Incêndios: primeiro semestre de 2017 já é aquele com maior área ardida da última década

Pedrógão Grande e os incêndios do Pinhal Interior contribuíram fortemente para os mais de 61 mil hectares consumidos. Nove dias de Junho são "o período mais severo de 2017".

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Adriano Miranda

Na última década, este foi o ano em que mais área ardeu em Portugal durante o primeiro semestre. O incêndio de Pedrógão Grande é o grande responsável pela quantidade recorde de área ardida, um total de 61.624 hectares entre 1 de Janeiro e 30 de Junho, segundo um relatório provisório de incêndios florestais do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Há quase seis vezes mais área ardida relativamente à média dos últimos dez anos, destacam os peritos, e só na região do Pinhal Interior entre Leiria e Coimbra arderam 43 mil hectares.

O efeito de Pedrógão é notório na análise mensal dos dados do ICNF: “O período mais severo de 2017” até à data “ocorreu entre 16 e 24 de Junho. Esses nove dias de Junho”, lê-se no documento, são “a segunda pior série de nove dias seguidos (no primeiro semestre do ano) dos últimos dez anos”.

De acordo com a base de dados nacional de incêndios florestais, naquele período registaram-se “6641 ocorrências (1662 incêndios florestais e 4979 fogachos) que resultaram em 61.624 hectares de área ardida de espaços florestais”, dos quais 41.920 hectares de povoamentos e 19.704 hectares de matos. Em 2012, por exemplo, no primeiro semestre do ano tinham-se registado quase 10.500 incêndios florestais e fogachos, mas estes corresponderam a uma área total ardida de 36.436 hectares – este ano, o número de incêndios foi menor mas a extensão e duração de fogos como o que assolou a região de Pedrógão durante vários dias de Junho fez o total de área ardida subir significativamente.

O relatório destaca que o distrito mais afectado no que toca precisamente à área ardida foi o de Leiria – é ali que está 41% da zona queimada, com 25.100 hectares consumidos pelo fogo. “O incêndio que provocou maior área ardida no distrito de Leiria teve a sua origem na freguesia de Pedrógão Grande do concelho de Pedrógão Grande e consumiu 20.072 hectares de espaços florestais (80% do total ardido no distrito)”, precisa o relatório.

Os fogos de Pedrógão causaram 64 mortos e mais de duzentos feridos, além de terem afectado perto de 500 casas e causado prejuízos de cerca de 20 milhões na agricultura e vitimado mais de 1500 animais. O gigantesco incêndio que deflagrou dia 17 de Junho é responsável por 43.228 hectares de povoamentos e matos consumidos pelas chamas nos distritos de Leiria (Pedrógão Grande – 20.072 hectares; concelho de Figueiró dos Vinhos, freguesia de Aguda – 4169 hectares; concelho de Alvaiázere, freguesia de Maçãs de Dona Maria – 634 hectares) e Coimbra (Góis, Alvares – 16.021 hectares;  Penela, Espinhal – 2332 hectares).

A TSF cita dados adicionais do ICNF a que teve acesso e que contabilizam que no total, os fogos da zona do Pinhal Interior consumiram 46 mil hectares, espalhados por dez concelhos (Figueiró dos Vinhos, Pedrógão Grande, Góis, Pampilhosa da Serra, Sertã, Castanheira de Pêra, Penela, Alvaiázere, Ansião e Oleiros).

Se Junho foi “claramente o mês do ano em que se verificou maior área ardida”, como escreve o ICNF, ainda assim, o relatório mostra que não foi só em meados de Junho que os números dos incêndios começaram a destacar-se dos do período homólogo da restante década. Também em Janeiro, Abril e Junho houve mais ocorrências do que a média do decénio 2007-2016. E mesmo em Maio houve quase três vezes mais ocorrências do que a média dos últimos dez anos. Nestes meses, a dimensão da área ardida foi também maior.

Neste primeiro semestre houve 31 grandes incêndios (aqueles que consomem mais de 100 hectares). Nos distritos com mais ocorrências registadas – Porto (1324), Braga (870) e Viseu (704) – a maioria desses registos corresponde a fogachos, ou incêndios de pequena dimensão. 

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