O Milhões faz a festa em Barcelos e a cidade acompanha o ritmo

A organização do Milhões de Festa espera receber cerca de 12 mil pessoas para celebrar a décima edição do festival. Depois de uns tempos em que estranhou tamanha enchente, a cidade agora já os acolhe de braços abertos.

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São 12 mil pessoas que chegam a uma cidade com cerca de 20 mil Paulo Pimenta
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São milhares de pessoas que todos os anos por esta altura circulam nas imediações do Parque Fluvial de Barcelos. Raras são as vezes em que as condições climatéricas atraiçoam os forasteiros que se deslocam à cidade minhota, na segunda quinzena de Julho, para um fim-de-semana de música e de convívio feito também nas artérias e praças da localidade. Neste final de semana diz o boletim meteorológico que também vai haver sol e diz o calendário que arranca hoje o festival de quatro dias passados a mil à hora, com festa feita aos milhões nos quatro palcos do recinto – um deles numa piscina e outro que convida à patuscada - e nas ruas da cidade para onde se estende. Regressa o Milhões de Festa que decorre até domingo para assinalar a décima edição do festival, a oitava em Barcelos.

O foco do festival é a música. Desde que o festival se mudou para Barcelos, em 2010, diz a organização que sempre existiu uma ligação natural ao resto da cidade, onde decorrem outras actividades que se realizam fora das quatro paredes do recinto onde o evento está montado. Essa ligação, tendo como ponto de partida a música, faz com que todo o centro de Barcelos se transforme numa extensão do que acontece no parque fluvial e receba uma multidão de cerca de 12 mil pessoas que durante os dias do festival por lá passam todos os anos.

Dias antes do início do Milhões de Festa, num final de tarde, poucas são as pessoas que se vêem passar no centro da cidade e perto das margens do rio Cávado, onde ainda se montam os palcos. No Largo Lord Baden Powel, frente à entrada principal do recinto do festival, está o café Alfaiate. À porta está um grupo de pessoas que prepara o festival e lá dentro está o proprietário Pedro Sá. Tem o café há cinco anos. O prédio onde está situado “há largos anos” servia de atelier para o pai que era alfaiate. Na parte de baixo atendia os clientes, no piso de cima trabalhavam as costureiras. A filha do actual proprietário, antes do café abrir, tinha lá uma loja de venda de papel de parede. Durante o período em que o negócio funcionou eram muitos os que lá entravam a perguntar se ali não era o alfaiate, conta-nos o dono. Pedro Sá sempre quis abrir um café. Após a filha ter encerrado o negócio montou-o no mesmo prédio. Como sempre esteve conotado com a alfaiataria não foi difícil encontrar o nome.   

É agora um dos pontos de passagem obrigatória por alturas do festival. Pedro Sá já faz contas ao tempo e prepara o estabelecimento para receber os festivaleiros. “Barcelos é uma cidade pacata. Durante o ano tenho os clientes habituais. É na altura do festival que mais gente aqui se concentra, dentro e fora do espaço”, diz. “No ano passado, só no primeiro dia, troquei o barril de cerveja por seis vezes”, recorda.

Ao contrário do habitual final de tarde tranquilo de um dia de semana em Barcelos, por alturas do Milhões de Festa a moldura humana que circula pela cidade não passa despercebida. Para o negócio é uma mais-valia, afirma sem dúvidas. Quando o festival arrancou, havia quem não o visse com bons olhos, conta. Actualmente acredita que houve uma mudança. Sobretudo para os comerciantes diz ser uma das melhores alturas do ano.  

O facto de o festival se realizar dentro da cidade proporciona a quem lá vai poder deslocar-se a pé por todo o centro. O Largo da Porta Nova, onde estão montadas as esplanadas de alguns cafés e restaurantes, é outro ponto de paragem. É também ponto de passagem para quem se dirige para o café Historial, no Largo do Apoio, a cerca de 5 minutos a pé do recinto.

Habitualmente fecha às às duas da manhã. No fim de semana grande do Milhões não saem de lá antes das cinco, contam-nos os funcionários. Na parte da frente do estabelecimento está montada a esplanada. A partir de hoje o número de mesas dobra para 30. “Não chegam para tanta gente”, dizem-nos. A maior parte dos que lá passam durante os concertos ou depois de acabarem têm de ficar de pé. 

Todos os caminhos vão dar ao Bar do Xano

Na Rua Bom Jesus da Cruz, antiga Rua da Palha, nome pela qual ainda é conhecida, está o Bar do Xano. Quase todas as pessoas com quem falamos dizem-nos que é um dos espaços de passagem obrigatória para quem passa por Barcelos. “É onde param os artistas da cidade”, diz-nos o proprietário que responde pelo diminutivo Xano. É um local com 80 anos de história. Quem o abriu foi o avô do actual dono, ainda como taberna: “Esta rua estava cheia de tascas. Só se vendia vinho”. Aquela rua, conta-nos era um sítio onde se guardavam os animais dos homens que trabalhavam no campo, daí anteriormente  chamar-se rua da Palha. “À porta ficavam as mulheres com as cestas cheias de petiscos que traziam do mercado. Os homens que lá estavam aproveitavam para petiscar”, explica. Foi assim que foram nascendo alguns restaurantes, como o Porta Nova, onde nasceu o bar há 15 anos. Desde Novembro, o espaço cresceu para o prédio do lado, onde foi montada uma sala com esplanada.

O Bar do Xano é um dos mais procurados por altura do festival. De resto, já foi usado como espaço para a realização de concertos e outras actividades relacionadas com o evento. “Este ano estamos preparados para mais uma enchente”, assegura.

As ruas são o quinto palco

Além dos quatro palcos do recinto, o Milhões, o Lovers, o Taina, que convida também à patuscada, e o da Piscina, onde durante a tarde se pode assistir às actuações enquanto se aproveita o sol e para dar uns mergulhos, há outras actividades a decorrer na cidade.

Este ano, no primeiro dia, que à imagem do que acontece noutras edições é grátis, antes dos concertos começarem no recinto, o festival arranca no mercado municipal, às 18h, com o concerto dos Ensemble Insano. Durante os quatro dias, a Casa do Vinho, na Rua Dom Diogo Pinheiro, abre as portas à exposição, Skatomize, dedicada ao skate. No sábado, também para os amantes do skate há o torneio Milhões de Manobras na Praça de Pontevedra. Os vencedores desta competição habilitam-se a ganhar bilhetes diários para o festival.

Na matéria de concertos há actuações que serão realizadas nas ruas de Barcelos. No sábado, os Bitchin Bajas, e no domingo, os Riding Pânico, tocam às quatro horas em local a anunciar no próprio dia na aplicação móvel do Milhões de Festa.

Paralelamente às actividades organizadas pelo festival decorre a partir de dia 22 o Triliões de Festa, no areal de Barcelinhos, organizado pela Favela Discos, a The Morning After The Night Before, no D'Outro Lado bar, também em Barcelinhos, pela mão da PARVA , e o PÓS Milhões, da responsabilidade da ÁCIDA, com concertos e actuações de DJ's.    

São 12 mil pessoas que a organização conta receber durante os quatro dias de festival. Público que numa cidade com cerca de 20 mil habitantes se faz notar. Para Nuno Almeida, habitante de Barcelos, fazem-se notar pelos melhores motivos. Se no primeiro ano de festival “havia alguma desconfiança” por parte de alguns munícipes, hoje o festival é aceite pela maior parte das pessoas: “Quem cá vem é pacífico e causa um grande impacto na cidade. Não só é apelativo em termos de animação como também ao nível do comércio, que só tem a ganhar”.

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