Verso e reverso

Dois documentários gémeos que registam personalidades e feitios chave da arte portuguesa do século XX, Cruzeiro Seixas e Mário Cesariny.

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Autografia e As Cartas do Rei Artur são uma espécie de filmes gémeos

Faz todo o sentido que As Cartas do Rei Artur, estreado no Doclisboa de 2016, chegue às salas em “dueto” com uma versão - “restaurada” e muito ligeiramente remontada - de Autografia, e não apenas pelas evidentes ligações de produção (Cláudia Rita Oliveira fez parte da equipa que filmou Mário Cesariny para Autografia, cujo realizador, Miguel Gonçalves Mendes, produziu este documentário sobre Artur Cruzeiro Seixas) nem pela evidente “proximidade”, que não foi apenas de molde artístico, entre as duas figuras. Acima de tudo, Autografia e As Cartas do Rei Artur são uma espécie de filmes gémeos no modo como teimam em registar memórias num país que tão pouca atenção lhes presta, e como iluminam os feitios opostos e complementares dos dois artistas, verso e reverso de uma mesma moeda, a discrição quase invisível de Cruzeiro Seixas nos perfeitos antípodas da performance constante de Cesariny, este uma estrela que ofusca tudo o que o rodeia, aquele uma sombra que se esbate entre a paisagem.

A vantagem, ainda assim, vai para Autografia, cujo andaime de construção e estruturação narrativa está ausente de As Cartas do Rei Artur; Cláudia Oliveira deixa-se de vez em quando levar por efeitos visuais algo desadequados à discrição do seu sujeito.

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