Zlatan Ibrahimovic, um regime de excepção para um jogador excepcional

Avançado sueco é responsável por 45,8% dos golos do Manchester United na presente edição da Premier League. Aos 35 anos, a gestão cuidada da sua condição física está intimamente ligada a um aliado de longa data: Dario Fort.

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Rebecca Naden/Reuters

Se José Mourinho mantiver esta tarde a confiança cega que tem demonstrado em Zlatan Ibrahimovic e o lançar no “onze” frente ao Sunderland, é altamente provável que um eventual golo do Manchester United tenha a assinatura do sueco. As performances do avançado ao longo da temporada relativizaram o debate em torno da idade e centraram a questão naquilo que verdadeiramente importa, o rendimento. Até ver, a aposta do técnico português no ex-jogador do PSG está mais do que justificada. E a permissão para trazer com ele um “recuperador” particular também.

Os números são o que são, tanto os de contexto (35 anos de idade, feitos em Outubro) como os da produtividade (11 golos em 16 jogos na Premier League, 16 golos em 25 partidas nas diferentes competições). Os números (e aqui fica mais um, 45,8% dos golos do United na Liga são da sua autoria) são a base de sustentação de um avançado de classe mundial, mesmo que o trabalho de “Ibra” vá muito para além do contacto directo com as redes da baliza adversária. Dizem os colegas de treino, em Carrington, que é “muito exigente” nas sessões e que isso se reflecte em campo. Palavra do espanhol Ander Herrera.

A opinião que verdadeiramente importa para o sueco, porém, é a de José Mourinho. E nesse ranking da confiança Zlatan está sentado no topo: “Ele é fenomenal. Não estou surpreendido com as suas grandes exibições e, como referência no ataque, é o único jogador que posso usar. Da forma como habitualmente jogamos, precisamos dele”, desabafou o treinador português, há pouco mais de uma semana.

Para o manager do United, não restam dúvidas hoje sobre as qualidades e o contributo que o sueco pode dar à equipa, tal como não havia dúvidas no início da época, quando não hesitou em resgatá-lo, depois de terminado o vínculo com o PSG. Também neste particular, como em muitos outros temas, Mourinho colide frontalmente com a visão de Louis van Gaal, o antecessor. Para o holandês, a juventude era o caminho e, nesse xadrez, não havia espaço para uma peça com a experiência de Ibrahimovic: “Quando cheguei, tínhamos seis ou sete jogadores acima dos 33 anos. Ninguém se lembra agora porque já não estão cá”, chegou a dizer genericamente, para depois ser mais taxativo. “Ele tem 34 anos [idade na altura das declarações] e já falei sobre a questão da idade e sobre aqueles que dispensei”.

Nunca estiveram em causa a qualidade técnica, a sagacidade no posicionamento ou os índices de finalização de um avançado que deixou sempre marca por onde passou, do Ajax à Juventus, do Inter ao Barcelona, do AC Milan ao PSG. Os pontos de interrogação que se levantavam caíam directamente sobre a sua condição física, sobre a intensidade que ainda conseguia impor em campo, especialmente num campeonato tão exigente como o inglês. Acontece que, mesmo nesse capítulo, “Ibra” não brinca em serviço.

Para este equilíbrio absoluto – e para a forma como tem contornado lesões graves e se tem mantido no activo em permanente competição – muito tem contribuído uma “sombra” chamada Dario Fort. Com uma estreita ligação ao avançado desde os tempos do AC Milan, clube no qual trabalhava quando Ibrahimovic chegou a San Siro, este fisioterapeuta italiano tem acompanhado o sueco desde então. E tem provado ser uma peça imprescindível na engrenagem.

Foi com Fort, de resto, que Ibrahimovic cumpriu um plano particular de preparação pós-Europeu para depois se juntar no momento de forma exigível ao elenco no Manchester United. Em Julho, quando o jogador mais mediático da Suécia chegou a Manchester, o discreto italiano chegou com ele, gozando da “autorização” de José Mourinho para manter o trabalho diário com o número 9 do clube, sem interferir no raio de acção do departamento médico dos “red devils”.

Na prática, o fisioterapeuta que tem acompanhado Zlatan desde 2010 e que faz com ele trabalho de recuperação específico no final das sessões de treino foi o “instrumento” encontrado pelo goleador para o ajudar a prolongar uma carreira que ainda quer estender por uns anos ao mais alto nível. E a receita parece estar a resultar, a julgar pelo desabafo do jogador: “Sinto que tenho 20 anos”, disse há dias.

Não tem. Mas tem a vantagem de contar também com um treinador com jogo de cintura suficiente para compreender que cada caso é um caso e que gerir com pinças o abono de família do United é uma prioridade absoluta. Por isso, Mourinho não tem problemas em admitir que há cuidados especiais a ter com a condição física do sueco: “Sempre soube que, do ponto de vista físico, ele daria uma boa resposta, mas é óbvio que não pode fazer 60 jogos. Tenho de lhe dar descanso”.

E é o que tem feito. Ibrahimovic sentou-se no banco em três dos seis compromissos da fase de grupos da Liga Europa, o mesmo tendo acontecido diante do Northampton, para a Taça da Liga. “Aqui e ali vou encontrar uma forma de o fazer descansar”, promete o treinador, sem esconder que admira as qualidades do jogador, dentro e fora do universo do futebol: “É óptimo com a sua família e tem um estilo de vida muito profissional. É um grande exemplo em tudo e os mais novos não podiam ter uma referência melhor”.

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