Walking Dead em Lisboa: Negan e Daryl fumam no terraço do Ritz e o lado solar do apocalipse

O PÚBLICO falou com Jeffrey Dean Morgan, Norman Reedus e Greg Nicotero horas antes de se encontrarem com os fãs da série no Tivoli. Há centenas de pessoas na fila e promessas de "ebulição" no fim da temporada.

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Jeffrey Dean Morgan hoje em Lisboa FOX Networks Group Portugal
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O trio deu uma conferência de imprensa ao final da manhã após as entrevistas FOX Networks Group Portugal
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Nicotero, Reedus e Morgan no Ritz FOX Networks Group Portugal
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Greg Nicotero gene page/amc
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Jeffrey Dean Morgan

Negan e Daryl fumam um cigarro e contemplam uma rua de Lisboa. Saltaram para um terraço improvisado e a sala do Hotel Ritz reservada para a entrevista ficou lá atrás, porque a nesga de sol desta quarta-feira na Rua Rodrigo da Fonseca é preciosa para os actores Jeffrey Dean Morgan e Norman Reedus. The Walking Dead está em Lisboa com heróis e vilões. E Greg Nicotero, o discípulo de George Romero e perito em zombies que produz a série do género mais vista do mundo, trepa para um murete e contempla como Lisboa e as suas colinas seriam um belo cenário para um filme de zombies – um conselho de John Carpenter.

“Quanto mais alto se está, fica-se preso. É como pilotar um helicóptero, é preciso saber onde podemos despenhar-nos. Como me disse John Carpenter, que de cada vez que chegava a uma cidade pensava logo onde podia aterrar, mas também para onde podia fugir.” O herói Daryl, alías Norman Reedus, pergunta-lhe: “John Carpenter pilota helicópteros? Cool.” Mais abaixo nesta colina da capital estão centenas de pessoas, sobretudo adolescentes e jovens adultos, à espera de Nicotero, de Morgan, de Reedus e do protagonista Andrew Lincoln, ou Rick Grimes para os fãs da série, acampadas à porta do Teatro Tivoli para um encontro que encerrará, ao fim da tarde, a passagem da Walking Dead European Tour por Portugal.

Já na terça-feira à noite Reedus, Morgan e Nicotero (Lincoln só chega esta quarta-feira) foram recebidos por um punhado de fãs no Aeroporto de Lisboa e desde a hora do almoço que havia fãs acampados à porta do Tivoli para garantir lugar no evento de entrada livre. É a manifestação portuguesa, restrita a Lisboa mas com pessoas de várias nacionalidades e de várias localidades, do fenómeno de cultura pop que é The Walking Dead. E da vinda rara ao país, salvo os concertos de algumas estrelas pop e da Comic-Con, de eventos que são já bem comuns no estrangeiro. A expectativa e a vontade “só de estar presente” na mesma sala que os ídolos, como diz Inês Brandão, de 21 anos, medem-se pelo tamanho das filas à porta.   

“Percebo melhor por que é que esta série é um grande sucesso do que percebo por que é que o Big Brother é um grande sucesso”, diz Norman Reedus, cabelo nos olhos, sempre a mexer-se a meio de uma semana de digressão por várias cidades europeias. Os colegas riem-se. Questiona-se "se são as mesmas pessoas” a ver os dois programas. The Walking Dead, a série que há sete anos agrega uma comunidade de fãs em todo o mundo, para surpresa desse mesmo mundo, em torno de uma história de um grupo de sobreviventes do apocalipse zombie, “é sobre união, luta, confiança". "E agora mais do que nunca as pessoas precisam de se apoiar entre si."

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Centenas de fãs à espera

Com encontros com a imprensa a ocupar a manhã e outro evento já na quinta-feira em Madrid, o grupo, que vai mudando conforme a cidade, embarcou numa digressão para promover uma série que está a quatro episódios do final da sua sétima e algo polémica temporada. Os fãs com que o PÚBLICO falou estão imunes às desilusões ou à discórdia. São sobretudo adolescentes e jovens adultos, alguns pediram folga e viajaram até Lisboa para ver, fotografar e talvez fazer perguntas a três dos principais actores da série que, segundo a Gfk, foi a mais vista de 2016 em Portugal. A sessão, com lugar para cerca de mil pessoas, será moderada pelo apresentador Vasco Palmeirim, ele próprio um fã.

