Padeiros luso-venezuelanos preocupados com expropriações na "guerra do pão" de Maduro
Uma nova lei na Venezuela estabelece que o pão deve estar à venda desde a abertura até ao encerramento dos estabelecimentos, que devem deixar "pão preparado para o dia seguinte" ao final de cada dia.
Vários padeiros luso-venezuelanos disseram à Lusa, esta segunda-feira, estarem preocupados com o anúncio, pelo Governo do Presidente Nicolás Maduro, de que as padarias que não produzam pão suficiente para os clientes serão expropriadas ou passarão a ser temporariamente controladas pelo Governo.
Em causa está uma nova disposição legal que exige que as padarias devem ter pão para venda durante o dia, produzindo em quantidade suficiente para que na abertura das portas os clientes já tenham pão disponível para comprar.
Os comerciantes, no entanto, queixam-se de falta de farinha, da paralisação dos moinhos e do controlo administrativo dos preços.
"Primeiro ameaçaram com multas e que encerrariam os estabelecimentos onde houvesse filas de clientes à espera que o pão saísse do forno e agora querem obrigar-nos a fazer algo que não temos como, porque sem farinha ninguém fabrica pão", disse um padeiro madeirense à agência Lusa.
Proprietário de uma padaria no centro-leste de Caracas, o mesmo padeiro explicou que algumas vezes para trabalhar tem que pedir farinha emprestada a outras padarias, porque os fornecedores não têm matéria-prima suficiente e ainda porque as importações são feitas de forma condicionada.
"As coisas aumentaram muito de preço, há pessoas que só almoçam se conseguirem pão, porque o dinheiro não lhes dá para mais e também não há farinha de milho. Vão ter que multar, prender e expropriar todos os padeiros", desabafou.
"Guerra do pão"
Em Fevereiro, Nicolás Maduro anunciou que o governo implementaria um plano para vencer a “guerra do pão”.
Este domingo, o Presidente venezuelano instou as autoridades a actuarem com severidade contra sectores que pretendem obstruir o acesso da população a bens de consumo diário. "Aos especuladores que escondem o pão do povo venezuelano, deve cair-lhes todo o peso da lei. É um plano da direita fascista para fazer que as pessoas se irritem. Vamos com toda a força", disse.
Por outro lado o vice-Presidente da Venezuela, Tareck El Aissami anunciou uma nova norma legal que as 709 padarias de Caracas devem respeitar obrigatoriamente e que estabelece que o pão deve estar à venda desde a abertura até ao encerramento dos estabelecimentos. "Ao finalizar cada dia deverá ficar pão preparado para o dia seguinte. A venda não poderá ser condicionada e muito menos criados mecanismos ilícitos como a cobrança de comissões pelo uso de terminais de pagamento", disse à televisão estatal.
Segundo Tareck El Aissami, qualquer padaria que desrespeite o novo regulamento "será ocupada temporariamente pelo Governo e transferida para os Comités Locais de Abastecimento e Protecção, para fazê-la produzir".
Entretanto, segundo o vice-Presidente venezuelano, a Superintendência de Preços Justos preparou "uma equipa política para cada padaria", que integrará um inspector, garantindo "vigilância e controlo permanente" daqueles estabelecimentos.
Além dos supermercados, a panificação é uma das áreas com forte presença de portugueses na Venezuela, onde vigora, desde 2003, um férreo sistema de controlo cambial que impede a livre obtenção local de moeda estrangeira e obriga as empresas a pedirem ao executivo autorizações para aceder a dólares e importar. Este processo, acusam os empresários, está a tornar-se cada vez mais demorado e limitado.
A 11 de Março último a Federação de Trabalhadores da Farinha (Fetraharina), denunciou a paralisação de dois moinhos de trigo, por falta de matéria-prima, em Caracas. Estes dois moinhos, segundo o presidente da Fetraharina, Juan Crespo, necessitam mensalmente de 30 mil toneladas de trigo para funcionarem.