Protesto dos enfermeiros: Alfredo da Costa com quase metade dos blocos de parto
Há quatro grávidas internadas para terem os filhos, mas só há seis camas e três enfermeiros especialistas na Maternidade Alfredo da Costa.
Os blocos de parto foram reduzidos para quase metade e só estão três enfermeiros em funções, quando costumam ser 15, anuncia Bruno Reis, líder do Movimento de Enfermeiros Especialistas em Saúde Materna e Obstetrícia, nesta quinta-feira. A Maternidade Alfredo da Costa (MAC) encontra-se perto do seu limite de capacidade, visto que dos 11 blocos de parto apenas seis estão a funcionar e já há quatro grávidas internadas para terem os filhos, avança a Lusa.
São estes os mais recentes efeitos do protesto de enfermeiros especialistas, que exigem ser pagos pelas funções que exercem.
Bruno Reis, líder do movimento, dá pormenores sobre a situação: “Na sala de partos da MAC só há um enfermeiro especialista, a vigilância materno-infantil não conta com nenhum e na consulta externa está apenas um enfermeiro especialista.”
O gabinete de comunicação da MAC adianta que “dos seis enfermeiros especialistas que estavam escalados para a Urgência Ginecológica e Obstétrica do polo Maternidade Dr. Alfredo da Costa, três estão a desempenhar o seu papel como habitualmente” e que “a segurança das doentes internadas na Medicina Materno-Fetal encontra-se garantida com o apoio da Urgência”.
Nesta quinta-feira, o protesto também chegou ao Centro Materno Infantil do Norte, no Porto, e ao Centro Hospitalar da Cova da Beira, na Covilhã.
Só um especialista no CMIN
Fonte oficial do Centro Materno Infantil do Norte (CMIN) disse que o protesto não produziu “nenhum efeito nos serviços” e que “está tudo a funcionar normalmente”. Bruno Reis contraria estas declarações e acrescenta: “No CMIN, nos turnos de grávidas, onde costumam estar dois especialistas, só ficou um. No puerpério [pós-parto] não há nenhum. A sala de partos ainda está assegurada pelos mínimos, mas nesta sexta-feira só vai haver um especialista para todas as grávidas.”
Para já, segundo o porta-voz, “os hospitais estão a tentar manter a vigilância materna total em qualidade muito baixa porque os recursos são escassos”: “O trabalho que deveria ser feito por enfermeiros está a ser dividido por médicos, internos e enfermeiros" que não estão no protesto.”
Num comunicado enviado à comunicação social, a Ordem dos Enfermeiros “reitera a sua total solidariedade com os enfermeiros especialistas e todos os enfermeiros que lutam pelo reconhecimento das suas competências” e diz sentir uma “preocupação extrema com a falta de resposta e de soluções por parte do Governo para a situação.”
No resto do país
Com 80% dos enfermeiros especialistas em protesto, o líder do movimento explica que as repercussões vão ser sentidas “a curto-médio prazo”: “É importante perceber que este protesto começa a manifestar-se mais com o cansaço de equipas que estão a tentar fazer o trabalho de todos. Quando deveríamos estar sete enfermeiros a prestar os cuidados e só está um, ao final de uma semana, isso começa a manifestar-se.”
Bruno Reis explica as consequências que estão a ser sentidas ao longo do país: “Nos Açores, onde deviam estar cinco especialistas, estão só dois e as vigilâncias estão a ser feitas por médicos e através do pagamento de horas extra. Em Guimarães, há grávidas que estão a ser transferidas e a assinar termo de responsabilidade – onde costumam estar seis parteiras, só estão duas. O S. João [no Porto] não tem capacidade de resposta. Em Gaia, onde deviam estar quatro especialistas estão dois e são as chefias que estão a tentar assegurar os turnos. Na Covilhã, o bloco de parto está a ser assegurado através de horas extras. Aveiro mantém turnos a fio sem especialistas, está tudo a ser assegurado por médicos. O Centro Hospitalar do Oeste só tem um especialista quando deviam ser três. O Amadora-Sintra também. Setúbal está a transferir as grávidas e Évora tem especialistas em pagamento de horas extras para manter a sala aberta.”
Texto editado por Pedro Sales Dias