A curta visita do Papa Francisco
O Papa Francisco esteve em Portugal, em Fátima, umas horas, pouco menos que um dia, mas foi uma passagem vibrante de emoção e testemunho.
Desde a primeira hora anunciou que viria como peregrino, a Fátima, para rezar com todos os outros peregrinos no centenário deste santuário. Na curta mensagem que nos dirigiu antes de vir, pediu desculpa por não nos visitar, a cada um, na sua aldeia ou na sua cidade. Mas a verdade é que nos visitou a todos, os que quiseram ser visitados, em Fátima, ou nos sítios em que cada um pode estar e acompanhar a sua visita.
Eu não fui a Fátima. Registo naturalmente desta curta passagem a sua preparação cuidadosa, o natural destaque dado à presença de todos os altos dignatários da Igreja portuguesa e das principais figuras do Estado; a presença maciça da comunicação social que permitiu que a todos fosse possível nela participar onde quer que estivessem; o imenso dispositivo de segurança; a presença de um número sem fim de peregrinos de todas as idades, de múltiplas origens, que o quiseram ver e/ou acompanhar com enorme expectativa, com transbordante emoção e alegria.
Mas o que registo particularmente é a interpelação constante que este Papa representa: a força da fé, intensamente partilhada nos momentos de silêncio (extraordinário) de oração com milhares e milhares de peregrinos, na simplicidade da sua presença, na manifestação dos gestos de proximidade, no amor patenteado em cada sorriso, acto e palavra; a força da fé, na confirmação da esperança porque todos somos amados (“todos temos mãe”), na defesa intransigente de “cada um dos deserdados e infelizes a quem roubaram o presente, dos excluídos e abandonados a quem negam o futuro, dos órfãos e injustiçados a quem não se permite ter um passado”, no apelo à acção permanente de derrube dos muros para que se alcancem as periferias, na convocação de todos à construção de uma dinâmica de justiça e misericórdia, na perfilhação de um caminho de serviço aos outros, no apelo à construção da paz.
Em Fátima, tivemos o testemunho idêntico ao da sua presença noutros locais, da sua palavra escrita ou dita. As suas comunicações foram curtas, simples, claras e objectivas, os seus gestos foram discretos, perceptíveis e acolhedores, e como sempre, um apelo a que se ponha em prática o amor e o serviço ao outro.
Ao ouvir alguns depoimentos dos peregrinos presentes em Fátima destaco naturalmente a alegria e a emoção, mas também a novidade de um Papa que finalmente está próximo e que comunica efectivamente com cada um: a criança que refere o apelo da oração, o jovem que sinaliza os actos concretos que têm que ser praticados em nome da justiça, a mulher que refere que o Papa precisa do apoio de todos nós, porque sozinho não consegue. Pequenos sinais de resposta ao apelo que nos fez na homília da missa do dia 13 de que não sejamos uma esperança abortada, gelada no olhar do outro, antes sim esperança dos outros.
Foi uma extraordinária visita em português, foi e é o extraordinário e constante testemunho dum homem empenhado na construção da justiça e da paz.