Pedrógão: Veterinários pedem apoios para animais de criação até à Primavera

Para grande parte dos moradores da zona afectada pelos incêndios, onde morreram cerca de 1500 animais, a sobrevivência passa pela criação.

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OMV pede integração de veterinários no plano de acção da Protecção Civil Adriano Miranda

A Ordem dos Médicos Veterinários (OMV) pede que a ajuda às populações das localidades afectadas pelos incêndios da região centro se mantenha, pelo menos, até à próxima Primavera, quando deverá voltar a haver pasto para alimentar os animais. Os veterinários trataram mais de mil animais.

"Aquelas pessoas não têm capacidade económica para comprar alimentos para dar todos os dias aos animais até à próxima Primavera", alertou o bastonário da OMV, Jorge Cid, em declarações à Lusa.

O bastonário recordou que para muitos dos habitantes a sobrevivência passa pelos animais de criação, e que se não houver continuidade nas ajudas "o problema começa a ser outro": o de os animais passarem fome e o de as pessoas não terem como se sustentar.

No decurso dos grandes incêndios das localidades de Pedrógão Grande, Castanheira de Pêra e Figueiró dos Vinhos, a OMV abriu uma conta solidária para ajudar os animais afectados pela catástrofe, e que esteve aberta a donativos até ao último dia de Junho. Jorge Cid disse ainda não ter números concretos sobre as verbas angariadas, mas parte será usada para pagar contas agora que a OMV entra também ela "no rescaldo" do incêndio.

Muitas das ajudas recebidas chegaram em forma de donativo, mas algumas empresas só tiveram capacidade financeira para oferecer metade do valor do material disponibilizado, outras nem isso.

Tudo isso são contas que a Ordem terá agora para pagar, "o problema seguinte", como o referiu Jorge Cid, que frisou que a prioridade foi sempre fazer chegar a ajuda onde ela precisava.

Num esforço conjunto dos médicos veterinários, com "resultados históricos" em termos de solidariedade, Jorge Cid diz que, elogiando a disponibilidade de laboratórios e empresas, disse que "não faltou praticamente nenhum tratamento a qualquer animal", nem alimentação.

"Com aquele aparato todo da fuga os animais ficaram todos para trás e a seguir não havia resposta nenhuma no terreno para dar, nomeadamente tratar os animais queimados e feridos, reunir os que tinham fugido, enterrar os mortos e alimentar os que estavam vivos", resumiu o bastonário.

Profissionais querem integrar Protecção Civil

A Ordem dos Veterinários quer ainda que a Protecção Civil passe a integrar veterinários no âmbito de um plano de contingência para animais em situação de catástrofe, o qual se prepara para discutir com o Governo.

As reuniões com o Ministério da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural e com o Ministério da Administração Interna já estão pedidas e a expectativa do bastonário da OMV é a de que aconteçam entre esta semana e a próxima.

"Fomos confrontados com uma falta de um plano que desse resposta imediata a estas situações. Vamos propor à tutela, ao Ministério da Agricultura e ao da Administração Interna, para além de haver uma petição em que os médicos veterinários pedem para integrar a Protecção Civil, para criar um plano para poder resposta", disse o bastonário dos veterinários.

Jorge Cid disse ainda perceber que para a Autoridade Nacional de Protecção Civil, "a prioridade são as pessoas" mas defendeu que "tem que haver um plano paralelo, que inclua não só veterinários mas também engenheiros zootécnicos e outros profissionais, que possam ocupar-se da parte animal".

"A Protecção Civil, que está preparada para acorrer a situações de catástrofe a nível humano, na parte animal não estava, sobretudo nesta zona, de minifúndio", em que foi preciso acorrer a pequenas propriedades muito espalhadas, com poucos animais em cada uma, o que só foi possível devido ao conhecimento que os veterinários locais — municipais e dos serviços de saneamento — tinham da região, dos proprietários, e dos próprios animais, legalmente obrigados a um registo.

A resposta governamental chegou três dias depois do início dos fogos, consequência da "pouca agilidade" de uma "máquina burocrática" que respondeu "demasiado tarde" para permitir salvar todos os animais.

"Sentimos que não havia nada preparado. Se a OMV não tem avançado de imediato, logo no domingo, esses animais teriam morrido todos", disse o bastonário.

Jorge Cid afirmou que, mais do que o sustento de muitas pessoas daquelas localidades, estes animais são, para a maioria, "uma espécie de complemento de vida", e a sua razão de viver, alertando as autoridades para a necessidade de olharem para estes casos "para além dos números" e das questões financeiras.

O primeiro passo que a OMV pretende dar é o da criação de um grupo de trabalho que defina aquilo que venha a ser o plano de contingência animal, mas este terá necessariamente que prever, segundo Jorge Cid, a disponibilização imediata de ajuda para animais e a definição de zonas de resgate e acolhimento, onde estes possam permanecer em segurança até haver condições para regressarem a casa.

É preciso também que se pense o transporte de animais — não só de companhia, mas também os de exploração e, eventualmente, de grande porte, supondo que um parque ou zoológico possa ser atingido por uma catástrofe — e, igualmente importante para os veterinários, um plano de recuperação e salvamento da fauna selvagem.

"Uma das coisas que tentámos fazer no terreno foi, depois de contactar uma empresa que nos forneceu cereais, pôr junto às orlas queimadas cereais para a fauna selvagem poder sobreviver, uma vez que ficou com a alimentação muito reduzida", referiu Jorge Cid sobre o caso do incêndio de Pedrógão Grande.

Nestes incêndios, e em "tempo recorde", disse Jorge Cid, os veterinários conseguiram reunir, contactando laboratórios e empresas de alimentação, não só os medicamentos e material necessário para tratar os animais feridos, como a alimentação que precisavam no imediato.

Foram reunidos e imediatamente deslocados para a região, depois de as empresas garantirem o transporte, uma tonelada de alimentação composta para animais de companhia, 60 toneladas de feno e 40 toneladas de ração para animais de exploração.

Sem isto, teriam morrido muitos mais, disse o bastonário, que estima que cerca de 1500 animais de exploração tenham morrido nos incêndios, num universo de cerca de 4000.

Sobre o plano de contingência, Jorge Cid diz não ter estimativas de custos, mas garante que sai mais caro não o ter.

"Não vamos pensar que somos um país rico e que vamos ter um plano altamente sofisticado, mas também não podemos estar completamente desfalcados. No meio-termo estará a virtude. É evidente que custará dinheiro, mas pouparia muito dinheiro", disse.