Portugueses tomam cada vez mais omeprazol, medicamento pode ser prejudicial

Fármaco para tratar úlceras gástricas tem riscos se tomado de forma prolongada.

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PÚBLICO
Dados da Consultora IMS Health revelam que no ano passado foram consumidas 2.973.591 unidades de omeprazol, no valor de 13.447.694 euros. Nos últimos anos tem-se assistido a um crescimento acentuado do consumo deste fármaco, de tal forma que, em 2008, a autoridade que regula o setor (Infarmed) decidiu investigar o seu “consumo excessivo”. Apesar do aumento - o crescimento abrandou em 2010 –, o valor gasto na compra destes fármacos baixou significativamente nos últimos anos (totalizou  77.153.835 euros por 2.407.520 unidades, em 2007).

A diminuição do preço, associado a um desconhecimento sobre as verdadeiras indicações deste fármaco, bem como os riscos que podem resultar de uma toma prolongada, são razões apontadas por gastroenterologista Hermano Gouveia para o aumento deste consumo. Este dirigente da Sociedade Portuguesa de Gastroenterologia (SPG) diz que a organização está atenta a este fenómeno e que há algum tempo estuda o seu impacto na saúde, sempre que a toma não tem justificação clínica.

“É um medicamento seguro, mas que está a ser sobreutilizado”, sustentou, afirmando que há quem o use como protector gástrico quando está a tomar outros fármacos, mas sem necessidade, pois nem todos os medicamentos são lesivos para a mucosa do estômago. Além disso, acrescentou, o facto deste fármaco ser um protector gástrico não significa que seja esta a sua indicação médica e muito menos deva ser usado como minimizador de efeitos associados a indisposições gástricas.

Um estudo recentemente publicado na revista científica da Associação de Médicos Americanos atribuiu à ingestão prolongada deste fármaco e de outros semelhantes uma carência da vitamina B12. A investigação refere que as pessoas que tomaram diariamente um medicamento do grupo do omeprazol durante dois ou mais anos tinham 65%  mais de probabilidades de ter níveis baixos de vitamina B12 (que tem um papel importante na formação de novas células) do que os que não ingeriram o fármaco.

Confrontado com este estudo, o Infarmed indicou que “a possibilidade de redução da absorção da vitamina B12 em terapêuticas a longo prazo com omeprazol foi já identificada há vários anos, especificamente actualizada na informação do medicamento desde procedimento de arbitragem a nível europeu em 2010”.

“O omeprazol, como todos os medicamentos bloqueadores de ácido, pode reduzir a absorção de vitamina B12 (cianocobalamina). Isto deve ser considerado em doentes com reservas orgânicas reduzidas ou factores de risco para a absorção reduzida da vitamina B12 na terapêutica a longo prazo”, lê-se na informação de um destes fármacos.

Além desta carência vitamínica, Hermano Gouveia refere outros riscos da toma prolongada de omeprazol, como a osteoporose ou o retardamento de diagnósticos graves, por estes estarem “disfarçados” com o efeito do fármaco. O especialista alerta ainda para o risco acrescido de infecções e, logo, maior incidência de sintomas como diarreias.

Para Hermano Gouveia, o medicamento pode e deve ser utilizado, mas desde que prescrito por médico após avaliação clínica e nunca por iniciativa da pessoa. A este propósito, lembrou que, apesar do omeprazol ser um medicamento de receita médica obrigatória, pode ser adquirido sem necessidade de prescrição em doses mais baixas, o que não diminui o risco.