O Mira tem um espaço cultural novo. Em Campanhã, claro

Sala na Rua do Padre António Vieira, no Porto, abre portas no dia 24 de Abril e vai ter programação mais voltada para as artes performativas.

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O novo espaço do Mira é uma "caixa" revestida a cortiça Adriano Miranda
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João Lafuente, Manuela Matos Monteiro e Hugo Cruz têm mais um desafio em Campanhã Adriano Miranda

Vai chamar-se apenas Mira, porque Manuela Matos Monteiro já chegou à conclusão que é esse o nome que as pessoas identificam e não vale a pena estar a complicar. Os dois armazéns da Rua de Miraflor, em Campanhã, no Porto, que transformaram a vida da zona, com uma programação cultural que não pára desde 2013, têm agora um companheiro novo, na Rua do Padre António Vieira, ali ao lado. É uma sala revestida de cortiça, mais pequena que os dois espaços que Manuela e João Lafuente montaram e têm desenvolvido há quatro anos, e dedicado às artes performativas. Está pronto e apenas a aguardar a inauguração, marcada para o dia 24 de Abril.

A data é tudo menos aleatória. A “festa” da inauguração quer misturar-se com a “festa” do 25 de Abril, por isso, Manuela já tem o trajecto todo montado: “Inauguramos o Mira e depois vamos todos de metro para os Aliados, assistir ao fogo-de-artifício”, diz. Isto, porque, insiste, os espaços ligados às artes que o casal tem alimentado na mais esquecida freguesia do Porto, só fazem sentido enquanto mantêm uma relação aberta com a cidade. E esta, aparentemente, tem recompensado os dois com surpresas.

Uma delas foi este novo espaço, de que Manuela Matos Monteiro diz que não andava à procura. “Não foi uma procura, foi um encontro”, conta. Resumindo: amigos falaram-lhe da casa com dois pisos que estava à venda ali ao pé do espaço Mira e do Mira Fórum. Era uma casa com dois inquilinos no 1.º andar (um casal bastante idoso) e um rés-do-chão degradado e vazio há mais de vinte anos. Disseram-lhes que deviam ir lá espreitar. “Viemos, olhamos para este espaço e percebemos que era óptimo”, conta. Óptimo para mais programação, não para substituir o que já existe na Rua de Miraflor. “Parece um teatro de bolso, pelas dimensões e flexibilidade”, anima-se Manuel. Já o casal do andar de cima ganhou novos senhorios, janelas a estrear e vão ver o telhado substituído no Verão.

Hugo Cruz, responsável pelas Quintas Nómadas do Mira e que vai agora assumir a programação do novo espaço, tem mais para acrescentar sobre o novo Mira: “Temos aqui uma mais-valia incrível, porque é um espaço mais pensado de raiz para as artes performativas, com outro tipo de condições, uma caixa mais fechada para os artistas do corpo poderem trabalhar melhor”, diz. Por ali poderão passar estreias de espectáculos, outros que estejam ainda em construção e que necessitem de público para desenrolar o processo ou simples experimentações. Há também espaço para tertúlias, formação, ensaio, residências e workshops, e nem a fotografia – estrela maior dos armazéns de Miraflor – ficará de fora.

A inauguração vai ser assinalada com música e poesia, a partir das 21h30 do dia 24. “Liberdade” Isto Não É O Que É tem produção de Acúrcio Moniz e Armando Dourado e vai contar com leituras de Ana Borges, Armando Dourado, Celeste Pereira e Luís Monteiro, além da intervenção das Cantadeiras do NEFUP – Núcleo de Etnologia e Folclore da Universidade do Porto.

Até Junho já há mais actividades agendadas e que passam, por exemplo, por um projecto que envolve exposição e performance de Tânia Dinis à volta dos arquivos de família ou a estreia de um espectáculo com reclusas do estabelecimento prisional de Santa Cruz do Bispo, dirigido por Luísa Pinto. Hugo Cruz realça ainda a “relação privilegiada com a ESMAE [Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo]” que permitirá que o Mira seja o palco de vários projectos inovadores. “Eles precisam de um local para experimentar e para nós é uma lufada de ar fresco, porque, geralmente, arriscam muito mais”, diz.

A programação do novo espaço do Mira poderá também ser enriquecida com alguns dos projectos que concorreram à bolsa de apoio à criação artística Criatório, da Câmara do Porto, e que não foram contemplados. Manuela Matos Monteiro diz que este projecto criou “uma dinâmica fantástica”, porque “obrigou os artistas a organizarem os seus projectos”. A juntar a tudo isto, o espaço aguarda o resultado de uma candidatura europeia, envolvendo oito cidades, que permitirá a deslocação de artistas nacionais às cidades parceiras e a presença, no Mira, de artistas internacionais oriundos desses locais. Os resultados devem sair no Verão, pelo que em Setembro, depois das férias, a agitação cultural continua prometida para os lados de Campanhã. Agora, em Miraflor e na rua ao lado.

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