Ariana Grande estreou-se em Portugal num Meo Arena preparado para o pior
A cantora de 23 anos esteve em Lisboa, no terceiro concerto após o ataque de Manchester, onde 22 pessoas morreram vítimas de um ataque terrorista no final do seu concerto.
"I'm stronger than I've been before", canta Ariana Grande para os cerca de 15 mil espectadores que receberam a artista no seu terceiro concerto após o ataque terrorista em Manchester, na passagem da digressão pela cidade britânica. Depois da música, as palavras da cantora – escassas ao longo de toda a sua actuação – arrancaram um dos momentos mais aplaudidos da noite. Os gritos de uma multidão jovem não deixam perceber com clareza a mensagem, mas ouvem-se uns emocionados "obrigados" da cantora. Mais palmas e gritos. Ariana respondeu enviando beijos para os fãs, que os receberam de braços no ar.
O ataque de Manchester ainda é recente e deixou sequelas visíveis durante a noite de domingo, em Lisboa, onde a estreia de Ariana Grande em Portugal acontece apenas 20 dias após o ataque terrorista na Arena de Mancehester. O ataque, o mais mortal no Reino Unido nos últimos 12 anos, matou 22 pessoas e deixou ferias várias dezenas de fãs que abandonavam o final do concerto da cantora de 23 anos. Uma semana depois do ataque, Ariana organizou um concerto dedicado à recolha de fundos para apoio às vítimas. Ao palco subiram várias estrelas da música pop, entre as quais Coldplay, Justin Bieber, Miley Cyrus. Liam Gallagher também subiu ao palco e criticou, mais tarde, o irmão Noel por não ter feito o mesmo – as canções dos Oasis foram tocadas na mesma.
Este domingo, em Lisboa, a segurança no Meo Arena foi reforçada e até os fotógrafos foram proibidos de entrar no recinto, por ordem da equipa de Ariana Grande, tinha avisado na véspera a promotora Everything is New. O aparato policial é visível à medida que nos aproximamos da zona do pavilhão, cujas portas abrem às 17h30. As filas que se acumulam ainda uma hora depois denunciam a segurança apertada pela qual os fãs da cantora têm de passar.
"Tragam os bilhetes na mão, por favor", avisa um dos agentes de megafone na mão no primeiro ponto de controlo. A fila começa a formar-se a cerca de 70 metros das portas do Meo Arena, onde já só se entra depois de mostrar os bilhetes. Aí, orelhas de coelho e de gato imitam os acessórios usados pela cantora e completam as t-shirts com apontamentos cor-de rosa da digressão Dangerous Woman que vão desenhando a fila de crianças e jovens, grande parte acompanhada por familiares.
O nervosismo é denunciado por muitos fãs e pais que se recusam a falar com jornalistas, num concerto que se tornou também político. Entre eles encontramos Laila Mendes, de 12 anos, acompanhada pela mãe e pelo irmão mais novo, que vem assistir pela primeira vez a um concerto do seu ídolo. A canção mais aguardada é a Dangerous woman, que dá nome ao mais recente álbum da norte-americana. A mãe, Viviane Mendes, vem "arrastada" pelos filhos. O receio de que a segurança possa estar comprometida não é uma preocupação nem pesou na hora de repensar a presença no concerto depois dos ataques de Manchester. "Somos um país tranquilo", acredita Viviana. "É só chato as filas de acesso, que são muito maiores do que o habitual e nos fazem estar aqui à espera", acrescenta, enquanto a fila se move mais uns metros e cumpre já metade da distância que a separa da entrada. Conta que a empresa responsável pela venda de bilhetes lhes enviou um e-mail a avisar quais os artigos que estão proibidos. Na lista estão mochilas, câmaras fotográficas, correntes metálicas, qualquer objecto pontiagudo (até mesmo guarda-chuvas) ou selfie sticks. "São novos tempos, infelizmente", conclui a mãe.
O olhar atento das dezenas de agentes da PSP destacados para o controlo nos acessos conta com o apoio de pelo menos seis detectores de metais, espalhados à volta das entradas do recinto. Até mesmo a entrada para o parque subterrâneo é cirurgicamente controlada. Todos os carros são parados pelos agentes, que revistam não apenas os condutores e passageiros como até mesmo o interior dos carros. Só depois há ordem para seguir viagem até ao interior – e não são abertas excepções.
A dez minutos das 19h, hora marcada para o início do espectáculo, surgem três motos da PSP, que a uma velocidade lenta circulam em redor do recinto. Às 19h em ponto as filas de espera tinham eficazmente desaparecido e começam a ouvir-se as primeiras notas e gritos no interior. Ao palco sobe o norte-americano KnowleDJ. É para lá que vamos, sem antes passar por novo controlo de bilhetes, ainda antes de se subirem todas as escadas. Lá dentro, a derradeira validação e estamos prontos.
O concerto de Ariana arranca após contagem descrescente. Um vídeo com imagens da cantora é projectado com um relógio que marca dez minutos até à entrada da cantora. A multidão no Meo Arena, que sem esgotar se compôs para ouvir a artista, vai reagindo com demonstrações eufóricas a cada 60 segundos. O contador bate no zero e a histeria é total. Vestida de preto e acompanhada por dez bailarinos, Ariana inaugura o palco com Be alright, que faz parte do alinhamento do disco Dangerous Woman (2016). O espectáculo prossegue num palco sem banda e cumpre a setlist das últimas actuações, que deixava adivinhar que os maiores sucessos estariam guardados para o final.
Um dos momentos especiais do concerto acontece durante o tema Touch it, quando na plateia se levanta uma mensagem: "what we have is love untouchable" (o que nós temos é amor intocável, numa tradução livre), lê-se nas folhas A4 distribuidas pela produção.
A animação volta ao palco com Side to side, cantada num ginásio improvisado que compõe o cenário e a cantora Nicki Minaj projectada entre um espectáculo de luz e cor, onde Ariana pedala – literalmente – numa bicicleta de ginásio, sem perder o folêgo exigido pela batida da música. O ritmo não abranda e logo segue-se a Bang bang, um dos temas mais conhecidos das rádios, cantado com Jessie J. e Nicky Minaj. Love me harder e Problem são outros dos dois êxitos que mais fazem dançar o público, que tenta acompanhar as notas agudas de Ariana, enquanto estende as mãos para os balões cor-de-rosa que caem do tecto.
Da cantora, nem uma palavra sobre Manchester. Mas o trágico incidente não foi ignorado. A duas canções do final, as luzes apagaram-se e o símbolo de luto criado para lembrar as vítimas de Manchester surge sobre um fundo cor-de-rosa. Uma emocionada Ariana canta a sua versão de Somewhere over the rainbow, apresentada no concerto de beneficiência como o tema de homenagem às vítimas do ataque. No ar, as lanternas dos smartphones substituem os clássicos isqueiros e embalam o momento, entre aplausos.
O regresso ao palco acontece com o êxito que baptiza o álbum e digressão, com a cantora vestida num sensual outfit em látex preto.
Horas depois do concerto, Ariana partilhou nas suas redes sociais uma fotografia do espectáculo, acompanhada pela mensagem "Obrigado [sic] Lisbon! Eu te amo", recebida com múltiplos elogios dos fãs portugueses.