Inspecção não encontrou indícios de doentes sem comida no Hospital dos Capuchos
Leonor Furtado, inspectora-geral das actividades em saúde, critica forma como a bastonária dos enfermeiros tem trazido a público alguns casos de alegados problemas no Serviço Nacional de Saúde.
Já surgiram acções dos protocolos que assinaram recentemente com as ordens profissionais para trabalhar em conjunto?
Sim, muitas. Sempre defendi o trabalho em rede. Desenvolvemos durante o ano de 2015 e 2016 um trabalho muito interessante com a Ordem dos Enfermeiros sobre o trabalho nos cuidados continuados.
Para ver o quê em concreto?
Nas unidades de cuidados continuados trabalham enfermeiros e a Ordem detectou, em algumas circunstâncias, que o trabalho próprio destes profissionais não estava a ser bem compreendido pelas entidades ou bem exercido. Com isso, aumentou o número de denúncias sobre aquele tipo de entidades, as pessoas perderam o medo de dizer o que estava a acontecer.
A IGAS decidiu arquivar o processo relacionado com as declarações da bastonária dos enfermeiros sobre a prática de eutanásia no Serviço Nacional de Saúde (SNS). Não houve factos suficientes?
Já disse o que tinha a dizer sobre esse assunto. Não foi a melhor forma de discutir a eutanásia, de todo. Não é sério e sobre isso não falo mais porque não foi verificado nada do que foi dito. Foi um mau serviço prestado ao doente.
Em Dezembro, a bastonária trouxe a público o caso de um serviço hospitalar em que os doentes teriam estado dois dias sem comer e sem medicação. Nunca disse onde foi mas garantiu que fez queixa à Inspecção-Geral das Actividades em Saúde (IGAS). Em que fase está a averiguação ao Hospital dos Capuchos?
Ela não fez queixa nenhuma. Fui eu própria, em face do que estava a ocorrer, que estranhei que não me tivesse sido comunicada de imediato uma situação dessas e contactei-a. A seguir fizemos uma inspecção e o que posso afirmar é que não resultou comprovada nenhuma das suas afirmações.
Mas então não vos fez chegar a informação?
Fez, depois de eu a ter abordado. Uma situação dessas cria no cidadão uma grande insegurança. Não se pode fazer uma afirmação dessas gratuitamente.
Mas porque é a IGAS não veio a público sossegar os utentes?
A mim compete-me realizar o meu trabalho e dizer à tutela. Nesta fase o caso está na fase de contraditório. A senhora bastonária pode dizer o que quiser, é uma espécie de sindicato. Eu tenho de fazer um trabalho silencioso. O que não pode acontecer é alguém dizer que soube de um caso e depois não pormenorizar, não dizer quem lhe fez chegar a informação. Isto não é sério. Há aqui também uma questão de ética profissional: então as senhoras enfermeiras verificaram uma questão daquelas e não participaram aos seus superiores hierárquicos? Quem é o enfermeiro que está num serviço e que verifica que não tem medicação para dar aos seus doentes e segue feliz e contente? Quanto foi da eutanásia disse-o, e torno a dizer. Este tipo de afirmação que pode gerar alguma insegurança no cidadão devia ser tratado com cautela.