Número de transplantes em Portugal nunca foi tão alto
Transplantes de fígado e pulmão foram os que registaram maior crescimento desde 2011.
O ano que deixámos para trás foi aquele que registou um maior número de transplantes em Portugal. Nunca se registaram tantas intervenções desta ordem, tendo o Instituto Português do Sangue e da Transplantação (IPST) apontado para um total de 841 órgãos transplantados só entre Janeiro e 20 de Dezembro de 2016. A notícia é avançada, esta segunda-feira, pelo Jornal de Notícias (JN).
Os números cresceram. Nunca se fizeram tantos transplantes, nem nunca existiram tantos dadores. Dados fornecidos pelo IPST mostram que todos os tipos de transplante cresceram, numa análise que agrupa dados entre 2011 e 20 de Dezembro de 2016.
São 410 os dadores que se registaram ao longo do ano de 2016 e, dentro desse número, 78 são dadores vivos. Segundo os dados fornecidos, dos 78 dadores vivos 15 deles são dadores sequenciais (doação que envolve mais do que um dador) e dos 332 dadores falecidos as causa da morte variam entre a morte cerebral (323) e a paragem cardiocirculatória (nove). De falecidos recolheu-se um total de 925 órgãos e desses 763 foram transplantados, o que equivale a uma taxa de utilização de órgãos de 83%.
“A nossa sociedade é muito solidária. Apesar da dor do falecimento do ente querido, sentem que há alguma coisa que continua a dar vida a outras pessoas”, explica Ana França, coordenadora nacional de transplantação, ao Jornal de Notícias.
Em todo o mundo, Portugal está em quarto lugar no que toca à taxa de dadores, que se regista elevada. Antes só a Espanha, que lidera a lista, seguida da Bélgica e depois da Croácia. “Não há praticamente oposição à doação”, diz Ana França. “Quando o doente morre há um esforço da medicina intensiva para tratar os órgãos, com vista a salvar outras pessoas”, refere a coordenadora nacional de transplantação ao mesmo jornal.
Só um doente pode oferecer dois pulmões, um coração, dois rins, um pâncreas e um fígado – que pode ser dividido e transplantado em dois doentes pela capacidade de regeneração. O transplante mais comum em Portugal é o transplante do rim, sendo que só este ano registaram-se 485. Ainda assim, com vista a evolução entre 2011 e 2016 os transplantes que registaram mais crescimento foram os de fígado e pulmão.
Há uma questão essencial no transplante do pulmão que assenta no facto de Portugal ter conseguido travar o fluxo de doentes que se deslocavam a Espanha para realizar essas intervenções. “Recebemos doentes de todo o país. Gastávamos mais de um milhão de euros na transplantação no estrangeiro”, afirmou ao JN José Fragata, director do Cirurgia Cardiotorácica do Hospital de Santa Marta – o único sítio onde se fazem transplantes pulmonares em Portugal.
Em 2016 fizeram-se 26 transplantes de pulmão, mas José Fragata pretende que no próximo ano se façam 30 a 35. A lista de espera para este órgão ronda os 50 doentes, mas o director do serviço diz que as intervenções que têm sido feitas “respondem bem às necessidades do país”.