Dinheiro Vivo, “a Comissão de Trabalhadores é um órgão democrático, reconhece que a maioria dos trabalhadores pretende outro caminho, deixamos assim aberto espaço para que outros demonstrem as suas capacidades negociais”. A estrutura liderada por Fernando Sequeira continuará em funções até dia 28 deste mês, dia a partir do qual ficará demissionária. E continua a defender o acordo estabelecido com a administração. 

Em causa está um pré-acordo que prevê que o novo horário de trabalho - exigido pelo aumento de produção estimado com o novo modelo da fábrica, o T-Roc - inclua um pagamento mensal de 175 euros adicionais ao previsto na lei, para além de 25% de subsídio de turno e mais um dia de férias. Tudo junto, este pacote representa um aumento mínimo de 16% no rendimento mensal dos trabalhadores. 

No entanto, os trabalhadores não aceitaram este pré-acordo, tendo 75% chumbado a solução defendida pela CT, numa votação realizada no passado dia 28 de Julho, que contou com a participação 3472 trabalhadores de um total de 4415 inscritos. 

Em declarações à Lusa, o coordenador da Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa, Fernando Sequeira, salientou a legalidade dos horários que a Autoeuropa pretende implantar e foi mais longe, considerando que a medida deverá ir avante. “Conseguimos negociar uma compensação financeira para os horários que a empresa pretende implementar para assegurar a produção do novo veículo T-Roc, sendo que esses horários são legais e deverão ser aplicados pela empresa, apesar desta votação”, disse.

“Receio que os trabalhadores que votaram pelo ‘não’ ao pré-acordo não tenham percebido que pode estar em causa, pelo menos, uma parte da produção do novo veículo T-Roc na Autoeuropa”, acrescentou o coordenador da Comissão de Trabalhadores. 

Contudo, a generalidade dos trabalhadores da infra-estrutura reclama outro tipo de compensação. Em declarações ao Diário da Região, um funcionário da empresa explicou que "na votação, em vez de ser perguntado aos trabalhadores se concordavam com o pré-acordo, fala-se apenas nos 175 euros. Ora, os trabalhadores deixaram bem explícito que o que não querem é a perda do direito do trabalho ao sábado como dia extraordinário”, acrescentando que “os 175 euros propostos é como uma cenoura em que os trabalhadores trocariam a actual remuneração dos sábados a 100%, por 175 euros mensais”.

“Um trabalhador de nível intermédio recebe ao sábado um valor bruto na ordem dos 100 euros, fazendo os quatro de um mês ganharia 400 euros. E é este direito que os trabalhadores não querem perder, trocar 400 euros por 175”, reforçou o mesmo trabalhador.

Esta quarta-feira, o sindicato dos Trabalhadores das Industriais Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Sul (SITE), afecto à CGTP, tem uma reunião marcada com a administração da Autoeuropa. O sindicato assumiu já em comunicado que “para facilitar a negociação” disponibiliza-se “para retirar o pré-aviso de greve para o dia 30 de Agosto”, caso a empresa retire a sua proposta de horário de segunda a sábado.

O novo regime laboral, com trabalho ao sábado e novos horários, é justificado pela empresa com a necessidade de atingir o objectivo de montar mais de 200 mil veículos, na sequência da chegada do novo modelo T-Roc, “quase triplicando os números de 2016”. Nesse ano, saíram de Palmela 85.126 unidades (como o Scirocco), menos 17% face a 2015, revelando-se o pior ano deste indicador desde 2006.

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