Câmara da Feira tenta impedir tourada em Lourosa

Empresa montou a arena amovível num terreno privado depois de receber uma notificação do município a informar que não autorizava o uso da estrutura para a realização de touradas.

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Bruno Simoes Castanheira (colaborador)

A Câmara de Santa Maria da Feira chumbou o pedido de licenciamento para a utilização de uma praça amovível numa tourada anunciada para a freguesia de Lourosa. Mesmo assim, a empresa responsável pelo evento, previsto para o feriado de 1 de Maio, instalou a arena num terreno privado e está a vender bilhetes para o espectáculo.

A Suprema Rotação, uma empresa de actividades tauromáquicas sediada em Espinho, pretende organizar o evento num espaço junto à variante Lourosa/Lamas, no concelho de Santa Maria da Feira. Mas o presidente da Câmara, Emídio Sousa, explicou ao PÚBLICO que a Câmara recebeu o pedido de autorização na semana passada e que, na mesma semana, o indeferiu, porque “além de [a tauromaquia] não ter tradição” naquele local, Lourosa não teria interesse em receber touradas. 

Emídio Sousa diz que, no entanto, mesmo depois de ser notificada, a empresa começou a montar a arena amovível naquele local. Um dos organizadores do evento confirmou ao PÚBLICO que a empresa recebeu a notificação da câmara. Mas garante que, apesar de já ter a estrutura “completamente pronta para receber a corrida de touros”, esta só se irá realizar “dentro dos limites da legalidade”.

O presidente da comissão executiva da Federação Portuguesa das Associações Taurinas (ProToiro), Helder Milheiro, disse ao PÚBLICO que a decisão da câmara é de uma "ilegalidade clara" e um "desrespeito pelo direito à cultura dos cidadãos". Helder Milheiro anuncia que a organização não aceita as razões dadas pela câmara para não permitir a utilização da arena, uma vez que "a cultura não depende de haver tradição [no local], ou não haver tradição", acredita. O responsável da ProToiro diz que estão a usar as "vias legais" para recorrer da decisão da autarquia que está apenas "a dar desculpas" por não querer que a tourada se realize, conclui.

Para já, o evento ainda não foi cancelado e o responsável da Suprema Rotação não adiantou que passos pretende tomar para dar a volta ao indeferimento do município, atirando para sexta-feira à noite a possibilidade de novas informações sobre a situação. Noutras situações similares, casos destes têm sido dirimidos em tribunal, com as empresas a tentar suspender, por via de providências cautelares, as decisões administrativas das autarquias. Mas até esta quinta-feira, a Câmara da Feira não tinha sido notificada de nenhuma acção judicial.

O Bloco de Esquerda já comunicou ao município que irá realizar uma manifestação em frente ao local da tourada durante as 14h e as 19h de segunda-feira, disse Joaquim Dias, dirigente em Santa Maria da Feira. Já na semana passada, o BE tinha exigido que a Câmara da Feira proibisse a realização da tourada em Lourosa, onde “nem sequer podem utilizar o argumento da tradição, apenas o do prazer sádico de fazer sofrer e ver sofrer um animal indefeso”, lê-se no comunicado.

Não é a primeira vez que os bloquistas promovem uma manifestação naquele local e com as mesmas queixas. Em Maio de 2012 protestaram também contra uma tourada promovida pelo Lusitânia Futebol Clube, com a autorização da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, num protesto que, na altura, reuniu algumas dezenas de pessoas.

Antes destes protestos contra a tourada que se realizou em 2012, os representantes do BE apresentaram na Assembleia Municipal de Santa Maria da Feira uma moção para que a Câmara “se comprometesse a não apoiar, quer financeiramente quer logisticamente, qualquer espectáculo tauromáquico”. A proposta foi apoiada pelo PCP e pelo PS mas não passou devido aos votos contra do PSD e do CDS.

À margem destas iniciativas, o evento continua a ser divulgado nas redes sociais, prometendo a presença dos cavaleiros Tito Semedo, Sónia Matias, Marcos Tenório, José Carlos Portugal e da praticante Soraia Costa. Os bilhetes estão a ser vendidos por 15 euros. Segundo o site toureiro.pt, as pegas estarão a cargo dos Amadores de Coimbra e Moita e, contactados pelo PÚBLICO, o Grupo de Forcados Amadores da Moita referiu não ter sido até esta quinta-feira contactado pela organização a cancelar a sua participação.

Em Agosto de 2015, a Câmara de Viana do Castelo de Viana do Castelo pediu ao Tribunal Administrativo e Fiscal de Braga (TAFB) que proibisse o funcionamento da arena amovível que iria receber uma tourada, numa escalada de um conflito com a Protoiro - Federação das Associações taurinas, que vinha realizando uma corrida anual, no período das festas da Agonia. O tribunal recusou a providência cautelar  e o evento realizou-se com a Câmara, na altura, a garantir que caso houvesse algum acidente, iria pedir responsabilidades criminais.

Texto editado por Ana Fernandes

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