No balanço de mandato de Medina toda a oposição viu o início da campanha
O autarca e candidato do PS só tinha de falar dos últimos dois meses, mas falou dos últimos quatro anos. E não se livrou de críticas ao balanço positivo que fez.
Prevê a lei que os presidentes de câmara apresentem periodicamente uma informação escrita à assembleia municipal sobre o trabalho dos dois meses anteriores. Mas Fernando Medina não foi de modas esta terça-feira e, em vez de se cingir aos últimos meses, aproveitou para fazer um balanço geral do mandato autárquico prestes a terminar.
Tanto as palavras como o diagnóstico foram muito semelhantes ao que o presidente da câmara tem dito nas últimas semanas, mas Medina é agora também o candidato do PS às próximas eleições – e, por isso, toda a oposição o acusou de ter usado a assembleia municipal para fazer campanha.
“Creio que se impõe um balanço daquilo que foi feito”, disse o autarca no início da intervenção, que durou quase 50 minutos e na qual elencou inúmeras medidas tomadas. “Há uma palavra que podemos dizer com confiança nos olhos dos lisboetas: nós cumprimos”, afirmou. Abordou de seguida a redução da dívida, o rápido pagamento a fornecedores e a política tributária, mas salientou também o turismo, a reabilitação urbana, as obras nos espaços públicos e o Programa de Renda Acessível, recentemente lançado.
“Como de costume, e já é quase um pleonasmo, esta informação escrita é uma nulidade que nada acrescenta a Lisboa”, comentou Magalhães Pereira, do PSD, que classificou o documento apresentado por Medina como “um simples exercício de propaganda e auto-satisfação, enchendo páginas e páginas de banalidades”. Também em jeito de balanço, o social-democrata resumiu que “a marca fundamental do executivo é a prioridade que dá ao que enche o olho, às obras de fachada”, enquanto “a cidade está transformada num estaleiro a céu aberto, com um trânsito caótico”.
“O senhor presidente deve ter-se equivocado, parece que acabámos de assistir a uma sessão de campanha eleitoral”, criticou Cláudia Madeira, de Os Verdes. A deputada pediu à câmara que exerça pressão sobre o Metro para que seja criado um elevador na estação da Baixa-Chiado e, tal como outros grupos parlamentares, criticou as políticas de habitação da autarquia socialista. “Esta maioria não leva o direito à habitação a sério”, lamentou. “Não chega identificar o problema, é preciso resolvê-lo. É preciso menos propaganda e mais casas.”
Foi o que também disse Ricardo Robles, do Bloco de Esquerda. “Todos os dias Lisboa perde habitantes. Continuam os despejos, continuam a ser expulsos lisboetas”, afirmou o deputado, também candidato autárquico, que concentrou críticas ainda noutro ponto: a mobilidade. “A mobilidade na cidade é hoje uma catástrofe”, declarou, acusando Medina de nada dizer perante os problemas do Metro e dos transportes públicos. E ironizou: “Estiveram 10 anos à frente da câmara, mas agora é que é, agora é que vão tratar da habitação e dos transportes”.
Medina responderia mais tarde que considerava a crítica injusta porque, lembrou, “este é o mandato em que a Carris regressa à câmara”. E, sobre o Metro, disse que não passou para gestão camarária porque a autarquia não tem “capacidade neste momento”.
Pelo PCP, Carlos Silva Santos declarou com ironia que “foi aberta formalmente a pré-campanha”, algo “que já vinha sendo feito pelo PS nos últimos meses”. O comunista criticou a “pressa e atropelamento em mini-inaugurações” de obras e “o afunilamento, para final do mandato, de projectos urbanísticos importantes”. E concluiu: “Sem a nossa vigilância crítica, muitos problemas se teriam agravado”.