Obra de restauro de Santa Clara-a-Velha começa no Verão
Águas invadiram monumento de Coimbra por duas vezes,no início de 2016. Intervenção ronda o meio milhão de euros.
O Mosteiro de Santa Clara-a-Velha vai sofrer uma intervenção para recuperar dos efeitos das cheias do início de 2016 que inundaram o espaço. As obras para restaurar o monumento situado na margem esquerda do rio Mondego, em Coimbra, arrancam no início do Verão e têm um custo estimado de meio milhão de euros.
O sistema eléctrico e a conclusão da cerca medieval do mosteiro são apresentados como prioritários pela directora da Direcção Regional de Cultura do Centro (DRCC), Celeste Amaro. A cerca medieval nunca chegou a ser terminada. Há uma parte que “que neste momento tem uma rede”, disse a responsável aos jornalistas nesta quarta-feira, no final da apresentação do plano de intervenção.
Apesar de constituir uma percentagem pequena do perímetro do mosteiro, esta parte tem consequências em situação de cheia. A zona que está virada para o rio, a mais vulnerável a situações de cheia, ficou danificada e “vai ter que ser toda recuperada”. A responsável referiu ainda que a componente eléctrica é dispendiosa, exemplificando com o orçamento de 30 mil euros para arranjar dois elevadores.
Mesmo com as obras a decorrer, não está previsto que o monumento encerre, uma vez que estas vão ser levadas a cabo de forma faseada. Ao mesmo tempo que se faz a intervenção no muro “pode ir acontecendo a conservação e restauro dentro da igreja”, explica Celeste Amaro. Para fazer a intervenção, deverão ser canalizados 500 mil euros que estavam destinados a outros quatro monumentos de Coimbra (Sé Nova, Sé Velha, Igreja do Carmo e Mosteiro de Celas), sujeitos ainda a candidatura a fundos comunitários.
Na sessão de apresentação do plano de obras do mosteiro estiveram Alexandre Alves Costa e Sérgio Fernandez, arquitectos do Atelier 15, que desenhou a recuperação do monumento que abriu ao público em 2009 e responsável pela futura intervenção. Sérgio Fernandez diz que “há uma série de problemas que se tornaram mais evidentes com as inundações do ano passado”, mas também outros causados por trabalhos que não foram feitos de acordo com o que estava planeado. Portanto, a intervenção pretende não só recuperar o espaço dos efeitos das cheias mas também corrigir elementos que foram “significativamente deturpados” do projecto original, acrescentou.
Os objectivos passam também por tentar “minimizar os possíveis efeitos de novas inundações”, afirma o arquitecto, embora ressalve que, se as cheias no rio forem tão “avassaladoras” como há um ano, “nem uma barragem à volta conseguirá evitar todos os males”. “Completar a cerca é uma necessidade”, reforça, apontando também a necessidade de garantir a drenagem da igreja e na sua envolvente e repor a “pavimentação que corresponde ao caminho de traçado medieval”.
A recuperação do edifício do antigo mosteiro e a construção de um núcleo museológico custaram cerca de 15 milhões de euros, mas os arquitectos estiveram ausentes da inauguração de há oito anos em protesto contra “alterações” não autorizadas ao projecto. Agora pretendem a substituição do mobiliário do bar e a remoção de um ecrã que existe no coro da igreja. “É um elemento intrusivo”, considera Sérgio Fernandez, referindo ainda que é preciso valorizar a envolvente do mosteiro, que tem “construções clandestinas” que afectam o conjunto. Um dos desejos do atelier de arquitectos é reconstruir alguns elementos do claustro, como os arcos, para que “se pudesse ter, de forma mais aproximada, a noção da escala deste espaço monumental”.
Na sequência das cheias de 2016, a DRCC encomendou um relatório que abordava a componente hidráulica e que “responsabiliza nitidamente” a EDP pela foram como foram geridas as descargas da barragem da Aguieira. Na altura, tanto DRCC como os municípios responsabilizaram a energética pelas “descargas abruptas”. O documento seguiu, afirma Celeste Amaro, para o ministério da Cultura, que conta que as conversações que teve com a tutela aconteceram quando João Soares era ainda o titular da pasta. A responsável refere que esse assunto está nas mãos do ministério.