Alguns chegaram de manhã bem cedo, há cartazes e muita alegria na fila. É uma série que “conta muito com o choque dos fãs”, diz Filipe, de 18 anos, e que permite “fantasiar o que, na pele deles, faríamos” nas circunstâncias de vida ou morte, bem ou mal que abundam no enredo, completa Duarte Prates, fã do género do horror de 27 anos e que veio de Montargil ainda de madrugada. “O mundo está a mudar, o caos rodeia-nos e o que acho sempre fascinante no mundo real e no que acontece nele agora é como as pessoas lidam com isso”, diz ao PÚBLICO Greg Nicotero. “O estaríamos dispostos a fazer – mataríamos alguém ou deixá-los-íamos viver?”. Este tipo de questão “é relevante hoje e é sempre relevante para a condição humana”.

#thewalkers #TWDEuroTour

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Mas não vai "ter saudades daquilo no apocalipse zombie”, pausa Nicotero, produtor executivo e mestre da caracterização que todos os anos abre a sua “escola de zombies” para formar as centenas de figurantes que preenchem a série. Aquilo é um carro exibicionista que passa com a música bem alta. Jeffrey Dean Morgan ri-se. É o vilão quase caricatural da temporada responsável por muitas das lágrimas dos espectadores e rosto das críticas à série – houve cenas de violência criticadas pelo seu excesso e/ou pela sua facilidade narrativa, tudo por causa do seu emblemático bastão de basebol de arame farpado, “Lucille”, que até o taxista que não vê The Walking Dead cita de nome na viagem de carro até ao Ritz. Morgan era espectador, agora é antagonista e fã. “É uma oportunidade rara contar uma história durante tanto tempo, as séries actualmente não duram assim tanto.”

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Num mundo de live tweeting durante os episódios, de teorias no Reddit e de críticas e escrutínio por todo o lado, essa duração de uma série que era para ser de nicho é ainda mais surpreendente. “Estamos empenhados em contar a história que queremos contar. Às vezes essas histórias são desconfortáveis, perdemos personagens, perdemos pessoas. O facto de as pessoas quererem verbalizar e partilhar a sua angústia é bom porque significa que estabelecemos uma ligação com elas”, reage Nicotero. “É óptimo que os fãs queiram fazer as suas críticas, mas posso garantir que quase nenhum argumentista no planeta vai ser influenciado pelo que lê na Internet.”

Reconstruir a civilização

Nem todos os fãs partiram dos comics de Robert Kirkman que estão na origem da série do canal AMC – e Reedus interpreta uma das poucas personagens nucleares da série que não tem origem na BD, e que ajudou a tornar numa das mais populares e idolatradas. No terraço do Ritz, suspira de agrado com o calor pré-primaveril. Pede uma massagem no pescoço a Nicotero, diz que não lê comentários na Internet. Acredita que o apocalipse tem um lado solar – “Daryl teria sido um mini Merle [o seu irmão, um vilão das primeiras temporadas], um pequeno desordeiro e agora é mais homem, responsável e confiável."

A série tem futuro assegurado por pelo menos mais uma temporada e aproxima-se de “um ponto de ebulição”, admite Reedus. A narrativa parece afastar-se da ideia de sobrevivência diária e começar a reconstruir uma civilização, com várias comunidades em organização. “É uma excelente forma de olhar para as coisas”, responde Nicotero, sem spoilers e referindo o ambiente do episódio mais recente de Walking Dead. “Isso é muito importante no que toca ao sítio para onde a série se dirige."

Dois seguranças estão discretamente na sala e o tempo da conversa escoa-se. Nunca afectando a sua liderança, The Walking Dead viu alguns dos seus espectadores americanos irem por água abaixo neste seu sétimo ano de vida, mas a sua narrativa, esquemática no crescendo para um clímax possivelmente violento, expandiu-se. “Nesta temporada o nosso mundo cresceu”, descreve Greg Nicotero, colaborador de Quentin Tarantino e vencedor de quatro Emmy. O vilão, mais calado atrás dos seus óculos escuros e do seu blusão preto, o Comediante de Watchmen ou o romântico de The Good Wife e Anatomia de Grey, terá um papel menos afável do que a sua presença ao sol de Lisboa. “Como fã da série, eu estava tão ansioso como os outros fãs para que Rick e Daryl se reunissem. Como personagem da série, estou lixado”, ri-se gravemente Jeffrey Dean Morgan. "Negan", a condizer com muitos fãs, "está quase entusiasmado com o que aí vem”.

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