LEFFEST muda-se para Sintra com Isabelle Huppert a abrir a porta
Festival dirigido por Paulo Branco realiza-se entre 17 e 26 de Novembro e passa a chamar-se Lisbon & Sintra Film Festival. Os primeiros nomes foram apresentados em conferência de imprensa.
É o seu rosto que está no cartaz, é o seu nome que é o primeiro dos chamarizes para o Lisbon & Sintra Film Festival. Isabelle Huppert, provavelmente a melhor actriz do mundo, uma figura que “atravessa todo o cinema moderno”, é a convidada principal da 11.ª edição do festival dirigido pelo produtor Paulo Branco, a ter lugar de 17 a 26 de Novembro e se transfere do eixo Estoril-Cascais para Sintra. Branco, ladeado pela vereadora da cultura de Lisboa, Catarina Vaz Pinto, e pelo presidente da câmara de Sintra, Basílio Horta, apresentou na tarde desta sexta-feira em conferência de imprensa no Palácio de Queluz as primeiras novidades para 2017.
Para além da homenagem à actriz de Ela, que combinará uma longa retrospectiva ainda em preparação (que terá “entre 60 a 80 filmes”) com a exposição Woman of Many Faces (A Mulher dos Muitos Rostos), reunindo fotografias de Huppert por Nan Goldin, Henri Cartier-Bresson, Robert Frank ou Helmut Newton (a decorrer no MU.SA a partir de 18 de Novembro), Paulo Branco anunciou ainda a vinda a Portugal do encenador Peter Brook, dos músicos Gideon Kremer e Alain Planès, do escritor Enrique Vila-Matas e da artista Dominique Gonzalez-Foerster, e retrospectivas dedicadas a João Mário Grilo e ao realizador português radicado em França, José Vieira.
Embora o festival se transfira este ano para Sintra e altere a sua designação para Lisbon & Sintra Film Festival, a sigla pelo qual ficou conhecido — LEFFEST — mantém-se inalterada. Paulo Branco não quis fazer comentários sobre a mudança de local, mas não fechou a porta a um futuro regresso e fez questão de agradecer o apoio prestado pela Câmara Municipal de Cascais, “pois permitiu ao festival continuar a existir”. Branco sublinhou, entretanto a “energia e o entusiasmo” da equipa da Câmara Municipal de Sintra, “inexcedível a abrir portas e encontrar espaços à altura do renome que o festival já tem”; Basílio Horta agradeceu-lhe o convite, aceite porque “investir na cultura não é uma despesa mas é um investimento”.
“Mais cultura equivale a mais qualidade de vida e mais cidadania”, explicou o autarca, para quem o LEFFEST pode simultaneamente atrair ao concelho um outro tipo de visitantes e ir “onde as pessoas estão”, buscar “um público que está arredado da cultura”. Nessa ordem de ideias, é desejo do festival este ano realizar um trabalho alargado e mais específico com as escolas do concelho (estando programados ciclos especialmente dedicados a públicos mais jovens com filmes de Buster Keaton e Jiri Trnka) e as populações mais idosas. O entusiasmo da autarquia sintrense exige à organização, segundo Paulo Branco, uma “responsabilidade redobrada”, justificando também a antecipação da divulgação (mesmo que ainda longe de completa) do programa desta 11.ª edição.
A facilidade de Isabelle Huppert em passar do teatro para o cinema vai de encontro à dimensão multidisciplinar do evento dirigido por Paulo Branco, que anunciou nesta tarde a vinda a Portugal do lendário encenador Peter Brook com Battlefield, a sua recente re-abordagem/reinvenção do Mahabharata com a colaboração de Marie-Hélène Estienne. Battlefield será representado no Teatro D. Maria II a 24 e 25 de Novembro, sendo acompanhado por uma selecção dos filmes realizados por Brook. O cruzamento cinema/música/artes plásticas continuará com “programas duplos” de filmes-concerto: o violinista Gidon Kremer mostrará o seu filme sobre os refugiados realizado com Sandro Kanchali, Images of the East, acompanhado por um concerto seu com a violoncelista Giedré Dirvanauskaité; o pianista Alain Planès actuará depois da exibição do documentário que Dominique Lemonnier lhe dedicou, L’Infini turbulent. Mónica Calle apresentará igualmente, a 17 e 18 de Novembro, a nova versão da sua peça multidisciplinar Ensaio sobre a Cartografia; e o escritor Enrique Vila-Matas virá mostrar a sua conferência Radicalmente No Original, numa versão especialmente “comentada” por uma performance da francesa Dominique González-Foerster.
A programação de cinema ficou praticamente toda por revelar – faltam ainda cerca de seis meses e festivais importantes como Locarno ou Veneza – mas o director avançou já retrospectivas da obra de dois cineastas portugueses que “não são suficientemente conhecidos”. São eles João Mário Grilo, autor de O Processo do Rei ou Os Olhos da Ásia (será uma retrospectiva integral), e José Vieira, cineasta documental nascido em Portugal mas radicado em França desde muito jovem, de quem vimos já alguns filmes no Doclisboa, por exemplo. Branco avançou também a presença para masterclasses e encontros com o público de Raoul Peck (Eu Não Sou o Teu Negro), e Abderrahmane Sissako (Timbuktu), bem como do realizador de A Rainha e Ligações Perigosas, Stephen Frears (sujeito ainda a confirmação). Confirmado está já o Simpósio Internacional que é marca registada do LEFFEST, a decorrer este ano a 24 e 25 de Novembro no Olga Cadaval, e que terá como tema, sob a curadoria dos especialistas Marie-Laure Bernadac e Bernard Marcadé, “Pode a Arte Ainda Ser Subversiva?”.
Confirmados estão para já os espaços dos cinemas Monumental e Nimas (geridos por Paulo Branco) e do D. Maria II em Lisboa, e do Centro Olga Cadaval, do Palácio Nacional de Sintra e do MU.SA no concelho de Sintra, esperando Branco confirmar até Novembro a inclusão dos palácios de Monserrate e Queluz e do teatro da Trindade na lista de salas.