Campanha alerta para riscos de auto-medicação com omeprazol
O medicamento pode ser vendido sem receita, mas está a ser utilizado indevidamente.
O Infarmed vai alertar a população para os riscos da auto-medicação com omeprazol, um fármaco para a úlcera gástrica e a doença do refluxo gastro esofágico, cuja utilização prolongada sem indicação clínica tem "efeitos adversos importantes a prazo".
Em entrevista à agência Lusa, onde revelou que o Serviço Nacional de Saúde vai deixar de comparticipar vários medicamentos das áreas cerebrovascular e osteoarticular, o presidente da Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde (Infarmed), Henrique Luz Rodrigues, manifestou preocupação com a forma como os portugueses estão a consumir este fármaco, da classe dos inibidores da bomba de protões.
Trata-se de um medicamento que pode ser vendido sem receita médica e cuja indicação clínica é a úlcera gástrica e a doença do refluxo gastro esofágico. No entanto, os profissionais de saúde têm alertado para outros usos indevidos, como o simples alívio de sensações de enfartamento. Nos primeiros nove meses deste ano, os portugueses adquiriram mais de 2,1 milhões de embalagens de omeprazol.
Segundo Henrique Luz Rodrigues, esta é uma "preocupação mundial". "As pessoas estão a automedicar-se com um medicamento que tem efeitos adversos importantes a prazo", disse. Para o presidente do Infarmed, a solução não passa tanto pela obrigatoriedade de prescrição médica, mas sim no conhecimento que os doentes devem ter sobre este fármaco e dos riscos que correm ao tomá-lo por iniciativa própria. "Uma das preocupações do Infarmed é fazer essa divulgação", referiu, revelando que este organismo vai avançar com uma campanha de sensibilização, cujo principal objectivo é "melhorar a automedicação".
Henrique Luz Rodrigues alertou para alguns dos riscos da toma prolongada deste fármaco, como a contribuição para a osteoporose nas mulheres. No caso dos doentes com infecções respiratórias, este medicamento "pode contribuir para o agravamento", afiançou.
Apesar de reconhecer que existem outros medicamentos que também devem merecer a atenção do regulador, Henrique Luz Rodrigues disse que esta campanha vai ser a primeira e deverá começar ainda este mês ou em Fevereiro com o objectivo de "alertar para os efeitos adversos e apara as alternativas que possam ser benéficas".
Em 2014, um estudo publicado na revista científica da Associação de Médicos Americanos (JAMA) atribuiu à ingestão prolongada deste fármaco e de outros semelhantes uma carência da vitamina B12. A investigação refere que as pessoas que tomaram diariamente um medicamento do grupo do omeprazol durante dois ou mais anos tinham 65 por cento mais de probabilidades de ter níveis baixos de vitamina B12, que tem um papel importante na formação de novas células, do que os que não ingeriram o fármaco.
Já em 2016, um novo estudo publicado na edição online da JAMA Neurology confirmou a associação entre os inibidores da bomba de protões e um maior risco de demência em pacientes idosos. "Infelizmente, o excesso de prescrição" destes fármacos "é relatado com frequência", disse uma co-autora do estudo, Britta Haenisch, do Centro Alemão de Doenças Neurodegenerativas.