A "marcha pela justiça" está a chegar a Istambul e ao confronto com Erdogan

Movimento de protesto contra a repressão lançado pelo maior partido de oposição da Turquia vai ter ponto alto domingo, a uma semana do aniversário da tentativa de golpe de Estado.

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A marcha entre Ancara e Istambul teve no último trecho 50 mil pessoas Osman Orsal/REUTERS

São 50 mil pessoas a andar pela Turquia fora, em nome da justiça, numa marcha iniciada por Kemal Kilicdaroglu, o líder do maior partido da oposição na Turquia. Esta sexta-feira, entraram na recta final da viagem de 450 km, que os levou de Ancara a Istambul, para onde está marcada uma grande manifestação no domingo, apoiada pela terceira maior força com representação parlamentar, pró-curda.

Isto acontece uma semana antes do primeiro aniversário da tentativa de golpe de Estado contra o Presidente Recep Tayyip Erdogan, que desencadeou uma repressão maciça, com prisões e despedimentos na função pública, e perseguições a seguidores do movimento do imã Fethullah Gülen, ex-aliado de Erdogan na sua estratégia de promoção da islamização da Turquia e agora declarado “terrorista”.

“Milhares de funcionários públicos, professores e jornalistas foram detidos ou despedidos e ninguém pode falar. Esta marcha foi feita para despir esta camisa de medo, pela justiça, e estou satisfeito por poder dizer que alcançámos o nosso objectivo”, disse à Reuters Kilicdaroglu, líder do Partido Republicano do Povo (social-democrata), já nos arredores de Istambul.

Com um boné com a palavra justiça (adalet, em turco), Kilicdaroglu, de 68 anos, prometeu “lutar dentro e fora do Parlamento pela justiça”, ainda que um referendo realizado em Abril tenha aprovado uma nova Constituição que reforça os poderes dos Presidente e reduz os dos deputados e do Governo. “A batalha no Parlamento vai tornar-se mais dura, porque querem mudar os regulamentos, para limitar o nosso direito a falar”, alertou. “A luta pode sair para as ruas”, avisou.

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"Alcançámos o nosso objectivo”, disse Kilicdaroglu, líder do Partido Republicano do Pov Ziya Koseoglu/REUTERS

O Governo turco está a utilizar o estado de emergência declarado após a tentativa de golpe de Estado e o âmbito demasiado amplo e vago da lei antiterrorismo para silenciar a oposição política – vários organismos internacionais o têm dito, e a União Europeia tem pedido moderação a Ancara, embora sem efeitos práticos.

Os líderes, dezenas de deputados e autarcas do Partido Democrático do Povo (HDP, pró-curdo), a terceira maior força parlamentar, estão detidos, muitos deles desde o fim do Verão passado, quando houve uma grande vaga de detenções no Curdistão turco. São considerados suspeitos de ligações ao Partido dos Trabalhadores do Curdistão, classificado como organização terrorista. Ao todo, cerca de cinco mil militantes do HDP foram detidos, diz a Reuters.

Selahattin Demirtas, um dos co-líderes do HDP, preso desde dessa altura, recusou nesta sexta-feira comparecer a uma sessão do seu julgamento em Ancara porque a polícia não lhe tirou as algemas. Demirtas, deputado e advogado, recusou-se a ser transportado algemado. O Ministério Público turco pede 142 anos de prisão para Demirtas e 83 para a co-líder do HDP, Figen Yuksekdag, por espalharem “propaganda terrorista, insultos ao povo turco, ao Governo e às instituições estatais.”

A marcha pela justiça é o maior protesto contra o Governo desde 2013, e foi iniciada porque um deputado do CHP foi condenado a 25 anos de prisão por ter sido considerado a fonte de um vídeo, divulgado pelo jornal de referência Cumhurriyet, em que se viam camiões dos serviços secretos turcos a levar armas para a Síria.

O Presidente, dizem vários analistas, está a sentir-se incomodado por este movimento, que parece ter um apoio demasiado amplo. Erdogan chama-lhes “parceiros voluntários na traição à nação.” Há receio de confrontos com partidários de Erdogan em Istambul.

 

 

 

 

 

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