Modi quer aplicar o modelo de Gujarat mas a Índia pode ser demasiado grande
Depois de décadas de proteccionismo económico, os indianos escolheram Modi para promover as reformas que aplicou durante anos no seu estado.
Quando Narendra Modi chegou ao poder, em 2014, os indianos optaram pela mudança. Para trás ficava uma era de hegemonia do Congresso Nacional Indiano, a nível nacional, marcada pela dinastia Gandhi-Nehru. A sua vitória significou a chegada ao poder do nacionalismo hindu defendido pelo partido Barathiya Janata (BJP), mas o voto dos indianos foi motivado sobretudo pela carteira.
Modi venceu, em parte, por causa do desenvolvimento económico que o estado de Gujarat conheceu durante os anos em que o governou, entre 2001 e 2014. Foi durante esta época que o estado na costa ocidental se tornou num dos mais industrializados, num país onde até há pouco tempo a agricultura representava um factor determinante da economia. Este estado representa 7,6% do PIB global da Índia, é responsável por 22% das exportações e tem a mais baixa taxa de desemprego. Durante os 13 anos em que Modi foi ministro-chefe de Gujarat, a economia cresceu em média 10% ao ano, acima da média nacional, diz a Economist.
Com estes resultados, o Gujarat, estado de mais de 60 milhões de habitantes, conseguiu assegurar uma rede eléctrica quase total – algo pouco comum na Índia – e conseguiu atrair o interesse de grandes empresas, como os construtores automóveis Tata Motors e Ford, que ali abriram fábricas nos últimos anos.
As promessas de aplicar o modelo de Gujarat a todo o país foram bem acolhidas pelos indianos, fartos de ouvir o lugar-comum de que a Índia é uma das nações mais promissoras na economia global. As décadas de proteccionismo dos governos do Congresso trouxeram a estagnação e transformaram a Índia num dos países onde é mais difícil fazer negócios – ainda hoje ocupa o 130.º lugar, em 190, no ranking do Banco Mundial, um lugar acima do Camboja.
A revista Forbes conta a história do fundador de uma empresa de software na Índia nos anos 1980 que demorou um ano a conseguir um telefone. Ao fim de três anos conseguiu autorização para importar um computador.
Muito mudou desde então, mas Modi propunha alterações ainda mais profundas, sobretudo na redução da burocracia e na luta contra a corrupção (outro factor para a sua vitória). No ano passado, o crescimento da economia indiana foi de 7,6%, mas as previsões apontam para uma descida no ano fiscal que termina no final de Março. Mas reformar um país da dimensão e complexidade da Índia pode revelar-se uma tarefa para gerações. Cada estado tem leis e regulamentos específicos, que não dependem do Governo federal. No ano passado, o BJP venceu apenas em apenas um dos cinco estados que foram a eleições, o que poderá vir a dificultar a introdução da agenda reformista de Modi.