Momentos de crise

Devemos preservar a nossa imagem enquanto Estado de direito democrático, na proporção exata daquilo que pretendemos alcançar: a verdade dos factos.

A palavra crise deriva do grego “krisis” e está intimamente ligada à medicina. “Krisis” significa a existência de uma situação crítica, cuja deterioração poderia resultar na morte. Aplicado ao plano das relações politicas, o seu significado representa um período de instabilidade, uma fase transitória, um ponto de viragem entre duas situações. Em suma, uma situação que se caracteriza pela ameaça aos objetivos do Estado ou de um grupo, bem como pela incerteza quanto às reais intenções do adversário e pelo perigo de escalada da violência ou qualquer outra ameaça.

À profundidade de uma crise associa-se de imediato os efeitos consequentes da mesma nas diversas dimensões. De Pedrógão a Tancos e de Tancos a Pedrógão, é certo que a atualidade é marcada por momentos de incerteza, dor, angustia, sofrimento, instabilidade e incerteza politica.

Se em relação à calamidade de Pedrógão, Gois, Figueiró dos Vinhos, Castanheira de Pera e Pampilhosa se assistiu a uma onda de solidariedade nacional onde os valores do humanismo e da solidariedade foram os que sobressaíram e prevaleceram, já no que toca ao mistério de Tancos, as posições e motivações se distanciam dos parâmetros da tolerância e da necessária contenção institucional, neste período de análise e investigação. A pressa, a urgência e o desespero de muitos para que rolem cabeças imediatamente atropela o discernimento necessário às tomadas de decisão, tanto por parte do primeiro-ministro, como do Presidente da República.

Tanto um caso como o outro são graves? Claro. Evidente. Gravíssimos! Cada um na sua proporção, cada um na sua própria dimensão, cada um envolvendo poderes e instituições publicas diferentes. Se têm de se apurar responsabilidades? Se tem de haver assunção efetiva de responsabilidades? Claro. Evidente que sim! Mas deve haver também compreensão e alguma contenção sobre o tempo necessário e certo para as averiguações, investigações e devidas conclusões.

Acredito nas instituições, acredito no primeiro-ministro e no Presidente da República. Situações extraordinariamente atípicas e condenáveis, por mais indesejáveis que sejam e pela forma negativa como afetam o curso natural da vida dos Estados e das organizações, acontecem.

Se, relativamente à calamidade de Pedrogão, o tempo (a par do desenvolvimento natural mas urgente dos inquéritos) é de reconstruir solidariamente e institucionalmente aqueles territórios, em relação a Tancos, o mesmo tempo é de investigação para aferir responsabilidades.

Vamos assistindo a cada dia, seja através da imprensa, seja através da oposição ao Governo, à exigência de palavras, à exigência de demissões, à chacota sobre a dignidade das instituições, a chacinas públicas personalizadas sobre o muito, mas para o que ainda não existem respostas. A ansiedade e procura de respostas é legitima e absolutamente necessária, tanto por parte de todos os portugueses, como dos partidos da oposição e por parte das instituições.

O que aconteceu nestes dois momentos distintos da nossa história é grave, doloroso e perigoso sobre vários pontos de vista e precisa ser esclarecido. Um esclarecimento cabal e detalhado sobre todos os acontecimentos, bem como as devidas consequências dadas a conhecer ao país.

Homens e mulheres passam, ciclicamente, pela vida das organizações, mas estas ficam, mantêm-se, perduram na história do nosso e outros tempos e devem manter-se incólumes, a bem da soberania nacional, da segurança e estrita salvaguarda dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos e cidadãs portugueses. Devemos preservar a nossa imagem enquanto Estado de direito democrático, na proporção exata daquilo que pretendemos alcançar: a verdade dos factos.

Aguardemos e confiemos na total e inequívoca responsabilidade e competência politica dos responsáveis políticos, primeiro-ministro e Presidente da Republica, ambos eleitos para defender a nossa pátria e a salvaguarda plena e estabilidade das instituições. Assim o farão. Eu confio!

A autora escreve segundo as normas do novo Acordo Ortográfico

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