Paulo Núncio? “Não gosto de ser injusta para com as pessoas”
A líder do CDS faz uma acérrima defesa de Paulo Núncio, elogia o seu trabalho de combate à evasão fiscal e garante que ele foi “a pessoa que mais dificuldade teve em participar no anterior Governo”.
Acha que foi compreendida quando disse que o país deve muito a Paulo Núncio?
Creio que as pessoas percebem o tempo difícil que o Governo anterior teve. A pessoa que mais dificuldade teve em participar nesse Governo foi porventura Paulo Núncio, porque se viu a fazer o contrário do que muitas vezes tinha defendido no que diz respeito à redução da carga fiscal. Recordo-me — e para o CDS foi especialmente doloroso e para o Paulo Núncio foi certamente superlativamente doloroso — de ter defendido sempre uma diminuição dos escalões do IRS para baixar impostos e depois ela ter acontecido para aumentar impostos. Foi muito doloroso. Dito isto, Paulo Núncio fez um trabalho, e creio que esse trabalho hoje também está conhecido, que em muitos casos nós próprios internamente sinalizávamos e pedíamos mais atenção. A verdade é que conseguiu fazer um combate à fraude e à evasão fiscais que antes não existia. Não é trabalho único de Paulo Núncio, foi feito ao longo dos governos, desde Paulo Macedo que as coisas foram tomando esse caminho. Mas Paulo Núncio deu um contributo muito relevante. Nesse aspecto de garantir que as pessoas de facto cumprem com as suas obrigações fiscais e há um alargamento da base e mais gente cumpre, acho que é positivo. Agora, claro que as pessoas sentiram a dificuldade de ter um tempo em que os impostos aumentaram e aumentaram certamente contra a nossa vontade, a do CDS, e também, para ser justa, do PSD. Mas passar de um défice de 11% para 2,98% é obra. Agora acho extraordinário que toda a gente aplauda passar de um défice de 2,98% para 2,1% ou 2,3%, como fez a UTAO.
A pergunta era se achava que tinha sido compreendida pelos portugueses quando fez aquele elogio naquele contexto.
Não gosto de ser injusta e de ir atrás da corrente e do sabor dos tempos. Paulo Núncio fez um trabalho que tem de ser reconhecido. Muitas vezes terá errado, como todos erramos. Com certeza que muitas vezes preferiria ter feito de outra maneira e não teve condições.
Errou ao não publicar as estatísticas dos offshores?
Ele já assumiu que provavelmente deveria ter feito de outra maneira.
Mas deu uma justificação sobre por que é que não o fez.
Há-de ter tido as suas razões, mas também já assumiu que provavelmente deveria ter feito de outra forma.
É compreensível que Paulo Núncio tenha reagido inicialmente à polémica dizendo que a culpa era da Autoridade Tributária e que depois o tenha desdito?
Fez uma declaração quando percebeu que tinha errado. Isso é um problema da memória que trai as pessoas. As pessoas falam sem às vezes irem ver todos os detalhes e quando vão vê-los percebem que se enganaram. Paulo Núncio, apesar de tudo, assumiu que não tinha sido assim, retirou além do mais consequências políticas disso, o que também não é muito vulgar na nossa cena política.
Foi Paulo Núncio que lhe pediu para sair dos órgãos directivos do CDS ou foi a Assunção Cristas que lhe pediu para ele sair?
Foi Paulo Núncio que me falou, dizendo que tinha cometido este erro e que achava que o CDS não deveria estar envolvido e “pagar” por isso e portanto pedia para sair.
Mas reconhece que o caso estava a prejudicar a imagem do CDS?
Não é estar a prejudicar. Paulo Núncio percebeu que era uma coisa que tinha que ver essencialmente com responsabilidades directas suas. Houve alguma confusão, mas creio que, neste momento, está esclarecida com as explicações dadas no Parlamento e que mostraram que houve um sistema informático que falhou. Somos os primeiros, e Paulo Núncio também, a ter todo o interesse em perceber o que se passou, por que é que se passou, doa a quem doer. No CDS, essa posição é absolutamente clara e unânime. Queremos saber tudo. Somos os principais interessados em que se esclareça tudo. Aguardamos o trabalho da Inspecção-Geral de Finanças. Isso ficou claro para todos. Paulo Núncio assumiu essa consequência política, que acho que também vale a pena sinalizar, porque outros fazem muito pior e não retiram consequências políticas das suas atitudes.