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O enigma do tunisino que iludiu a vigilância alemã

As autoridades parecem certas de uma ligação de um cidadão de 24 anos ao atentado de Berlim, mas há muitas incógnitas.

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Reuters/VIA REUTERS

A polícia alemã aumentou durante o dia de quarta-feira o seu grau de determinação em encontrar o homem que suspeita estar ligado ao atentado num mercado de Natal na segunda-feira em Berlim, com o anúncio de uma recompensa e um mandado internacional de captura, quando se juntam coincidências e suposições num caso com mais perguntas do que respostas.

O suspeito de ter levado a cabo o atentado, um tunisino de 24 anos, foi observado pelos serviços de segurança alemães depois de haver indicações de que planeara um assalto para comparar armas automáticas.

Mas após algum tempo não houve mais indícios de actividades criminosas e o suspeito foi retirado da lista a observar, disse uma fonte de segurança à agência Reuters. O jornal de grande circulação Bild dizia que o suspeito, Anis Amri, tinha sido vigiado entre Março e Setembro deste ano.

A polícia, que na véspera libertou um primeiro suspeito, um requerente de asilo paquistanês, começou por pedir informações de uma pessoa de interesse no caso, um tunisino de 24 anos que não seria necessariamente o autor do atentado, com uma fotografia com os olhos desfocados. Passado horas, as fotografias já mostravam todo o rosto e o homem já era declarado suspeito, com uma recompensa de até 100 mil euros. Pouco depois, o aviso oficial: está armado e é considerado perigoso.

Antes, mais uma reviravolta: o suspeito, nomeado após ter sido encontrado um documento em seu nome no camião usado no ataque, teria tido revogado o seu pedido de asilo pelas autoridades alemãs. Mas – segundo o ministro do Interior do estado-federado da Renânia do Norte-Vestefália, onde Amri viveu também no seu tempo na Alemanha – não fora deportado porque a Tunísia primeiro negava que ele fosse cidadão do país e depois não tinha ainda enviado os documentos para a sua deportação. Estes documentos chegaram precisamente esta quarta-feira: dois dias depois do ataque.

Amri teria sido várias vezes preso na Tunísia por uso de drogas, e depois de 2011, ano da revolução na Tunísia, saiu do país, passando três anos em Itália e chegando à Alemanha em 2014.

Cidade calma

Apesar de haver um suspeito de um atentado em fuga, a vida na cidade parecia decorrer como normal. Os mercados da cidade voltaram a abrir, apesar de haver mais segurança.

Num comentário no jornal Die Zeit, notava-se esta vontade de voltar ao normal apesar de tudo. Apesar dos comentários da extrema-direita nas redes sociais, de um ou outro político, “os cidadãos são mais espertos”. Houve vários tributos sentidos, um deles no local do atentado, em que dois coros e cerca de 200 pessoas, de berlinenses de longa data a refugiados, cantaram músicas de Natal e unidade. Alguns cartazes diziam: “não nos vão conseguir dividir”.

Sobre as vítimas também se sabe pouco: seis que foram já identificadas eram alemãs, mas o ministro do Interior, Thomas de Maizière, admitia a hipótese muito provável de que houvesse estrangeiros entre as vítimas – os media falam de duas mulheres, uma italiana e uma israelita, que terão estado no local e que não voltaram a ser vistas desde o atentado.

A primeira vítima identificada foi o condutor original do camião, o polaco Lukasz Urban, de 37 anos, que agora se pensa ter estado vivo até ao final do ataque. Esta terá sido aliás a razão para a libertação do primeiro suspeito pelas autoridades: não tinha sinais de sangue ou vestígios de pólvora na roupa, e o condutor que levou o camião contra a multidão teria de ter marcas da luta ou pelo menos rasto da pólvora do disparo que matou o polaco.

Na véspera também, o Daesh reivindicou o atentado, dizendo que “um soldado do Estado Islâmico”, como se autodenomina o grupo, tinha levado a cabo o ataque. Uma reivindicação sobre a qual não há quaisquer provas, sublinharam várias vezes as autoridades (alemãs e também americanas), e que é semelhante a afirmações como a do ataque contra o clube gay de Orlando, levado a cabo por um "lobo solitário".

A jornalista do diário norte-americano New York Times Rukmini Callimachi, que escreve sobretudo sobre Al-Qaeda e Daesh, acrescentava ainda que raramente o grupo reivindica acções em que o atacante tenha sobrevivido. 

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